Eu era muito jovem
quando fui ao enterro de um ente querido. Quando estava para fechar a sepultura
o padre olhos para nós e disse com convicção:
- “Agora, irmãos, vamos rezar uma ave-maria pelo primeiro de nós que vier a
falecer”.
Todos se olharam pelo canto do olho e rezaram com voz tímida e um certo
contrangimento. Ninguém parecia querer aquela prece para si. Outro dia um pregador
perguntou “à queima roupa” no meio de uma palestra:
- “Quem quer ir para o céu…?”.
Todos levantaram o braço rapidamente. Mas ele completou:
- “Hoje!!!”
Não ficou sequer um de braço erguido. Gostamos da idéia de ir para o céu. Mas
bem que poderia ser daqui a uns 120 anos. A terra tem mil defeitos, mas diante
da morte, até que é um lugar bom pra se viver. Isto não é falta de fé. É a lei
da gravidade que nos prende a este chão e nos faz gostar da vida. Não é normal
gostar de sofrer e desejar morrer. Aliás, quem sente desejo de morrer precisa
procurar um médico, urgente.
Só temos duas certezas absolutas na vida: estamos vivos e um dia vamos morrer.
Mas ninguém sabe quando nem como. Esta certeza incerta nos incomoda e faz
pensar. Melhor do que pensar demais e perder o sono é entregar esta realidade a
Deus pelas mãos de maria. Por isso terminamos esta prece dizendo: “agora e na
hora de nossa morte”. A mãe está conosco a todo momento, especialmente os mais
difíceis.
Esta frase é também uma reafirmação da esperança que não decepciona. Na
salve-rainha rezamos: vita, ducedo et spes nostra, salve. Significa:
vida, doçura e esperança nossa, salve. Aquela que esperou Jesus nove meses nos
ensina a viver a vida como um grande “advento”. A morte não é mais do que o
nosso “natal” definitivo. Morrer é nascer para sempre. Quando a gente nasce,
começa a morrer. A vida é morrer todo dia um pouco. Quando morremos pelo irmão,
aprendemos que isto é amar. Foi isso que Jesus fez e ensinou. Quem aceita
morrer viverá. Quem se apegar a vida… morrerá por antecipação. Por isso o amor
é vida. O salário do pecado é a morte. Quando nascemos, todos fazem festa e o
recém nascido chora. Quando morremos as pessoas choram. Mas o “recém-nascido”
faz festa.
Maria entende muito bem da arte de consolar os que estão morrendo. esteve
silenciosamente ao pé da cruz de seu filho. Nem uma palavra. Apenas olhares.
Quantos que comeram o pão multiplicado, ouviram os belos sermões, viram a água
transformada em vinho, paralíticos curados, cegos, pecadores… tantos. Apenas
João e algumas marias ao pé da cruz. Mas para Jesus não importava tanta
solidão. A mãe estava lá. Colo de mãe é bom a qualquer hora e em qualquer idade. Rezar
a ave-maria é pedir colo para a Mãe de Deus, agora e na hora da nossa morte!
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