E Necessário Proclamar com coragem e alegria o Evangelho da Família.

 
Da gruta de Belém, onde naquela Noite Santa nasceu o Salvador, o olhar volta-se hoje para a humilde casa de Nazaré, para contemplar a Santa Família de Jesus, Maria e José, cuja festa celebramos, no clima festivo e familiar do Natal.
O Redentor do mundo quis escolher a família como lugar do seu nascimento e do seu crescimento, santificando assim esta instituição fundamental de todas as sociedades. O tempo passado em Nazaré, o mais longo da sua existência, permanece envolto por uma grande discrição e dele poucas notícias nos são transmitidas pelos evangelistas. Se, porém, desejamos compreender mais profundamente a vida e a missão de Jesus, devemos aproximar-nos do mistério da Santa Família de Nazaré para ver e ouvir. A liturgia de hoje oferece-nos para isso uma oportunidade providencial.
A humilde casa de Nazaré é para todo o crente, e especialmente para as famílias cristãs, uma autêntica escola do Evangelho. Aqui admiramos a realização do projeto divino de fazer da família uma íntima comunidade de vida e de amor; aqui aprendemos que cada núcleo familiar cristão é chamado a ser pequena «igreja doméstica», onde devem resplandecer as virtudes evangélicas. Recolhimento e oração, compreensão mútua e respeito, disciplina pessoal e ascese comunitária, espírito de sacrifício, trabalho e solidariedade são traços típicos que fazem da família de Nazaré um modelo para todos os nossos lares.
Desejei realçar estes valores na Exortação apostólica «Familiaris Consortio». O futuro da humanidade passa pela família que, nos tempos de hoje, mais do que qualquer outra instituição, foi assinalada por profundas e rápidas transformações da cultura e da sociedade. A Igreja, porém, nunca deixou de fazer chegar «a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimônio e da família, procura vivê-lo fielmente; a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem é injustamente impedido de viver livremente o próprio projeto familiar» (Familiaris consortio, 1). Ela dá conta da sua responsabilidade e deseja continuar, ainda hoje, «a oferecer o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimônio e da família»
Para realizar esta sua ingente missão, a Igreja conta de modo especial, com o testemunho e contribuição das famílias cristãs. Melhor ainda, «perante os perigos e dificuldades que a instituição familiar atravessa, ela convida a um suplemento de audácia espiritual e apostólica, na consciência de que as famílias são chamadas a ser ‘sinal de unidade para o mundo’, e a testemunhar ‘o Reino e a paz de Cristo, para os quais o mundo inteiro caminha’» (ibid. 48).
Os cristãos, recorda o Concílio Vaticano II, atentos aos sinais dos tempos, devem promover «ativamente o bem do matrimônio e da família, quer pelo testemunho da sua vida pessoal, quer pela ação harmônica com todos os homens de boa vontade» (Gaudium et spes, 52). É necessário proclamar com alegria e coragem o Evangelho da família.
Jesus, Maria e José abençoem e protejam todas as famílias do mundo, para que nelas reinem a serenidade e a alegria, a justiça e a paz, que Cristo, ao nascer, trouxe como dom à humanidade.  - Padre Bantu Mendonça - canção nova.


É Natal


Deus se humilha para que possamos aproximar-nos dEle
Quando chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do Menino Jesus. Essas figuras, que nos mostram o Senhor tão humilhado, recordam-me que Deus nos chama, que o Onipotente quis apresentar-se desvalido, quis necessitar dos homens. Da gruta de Belém, Cristo diz a mim e a você que precisa de nós; reclama de nós uma vida cristã sem hesitações, uma vida de doação, de trabalho, de alegria.

Não conseguiremos jamais o verdadeiro bom humor se não imitarmos deveras Jesus, se não formos humildes como Ele. Insistirei de novo: vemos onde se oculta a grandeza de Deus? Num presépio, nuns paninhos, numa gruta. A eficácia redentora de nossas vidas só se produzirá se houver humildade, se deixarmos de pensar em nós mesmos e sentirmos a responsabilidade de ajudar os outros.

É normal, às vezes até entre almas boas, criarem-se conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objetiva. Sua origem está na falta de conhecimento próprio, o qual conduz à soberba, ao desejo de se tornarem o centro da atenção e estima de todos, à preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecer à ânsia de segurança pessoal. E, assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, saborear um imenso júbilo, transformam-se, por orgulho e presunção, em infelizes e infecundas!
 
Cristo foi humilde de coração (cf. Mt 11,29). Ao longo da sua vida, não quis para si nenhuma coisa especial, nenhum privilégio. Começa por permanecer nove meses no seio de Sua mãe, como qualquer outro homem, com extrema naturalidade. O Senhor sabia de sobra que a humanidade necessitava d'Ele com urgência. Tinha, portanto, fome de vir à Terra para salvar todas as almas, mas não precipita o tempo. Ele vem na Sua hora, como chegam ao mundo os outros homens. Desde a concepção até o nascimento, ninguém - a não ser São José e Santa Isabel - percebe esta maravilha: Deus veio habitar entre os homens!

O Natal também está rodeado de uma simplicidade admirável: o Senhor vem sem estrondo, desconhecido de todos. Na Terra, só Maria e José participam da divina aventura. Depois, os pastores, avisados pelos anjos. Mais tarde, os sábios do Oriente. Assim se realiza o fato transcendente que une o céu à terra, Deus ao homem!

Como é possível tanta dureza de coração, que cheguemos a nos acostumar a estes episódios? Deus humilha-se para que possamos nos aproximar d'Ele, para que possamos corresponder ao Seu amor com o nosso amor, para que a nossa liberdade se renda não só ante o espetáculo do Seu poder, como também ante a maravilha da Sua humildade.

Grandeza de um Menino que é Deus. Seu Pai é o Deus que fez os céus e a terra, e Ele ali está, num presépio, quia non erat eis locus in diversorio (Lc 2,7) - porque não havia outro lugar na terra - para o dono de toda a Criação. ('É Cristo que passa', 18)

Nosso Senhor dirige-se a todos os homens para que caminhem ao Seu encontro, para que sejam santos. Não chama só os Reis Magos, que eram sábios e poderosos; antes disso, tinha enviado aos pastores de Belém, não já uma estrela, mas um de seus anjos (Lc 2,9). No entanto, quer uns quer outros - sejam pobres ou ricos, sábios ou menos sábios - devem fomentar na sua alma uma disposição humilde que permita escutar a voz de Deus. ('É Cristo que passa', 33)
"Hoje, brilhará sobre nós a luz, porque nasceu para nós o Senhor!" Eis a grande novidade que comove os cristãos e, por meio deles, dirige-se à humanidade inteira. Deus está aqui! Esta verdade deve tomar posse de nossas vidas. Cada Natal deve ser para nós um novo encontro especial com Deus, que deixe a Sua luz e a Sua graça penetrarem até o fundo da nossa alma. ('É Cristo que passa', 12)

São Josemaria Escrivá
Fundador da Opus Deis
 

Tempo de Natal: nasceu para nós um Salvador!

O amor de Deus invisível se faz visível
O que vamos fazer nestes dias‭ ‬do tempo‭ ‬de Natal,‭ ‬já desde a noite em que Jesus nasceu‭? ‬Voltar os olhos e o coração inteiramente para a figura do Menino envolto nos paninhos que a Mãe trouxe de Nazaré e reclinado‭ ‬sobre as palhas do presépio.‭ ‬Não sentimos‭ ‬desejos de olhar para Ele e Lhe dizer:‭ ‬Meu Senhor e meu Deus‭!‬? Porque esse Menino, que vemos na manjedoura, é Deus feito homem,‭ ‬que vem ao nosso encontro para nos salvar.‭ ‬Tanto amou Deus o mundo‭ – ‬dizia Jesus a Nicodemos‭ – ‬que lhe deu Seu Filho único. O Senhor não enviou o Filho ao mundo para condená-Lo,‭ ‬mas para que o mundo fosse salvo por Ele‭ ‬(Jo‭ ‬3,16‭)‬.

Contemplando este mistério‭ ‬da Encarnação do Verbo,‭ ‬estamos no‭ ‬coração da nossa fé cristã.‭ ‬É um mistério que nos dá a‭ ‬certeza de que Deus é amor e nos quer com loucura.‭ ‬Essa é, ‬precisamente, ‬a certeza que fazia o apóstolo São João exclamar:‭ "Deus é amor‭!" ‬Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco:‭ ‬em nos ter enviado o Seu Filho únicopara que vivamos por Ele‭ ‬(cf. 1‭ ‬Jo‭ ‬4,8-9‭)‬.

Sim,‭ ‬no Natal,‭ ‬o‭ ‬amor de Deus invisível se faz visível.‭ ‬Está aqui,‭ ‬junto de nós,‭ ‬no presépio. São João extasiava-se com‭ ‬essa maravilha da bondade de Deus,‭ ‬que é a vinda‭ ‬do Verbo encarnado,‭ ‬e dizia:‭ 'Ninguém jamais viu a Deus.‭ ‬O Filho único,‭ ‬que está no seio do Pai,‭ ‬foi quem o revelou' ‬(Jo‭ ‬1,18‭)‬.‭ ‬E,‭ ‬cheio de júbilo por tê-Lo conhecido,‭ ‬por ter convivido com Ele‭ ‬durante três anos‭ ‬e ter experimentado o Seu carinho,‭ ‬exclamava:‭ 'Nós o vimos com os nossos olhos,‭ ‬nós o contemplamos,‭ ‬nós o ouvimos,‭ ‬nós o tocamos com as mãos…‭!' (cf.‭ ‬1‭ ‬Jo‭ ‬1,1-3‭)‬ Por experiência própria,‭ ‬podia‭ ‬afirmar:‭ 'Aquele que não ama não conhece a Deus,‭ ‬porque Deus é Amor' (‬1‭ ‬Jo‭ ‬4,8‭)‬.

Jesus é Deus feito homem,‭ ‬que nos ama com toda a força do seu amor divino e humano.‭ Seu amor é grande e verdadeiro, tem os dois sinais claros da autenticidade.‭ ‬Primeiro,‭ ‬é uma doação plena.‭ ‬Amor que não se dá não é amor.‭ ‬Mas não é um‭ ‬dar-se qualquer,‭ ‬é uma doação que visa o‭ ‬nosso bem.‭ ‬E aí está o segundo sinal de autenticidade:‭ ‬todo o verdadeiro amor,‭ ‬ao dar-se,‭ ‬quer bem,‭ ‬ou seja,‭ ‬dá-se procurando o‭ ‬bem da pessoa amada.

E qual é o‭ ‬bem,‭ ‬quais são os‭ ‬bens‭ ‬que Jesus nos traz‭? ‬Todos os bens‭! ‬A vida verdadeira,‭ ‬a vida eterna‭! ‬A felicidade que não poderá morrer‭! ‬Nessa infinita riqueza de bens divinos,‭ ‬podemos distinguir‭ ‬especialmente‭ ‬três grandes tesouros.‭ ‬O tesouro da‭ ‬verdade,‭ ‬que Ele nos ensina‭;‬ o tesouro do‭ ‬caminho‭ ‬do Céu,‭ ‬que Ele abre e nos mostra‭; ‬e o tesouro da‭ ‬vida nova dos filhos de Deus,‭ ‬que Ele ganha para nós na cruz.‭
Tudo isso resumiu-o Jesus numa só frase:‭ ‬Eu sou o Caminho,‭ ‬a Verdade e a Vida‭ ‬(Jo‭ ‬14,6‭)‬.‭ ‬Será que captamos a importância dessas palavras‭?‬ Tentemos arrancar, do fundo delas, a grande luz que encerram,‭ ‬meditando um pouco sobre o seu significado. Jesus nos traz,‭ ‬primeiro,‭ ‬a luz da‭ verdade.‭ ‬Vem-me à cabeça agora o pai de São João Batista,‭ ‬Zacarias‭ – ‬o marido de Santa Isabel‭ –‬,‭ ‬que profetizou o nascimento de Jesus de uma maneira muito significativa.‭ ‬Dizia que‭ ‬a ternura e a misericórdia do nosso Deus nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente,‭ ‬que há de iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz‭ (‬Lc‭ ‬1,78-79‭)‬.‭ ‬Desde antes de nascer,‭ ‬Jesus já é anunciado como o Sol,‭ ‬como a Luz,‭ ‬a Luz da Verdade,‭ ‬que nos guiará para‭ ‬o bem e para‭ ‬a paz,‭ ‬para a paz terrena e eterna.

Isso‭ ‬é‭ ‬o que‭ ‬também‭ ‬diz São João no prólogo do seu Evangelho. ‬Ele era a verdadeira Luz,‭ ‬que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. A luz resplandece nas trevas e estas não a compreenderam‭ ‬(cf.‭ ‬Jo‭ ‬1,9-11‭)‬.‭ ‬Que pena se nós não a recebêssemos! Que pena se nós não a compreendêssemos‭! ‬Porque a verdade que Ele nos traz não é uma verdade qualquer, mas a única‭ ‬verdade-verdadeira,‭ ‬a única verdade que salva:‭ ‬a verdade sobre Deus,‭ ‬sobre o mundo e sobre o homem.‭ ‬Só ela pode dar sentido à nossa vida.

Utilizando-nos de uma comparação do próprio Cristo,‭ ‬podemos dizer‭ ‬que a verdade ensinada por Ele é como a semente na mão do semeador.‭ ‬Pode cair nas pedras ou entre espinhos e morrer‭; ‬ou pode cair numa boa terra e dar fruto‭ (‬cf.‭ ‬Mt‭ ‬13,‭ ‬4‭ ‬ss.‭)‬.‭ ‬Depende de nós. Se procurássemos acolher essa verdade com carinho,‭ ‬seria uma maravilha,‭ ‬seríamos‭– ‬no empenho por edificar a nosa vida‭ –‬ como o construtor de que Jesus falava:‭ ‬'Aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente,‭ ‬que edificou a sua casa sobre a rocha' ‬(Mt‭ ‬7,24‭)‬.‭ ‬Nem a chuva,‭ ‬nem o vento,‭ ‬nem as tormentas conseguiriam derrubá-la.‭ ‬Porque essa verdade nos daria‭ – ‬como diz a Bíblia‭ – ‬um‭ ‬amor forte como a morte' (cf. ‬Cânticos ‬8,6‭)‬.

Se continuarmos a olhar para Jesus Menino,‭ ‬veremos que‭ ‬Ele nos‭ ‬diz também,‭ ‬como‭ ‬já mencionávamos, "Eu sou o Caminho".‭ ‬Toda a vida d'Ele é exemplo e caminho para nós,‭ ‬é como a sinalização luminosa da estrada que conduz a Deus,‭ ‬o roteiro que devemos seguir para nos realizarmos nesta terra e na eternidade.

É por isso que Jesus diz,‭ ‬muitas vezes:‭ 'Segue-me‭!'. Compara-nos às ovelhas que Ele,‭ ‬o Bom Pastor,‭ ‬conduz entre brumas e perigos até‭ ‬o pasto que alimenta e‭ ‬o‭ ‬refúgio seguro.‭ ‬Ele é o Bom Pastor que‭ ‬caminha adiante delas,‭ ‬adiante de nós,‭ ‬indicando-nos o caminho‭; ‬mais:‭ ‬sendo,‭ ‬com o Seu exemplo,‭ ‬Ele próprio o caminho‭. Acontece que o caminho de Cristo é,‭ ‬essencialmente,‭ ‬o‭ ‬caminho do amor.‭ ‬Caminhai no amor‭ ‬– escrevia São Paulo‭ –‬,‭ ‬segundo o exemplo de Cristo,‭ ‬que nos amou e por nós se entregou (Ef‭ ‬5,2‭)‬.

O amor que é‭ ‬caminho é o amor autêntico,‭ ‬com maiúscula,‭ ‬o Amor que‭ ‬vem de‭ ‬Deus‭ ‬(1‭ ‬Jo‭ ‬4,7‭)‬.‭ ‬Não é fumaça cor de rosa,‭ ‬nem é uma teoria ou só uma paixão que arde e se evapora; é um amor vivo,‭ ‬sincero e realista,‭ ‬que se‭ ‬manifesta,‭ ‬no dia a dia,‭ ‬na prática das‭ ‬virtudes que são como o selo de garantia do amor.

Por isso,‭ ‬aquele que ama esforça-se por ser‭ – ‬com a graça de Deus‭ – ‬generoso,‭ ‬compreensivo,‭ ‬dedicado,‭ ‬paciente‭; ‬e‭ ‬também‭ ‬por ser constante,‭ ‬por ser forte na adversidade,‭ ‬por ser sóbrio e moderado nos prazeres‭; ‬por ser caridoso,‭ ‬gentil,‭ ‬prestativo‭; ‬por ser justo,‭ ‬discreto; ‬por dar a Deus cada dia mais amor,‭ ‬e aos irmãos também.‭ ‬Em suma,‭ ‬por levar a sério a prática das virtudes humanas e cristãs.

Nunca percamos de vista: aquele que‭ ‬ama‭ ‬faz,‭ ‬age,‭ ‬não fica só pensando e sentindo.‭ ‬É exatamente isso o que‭ ‬nos diz São João,‭ ‬o grande intérprete do amor de Cristo:‭ ‬"Meus filhinhos,‭ ‬não amemos com palavras nem com a língua,‭ ‬mas por atos e em verdade" ‬(1‭ ‬Jo‭ ‬3,18‭)‬.‭ ‬E é claro que isso se aplica tanto ao amor a Deus como ao amor ao próximo.‭ ‬Como diz‭ ‬o mesmo‭ ‬São João:‭ "Temos de Deus este mandamento:‭ ‬quem ama a Deus,‭ ‬ame também a seu irmão" ‬(1‭ ‬Jo‭ ‬4,21‭)‬. (fonte:
Padre Francisco Faus http://www.padrefaus.org/)

Maria, a Mãe da Misericórdia


Para aprender a misericórdia, conheçamos a escola de Jesus Cristo

Jesus Cristo disse aos Seus discípulos no Sermão da Montanha: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

A Palavra de Deus nos exorta a sermos misericordiosos, pois o Pai é misericordioso e, em Jesus Cristo usou de misericórdia para conosco. Somos chamados a usar dela também para com nossos irmãos, para com nossos amigos e inimigos. O julgamento pertence a Deus, por isso, não devemos julgar, mas perdoar as pessoas que nos ofenderam, maltrataram-nos e nos fizeram o mal.

Essa é a vontade do Pai a nosso respeito: que amemos os nossos inimigos e rezemos pelos que nos perseguem (cf. Mt 5,44). Ele nos convida a amar e a perdoar as pessoas que nos humilharam, desprezaram-nos e nos maltrataram. Porém, percebemos que, muitas vezes, não damos conta de amar e perdoar as pessoas que nos fizeram mal, que nos prejudicaram. Então, como podemos dar conta de exercer a misericórdia com aqueles que nos maltratam?
Para aprender a misericórdia, conheçamos a escola de Jesus Cristo, entremos na escola onde a Virgem Maria é a formadora, a educadora por excelência. Ela vai nos ajudar a vencer os nossos limites, nos ensinar a amar e a perdoar até mesmo os nossos inimigos, pois Nossa Senhora ensinou Seu Filho, mas também aprendeu de Jesus Cristo o amor, o perdão, a misericórdia, até mesmo para com os inimigos. Sendo assim, mais do que qualquer outra pessoa ela aprendeu a amar e a perdoar até mesmo aqueles que maltrataram, humilharam e mataram Seu Filho Jesus Cristo.

A Virgem Maria é a nossa mãe, aquela que nos ensinou, mas também aprendeu de Jesus Cristo. O caminho de humilhação, de perseguição, de morte de seu Filho, fizeram de Maria a mulher forte, a qual perseverou em oração, juntamente com os apóstolos e discípulos de Jesus (cf. At 1,14). Ela intercedeu pela Igreja nascente e continua a interceder por nós. Mais ainda, ela nos ajuda nesse caminho de crescimento no amor e na misericórdia, gerando, pelo Espírito, seu Filho Jesus Cristo em nós. Consagremo-nos a Ele pelas mãos desta boa mãe e mestra, para que, um dia, alcancemos a eternidade junto do Pai no Reino dos Céus.
fonte - canção nova.

Deus Realiza o Impossível na Vida dos homens de Fé


Por exercer as funções sacerdotais, Deus olhou misericordiosamente para as orações de Zacarias e cumpriu a promessa aos homens justos e tementes a Ele. Esse casal, Zacarias e Isabel, vivia uma vida que, para Deus, era correta, pois obedeciam, fielmente, todas as leis e mandamentos do Senhor.
Por meio do anjo Gabriel, extraordinariamente, Deus anuncia o nascimento de João Batista, pois Isabel era já de idade avançada. Tocou-lhe exercer o seu ministério enquanto oferecia o sacrifício divino pelos pecados do povo e também dos seus.
Dentro desta dinâmica, Deus resolve atender, dentre outros, os pedidos do próprio Zacarias. Conceder-lhe um filho que, por providência divina, nasce de uma mulher da estirpe de Aarão, cujo nome é Isabel. Pela razão aludida acima, Deus realiza o impossível na vida dos homens de fé e, se aparece alguma dúvida apesar da fidelidade, Ele manifesta o seu poder sobrenatural.
O povo, rezando do lado de fora, esperava que Zacarias saísse depois do incenso. Enquanto isso, o anjo de Deus se aproxima e conversa com Zacarias. E o conteúdo da conversa é: “Não tenha medo, Zacarias, pois Deus ouviu a sua oração! A sua esposa vai ter um filho, e você porá nele o nome de João”.
Neste filho se vê, antecipadamente, o anúncio do nascimento do Messias, o Emanuel. Ele será mandado por Deus como mensageiro e será forte e poderoso como o profeta Elias. Ele fará com que pais e filhos façam as pazes e que os desobedientes voltem a andar no caminho certo. Ele, João Batista, preparará o povo de Israel para a vinda do Senhor.
Para Lucas, as aparições de anjos são o sinal de que caíram as antigas barreiras entre o céu e a terra, ou, pelo menos, estão por cair, como neste caso. A iniciativa parte de Deus, porque tudo o que é grande vem d’Ele.
Zacarias, ante a impossibilidade humana, expressa a pouca fé nas coisas altas e profundas. Ainda não sentiu que para Deus nada é impossível e que Seu poder começa onde a fraqueza humana mostra os limites de suas possibilidades. Como resultado do seu comportamento, ele fica mudo até que a profecia se cumpra, porque para Deus nada é impossível. Tanto tempo, muita demora e, como agravante, aparece mudo. O povo reage desesperadamente. Como se comunicar com ele? O que será isso? Que milagre terá acontecido? Por inspiração divina, chegam à conclusão de que Zacarias teria tido uma visão. Deus lhe teria falado.
Caríssimos irmãos, assim como a primavera traz belas e perfumadas flores, o Advento nos traz vida. Somos chamados com todo o rigor à conversão, à mudança de nossa vida. É preciso que mudemos, de verdade, o nosso modo de agir e penetremos mais firmemente no caminho do Reino. Se João Batista nos chama à conversão, Jesus, por sua vez, chama-nos e convida a tomar parte no Reino. Se quisermos, verdadeiramente, encontrar Deus, temos de nos converter profundamente.
Acolhamos a voz do anjo que nos anuncia a chegada do Deus menino. Tenhamos uma fé firme e forte, que supere a de Zacarias, pois ele foi norteado somente pela esperança profética. Quanto a nós, sabemos e temos provas concretas da presença de Deus no mundo.
Padre Bantu Mendonça (canção nova)

Catequese de Bento XVI: A fé de Maria - 19/12/2012


Na última catequese de 2012, nesta quarta-feira, 19, o Papa Bento XVI centrou suas reflexões sobre a fé de Maria a partir do mistério da Anunciação. Ele destacou a humildade e a obediência de fé da Virgem Maria.
: NA ÍNTEGRA: Catequese de Bento XVI – 19/12/2012 
 
Queridos irmãos e irmãs,

No caminho do Advento a Virgem Maria ocupa um lugar particular como aquele que de modo único esperou a realização das promessas de Deus, acolhendo na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus, em plena obediência à vontade divina. Hoje, gostaria de refletir brevemente convosco sobre a fé de Maria a partir do grande mistério da Anunciação

Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou”, “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é convosco” (Lc 1, 28). São estas as palavras – reportadas pelo evangelista Lucas – com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria. À primeira vista, o termo chaîre, “alegra-te”, parece uma saudação normal, como era usual no âmbito grego, mas esta palavra, se lida a partir da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. Este mesmo termo está presente quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento e sempre como anúncio de alegria pela vinda do Messias (cfr Sof 3,14; Gl 2,21; Zc 9,9; Lam 4,21). A saudação do anjo a Maria é também um convite à alegria, a uma alegria profunda, anuncia o fim da tristeza que há no mundo diante das limitações da vida, do sofrimento, da morte, da maldade, da escuridão do mal que parece obscurecer a luz da bondade divina. É uma saudação que marca o início do Evangelho, da Boa Nova.

Mas por que Maria é convidada a alegrar-se deste modo? A resposta está na segunda parte da saudação: “o Senhor está convosco”. Também aqui para compreender bem o sentido da expressão devemos dirigir-nos ao Antigo Testamento. No Livro de Sofonias encontramos esta expressão “Alegra-te, filha de Sião... Rei de Israel é o Senhor em meio a ti... O Senhor, teu Deus, em meio a ti é um salvador poderoso” (3,14-17). Nestas palavras há uma dupla promessa feita a Israel, à filha de Sião: Deus virá como Salvador e habitará em meio ao seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo escolhido por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; nela se cumpre a esperada vinda definitiva de Deus, nela toma morada o Deus vivente.

Na saudação do anjo, Maria é chamada “cheia de graça”; em grego o termo “graça”, charis, tem a mesma raiz lingüística da palavra “alegria”. Também nesta expressão esclarece-se a fonte de alegria de Maria: a alegria provém da graça, provém, isso é, da comunhão com Deus, do ter uma conexão tão vital com Ele, de ser morada do Espírito Santo, totalmente moldada pela ação de Deus. Maria é a criatura que de modo único abriu a porta a seu Criador, colocou-se em suas mãos, sem limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; está em atitude de escuta, atenta a acolher os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida em uma história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o cerne da sua existência. E se submete livremente à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.

O Evangelista Lucas narra a história de Maria por meio de um fino paralelismo com a história de Abraão. Como o grande Patriarca é o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus a sair da terra onde morava, da sua segurança, para iniciar o caminho para uma terra desconhecida e possuindo somente a promessa divina, assim Maria confia com plena confiança na palavra que lhe anuncia o mensageiro de Deus e se torna modelo e mãe de todos os crentes.

Gostaria de destacar um outro aspecto importante: a abertura da alma a Deus e à sua ação na fé inclui também o elemento das trevas. A relação do ser humano com Deus não apaga a distância entre o Criador e a criatura, não elimina o que afirma o apóstolo Paulo frente à profundidade da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos” (Rm 11,33). Mas propriamente aquele que – como Maria – está aberto de modo total a Deus, vem a aceitar a vontade divina, também se é misterioso, também se sempre não corresponde ao próprio querer e é uma espada que transpassa a alma, como profeticamente dirá o velho Simeão a Maria, no momento no qual Jesus é apresentado no Templo (cfr Lc 2,35). O caminho de fé de Abraão compreende o momento de alegria pela doação do filho Isaac, mas também o momento de treva, quando precisa ir para o monte Moria para cumprir um gesto paradoxal: Deus lhe pede para sacrificar o filho que havia acabado de lhe dar. No monte o anjo lhe ordena: “Não estenda a mão contra o menino e não lhe faça nada! Agora sei que tu temes a Deus e não me recusaste o teu filho, o teu unigênito” (Gen 22, 12); a plena confiança de Abraão no Deus fiel às promessas não é menor mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de acolher. Assim é para Maria, a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também pelas trevas da crucificação do Filho, para poder chegar à luz da Ressurreição.

Não é diferente também para o caminho de fé de cada um de nós: encontramos momentos de luz, mas encontramos também momentos no qual Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa, àquilo que nós queremos. Mas quanto mais nos abrimos a Deus, acolhemos o dom da fé, colocamos totalmente Nele a nossa confiança – como Abraão e como Maria – tanto mais Ele nos torna capazes, com a sua presença, de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. Isso, porém, significa sair de si mesmo e dos próprios projetos, para que a Palavra de Deus seja a luz que guia os nossos pensamentos e as nossas ações.

Gostaria de concentrar-me ainda sobre um aspecto que emerge nas histórias sobre a Infância de Jesus narrada por São Lucas. Maria e José levam o filho a Jerusalém, ao Templo, para apresentá-lo e consagrá-lo ao Senhor como prescreve a lei de Moisés: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (cfr Lc 2,22-24). Este gesto da Sagrada Família adquire um sentido ainda mais profundo se o lemos à luz da ciência evangélica de Jesus aos 12 anos, depois de três dias de busca, é encontrado no Templo a discutir entre os mestres. As palavras cheias de preocupação de Maria e José: “Filho, por que nos fez isso? Teu pai e eu, angustiados, te procurávamos”, corresponde à misteriosa resposta de Jesus: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? (Lc 2,48-49). Isso é, na propriedade do Pai, na casa do Pai, como o é um filho. Maria deve renovar a fé profunda com a qual disse “sim” na Anunciação; deve aceitar que na precedência havia o Pai verdadeiro e próprio de Jesus; deve saber deixar livre aquele Filho que gerou para que siga a sua missão. E o “sim” de Maria à vontade de Deus, na obediência da fé, repete-se ao longo de toda a sua vida, até o momento mais difícil, aquele da Cruz.

Diante de tudo isso, podemos nos perguntar: como pode viver Maria este caminho ao lado do Filho com uma fé tão forte, também nas trevas, sem perder a plena confiança na ação de Deus? Há uma atitude de fundo que Maria assume diante a isso que vem na sua vida. Na Anunciação Ela permanece perturbada escutando as palavras do anjo – é o temor que o homem experimenta quando é tocado pela proximidade de Deus - , mas não é a atitude  de quem tem medo diante disso que Deus pode querer. Maria reflete, interroga-se sobre o significado de tal saudação (cfr Lc 1,29). O termo grego usado no Evangelho para definir este “refletir”, "dielogizeto", refere-se à raiz da palavra “diálogo”. Isto significa que Maria entra em íntimo diálogo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas se concentra, a deixa penetrar na sua mente e no seu coração para compreender isso que o Senhor quer dela, o sentido do anúncio. Um outro aceno para a atitude interior de Maria frente à ação de Deus o encontramos sempre no Evangelho de São Lucas, no momento do nascimento de Jesus, depois da adoração dos pastores. Afirma-se que Maria “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19); em grego o termo é symballon, poderíamos dizer que Ela “tinha junto”, “colocava junto” no seu coração todos os eventos que estavam acontecendo; colocava cada elemento, cada palavra, cada fato dentro de tudo e o comparava, o conservava, reconhecendo que tudo provém da vontade de Deus. Maria não para em uma primeira compreensão superficial disso que acontece na sua vida, mas sabe olhar em profundidade, deixa-se levar pelos acontecimentos, os elabora, os discerne, e adquire aquela compreensão que somente a fé pode garantir. É a humildade profunda da fé obediente de Maria, que acolhe em si também aquilo que não compreende do agir de Deus, deixando que seja Deus a abrir a mente e o coração. “Bem aventurada aquela que acreditou no cumprimento da palavra do Senhor” (Lc 1,45), exclama a parente Isabel. É propriamente pela sua fé que todas as gerações a chamarão bem aventurada.

Queridos amigos, a solenidade do Natal do Senhor que em breve celebraremos, convida-nos a viver esta mesma humildade e obediência de fé. A glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece em uma cidade famosa, em um suntuoso palácio, mas toma morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, sempre silenciosa, da verdade e do amor. A fé nos diz, então, que o poder indefeso daquele Menino no fim vence o rumor dos poderes do mundo.
(Fonte: Noticias Canção Nova)


A Oração - Ave Maria





Esta é com certeza uma das orações mais populares do mundo. Os cristãos rezam a ave-maria várias vezes todos os dias. Quem não conhece a oração do terço, onde repetimos em cada mistério dez ave-marias, enquanto contemplamos os momentos mais marcantes da vida de Cristo? Aprendemos esta prece no colo da mãe. Os pais ficam satisfeitos em ver seus filhos pequenos repetindo de cor: ave, Maria, cheia de graça…

Mas qual o sentido de cada uma das palavras desta prece que atravessou os séculos? Nesta série de postagens, meditaremos sobre uma palavra da ave-maria. Em 2002 fizemos isso com a oração do pai-nosso. Depois reunimos todos os artigos em um livro chamado “O Pai Nosso, Tim-tim por Tim-tim”. Em 2003 comentamos as invocações da Ladainha do Coração de Jesus. Também já publicamos um livro com estes artigos, pela Edições Loyola.

Agora chegou a vez de comentar a ave-maria. De onde viria esta primeira palavra? Foi retirada da saudação do anjo Gabriel à Virgem Maria, naquele dia memorável em que o céu conversou com a terra na casinha de Nazaré. O diálogo está registrado logo no início do evangelho de Lucas (1,26). A primeira palavra que o anjo diz é “ave”, ou melhor, “haire”. É que Lucas escreveu seu evangelho em grego, língua muito popular na época. Haire é grego. Ave é a tradução de “haire” para o latim, outra língua utilizadas pelos povos de então. Mas o que significam estas palavras? É uma saudação como hoje poderíamos diz: Oi, alô, Hei, Salve, Tudo bem, Olá… Mas “Haire” literalmente significa “Alegra-te”. A primeira palavra do céu à menina de Nazaré é um anúncio de alegria. Algumas línguas preferiram esta tradução literal para a oração: Alegra-te Maria, o Senhor é contigo. É o caso do francês: Je vous salue Marie

É muito bonito pensar que a mensagem do céu não começa com uma repreensão, com uma lição de moral ou com uma ordem autoritária. Tudo começa com um anúncio de alegria. Esta é a grande vontade de Deus; que a humanidade viva na paz, na justiça, na fraternidade, na alegria.

Há um outro detalhe muito interessante. Há pouco tempo estive em Portugal e fui convidado a rezar um mistério do terço na capelinha das aparições em Fátima. Rezeri como rezam todos os brasileiros: Ave Maria…, com o acento forte no a de ave. Todos me olharam com um ar estranho. Depois alguém me questionou|: você reza ave ou ave, com o acento no “e”. Só então fiquei sabendo que em Portugal se reza ave Maria. Com isso se evidencia a relação entre Eva e Ave. Ou seja, o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria (Santo Irineu, séc. II). Rezemos com alegria…



Avé Maria, olhando tua vida meu coração exulta de alegria. Teu sim nos mereceu o Salvador. Como não cantar: minha alma engrandece o Senhor!!! Em teu colo de mãe quero cantar com os milhões de irmãos e irmãs que foram gerados em teu ventre: ave Maria…mãe de Jesus!

Cheia de graça


A Ave-Maria é uma das orações mais conhecidas e populares do Cristianismo. É uma prece bíblica. Na verdade, repetimos aquilo que o Anjo disse à Maria no dia da Anunciação e está registrado no Evangelho de São Lucas, logo no capítulo 1. As duas primeiras palavras do Anjo são verdadeiros programas de vida. A primeira, que meditamos no mês passado, diz: “Ave”… ou “alegre-se”, como seria uma tradução mais fiel ao texto original. A segunda palavra é: “Cheia  de graça”. Mas, esta também não é uma tradução muito fiel para a palavra em grego utilizada por Lucas: keharitouméne. O que significa isso? Será que é preciso falar grego para poder rezar a Ave-Maria com devoção? Claro que não! Mas, existem verdades belíssimas que estão escondidas por detrás de algumas palavras que um primeiro olhar não consegue ver. Experimente ler este artigo até o final e você nunca mais rezará a Ave-Maria da mesma maneira. A palavra grega aí de cima vem de uma outra bem mais conhecida: kharis, que pode significar graça. E o que é a graça? Deus é graça. Quem tem Deus tem a sua graça! Maria foi cheia da graça de Deus desde o primeiro momento de sua existência. Por isso, a Igreja Católica professa o Dogma da Imaculada Conceição; naquela que habitava a plenitude da graça de Deus não poderia haver o pecado original. Os evangélicos preferem traduzir o keharitouméne como “agraciada”, para que ninguém imagine que o milagre acontecido no ventre de Maria pudesse ser fruto de seus méritos pessoais. Tudo foi fruto da graça de Deus. Mas, é claro que a graça sempre pede licença para entrar em nossa vida, como o Anjo fez com Maria em Nazaré; para que o milagre pudesse acontecer a Virgem teve que dizer o seu sim. Esta adesão de fé à graça é necessária para tudo em nossa vida. É como diz o velho ditado: Deus ajuda quem madruga. Maria aprendeu a lição. E, nas Bodas de Caná deu o conselho aos servos: “Façam tudo o que o meu filho vos disser”. E a ordem do Filho foi que enchessem as talhas de água. Ordem absurda! O que faltava era vinho. Por que encher talhas de água? Eles seguiram o conselho de Maria e a ordem de Jesus. Mais uma vez o milagre aconteceu. A água foi transformada em vinho. Água é o nosso esforço, nossa obediência… É importante, mas é apenas água. O vinho é o resultado do esforço humano fecundado pela Graça  de Deus. Este sim resolve nossos problemas. Sozinhos não somos nada. Mas se apresentarmos talhas vazias, a Graça não terá o que transformar. Por isso a graça de Deus supõe a natureza humana.

Que alegria, nossa mãe foi cheia da graça… foi agraciada. Nela o sim de Deus e o sim da humanidade se encontraram e o céu começou na terra. Jesus nasceu!

O Senhor é convosco


Dei uma carona para o Pe. Darci Dutra, velho conhecido, amigo e confrade de congregação, estudioso da Bíblia que teve oportunidade de fazer uma especialização na Escola Bíblica de Jerusalém. Lecionou durante quase 30 anos nos cursos de teologia bíblica. Quando lhe disse que deveria escrever um artigo sobre esta frase da ave-maria: “O Senhor esteja convosco”, ele me surpreendeu dizendo: “sempre achei que a Igreja deveria modificar a tradução desta frase”. Confesso que eu nunca havia pensado nisso. Parei um momento, refleti, rezei em voz alta a ave-maria. Não vi nada de errado. Quantos terços eu já havia rezado utilizando esta fórmula bíblica que aprendi como criança. Arrisquei perguntar que mudança poderia haver em oração tão popular? Ele respondeu que o certo seria dizer: “O Senhor está convosco”. Sabe que eu nunca tinha pensado nisso? Uma luz brilhou em meus olhos e em minha mente. Mas é claro. Este é o grande refrão da Bíblia. É a mais marcante fórmula da Aliança. Não foi isso que Deus disse para Moisés no episódio da Sarça ardente quando este lhe perguntou o seu nome. Deus respondeu: “Eu sou aquele que estou” (Ex 3,12-14). Esta é a certeza que anima o profeta: “O Senhor está comigo”. Se quiser verificar como esta frase aparece na Bíblia com insistência procures os textos: Ag 2,4-5; Gn 21, 22; 26,3; 24,28; 31,3; Ex 3,12, 18,19; Dt 20,1; 31,8-23; Js 1,5.9; 3,7; Jz 6,12; Rt 2,4. O Evangelho escrito por Mateus também tem este mesmo refrão. Logo no início Jesus é anunciado como “Emmanuel, Deus conosco” (Mt 1,23). No mesmo livro, no último capítulo Jesus faz uma promessa confortadora antes de voltar para o Pai: “Estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28,20).

            Diante de todas estas evidências bíblicas de que nosso Deus é um Deus presente, é um Deus Conosco, entendemos que a alegria e a graça anunciadas pelo anjo a Maria tem uma causa: “Deus está contigo”. Por isso ela é cheia de graça. Por isso ela pode ser chamada de “Arca da Aliança”. Nela o Espírito Santo realiza a presença de Deus na história. Em latim rezamos Dominus tecum. Significa exatamente o Senhor está contigo. Em grego rezamos kirios meta su. É a mesma coisa. Em francês temos o mesmo problema “Le Seigneur est avec vous”. Acontece que nesta língua o verbo ser e estar quase se confundem. Dizer que “o Senhor é aqui” é quase a mesma coisa que dizer que ele “está aqui”. Mas em português o uso do verbo estar é muito claro e distinto. Quando rezamos que “O Senhor é contigo” quase não conseguimos lembrar que estamos fazendo uma profissão de fé na presença de Deus na História por meio do seu espírito que agindo em Maria tornou possível a encarnação do Verbo e o nascimento do Salvador, Jesus.

            O mais curioso é que a maioria das traduções da Bíblia já corrigiram este erro. Mas continuamos rezando a ave-maria da mesma maneira. A esta altura questionei o Pe. Darci dizendo que poderíamos continuar rezando assim e educar o povo no verdadeiro significado da frase, já que é difícil mudar um costume tão enraizado no meio do povo. Ele me respondeu: “Engano sei”. A mesma coisa já aconteceu com o pai-nosso que era “padre-nosso” e lá no final falava de dívidas e não de ofensas. A Igreja fez a mudança e todos seguiram a nova orientação.

            Não vou me atrever sugerir à CNBB que mude a letra da ave-maria, mas na oração pessoal podemos vez por outra fazer esta experiência de rezar: “Alegra-te, Maria, o Senhor está contigo…”

Bendita sois vós


A cena é muito conhecida. Maria, já grávida de Jesus, resolve visitar a sua prima Isabel. Os 120 quilômetros foram feitos em clima de solidariedade com a sua parente que já estava grávida de seis meses e poderia precisar de ajuda na hora do parto. Naquele tempo não havia nem telefone, nem correio nem internet. Isabel certamente não tinha a mínima idéia que receberia a visita de Maria. Qual não foi sua surpresa quando viu a prima subindo já cansada aquele morro em direção à sua casa. No abraço os dois ventres se encontram e pela primeira vez Jesus encontra com seu primo João Batista. O menino se mexe de alegria no ventre de Isabel e esta fica cheia do Espírito Santo e começa a louvar a Deus dizendo: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). Bendita significaabençoada”. A presença de Maria é sinal da bênção de Deus para Isabel. Lembre que bênção não é nada mais do que a Palavra de Bem que Deus pronuncia em nosso favor. Podemos bendizer a Deus. Ou seja: Louvar! Quando louvamos a Deus na verdade elevamos uma prece de bênção que sobe aos céus. Mas Deus também pode nos bendizer, ou seja, dizer o bem. Cada minuto de nossa vida é um sinal da bênção de Deus. É motivo de louvor. Mas há momentos em que a bênção de Deus transborda de maneira mais intensa e evidente em nossa vida. Foi isso que aconteceu naquele dia na cidade de Ain Karin. Isabel já não era mais tão jovem. Zacarias, seu esposo estava com sérias dificuldades para enxergar. As coisas estavam complicadas na casa de Isabel. A chegada de Maria foi um sinal evidente da bênção de Deus para Isabel. Apenas a sua presença já seria motivo de louvor. Mas Maria não foi sozinha. Em seu ventre ela levava o Rei dos reis, Senhor dos senhores. Ela era naquele momento o mais importante templo da humanidade. Em seu ventre o verbo havia se tornado gente. Maria era um sacrário vivo. Portanto a bênção maior não era a disponibilidade humana de Maria, mas a presença divina que trazia em seu ventre.

Certamente a visita continuou como muita conversa e alegria. Mas a bíblia registrou pelo menos uma profecia de Isabel: “Bendita aquela que acreditou: o que foi dito da parte de Deus se cumprirá” (Lc 1,45) Aqui está a porta da bênção: acreditar! Maria acreditou, teve fé, por isso deu o passo e disse sim! Mas sua fé não apenas retórica. É uma fé operante em favor do irmão. Por isso ela sai com pressa para ajudar a prima. Interessante se agora você tomar a sua bíblia e ler o magnificat que Maria canta para sua prima. É uma coleção de salmos e pequenos versos bíblicos que mostram a atitude correta de quem é chamado de bentido. Devemos apontar para o verdadeiro autor: “O Senhor fez em mim maravilhas… sim, doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1,46.48b). Sempre fico pensando nesta atitude humilde de nossa mãe de reconhecer os favores, as bênção de Deus.  Penso também que alguns cristãos que tem bloqueios e resistências para elogiar Maria se excluem da profecia: todas as gerações me chamarão de bendita. Está no Evangelho! Portanto, quem é verdadeiramente evangélico e crente deverá rezar: Bendita sois vós entre as mulheres!

Entre as mulheres


Continuamos o nosso desafio de comentar cada frase, cada palavra da oração da ave-maria. Já vimos que começa com a saudação do anjo Gabriel: “Alegra-te, cheia de graça, porque o Senhor está contigo”. E continua com a explosão de alegria de Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). O que poderia significar este “entre as mulheres”?

            Meu amigo e confrade de congregação, Pe. Zezinho, já compôs centenas de músicas inspiradas. É difícil dizer que é mais bonita ou mais profunda. Mas, com certeza, uma delas ficará definitivamente marcada na memória dos cristãos. Quem não conhece “Maria de Nazaré, Maria me cativou. Fez mais forte a minha fé e por filho me adotou”. Pois bem, há nesta canção uma frase que pode até passar despercebida no cantarolar da canção, mas é de um significado muito profundo: “Em cada mulher que a terra criou, um traço de Deus Maria deixou…”. Pode até parecer meio exagerado, mas Maria é um modelo, uma referência, um ícone do humano e, principalmente do feminino.

            Toda a tradição cristã reconhece em Maria a “nova Eva”. Santo Irineu, já no século II costumava dizer que “o nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria”. Faz algum tempo que estive em Portugal e fui convidado para presidir a oração do terço na capela das aparições, em Fátima. Ao terminar, uma senhora aproximou-se gentil e, num sorriso, disse com simplicidade: - “Senhor padre, percebi que vocês brasileiros rezam ‘ave Maria’ e não ‘avé Maria’. Seria mais adequado colocar um acento no ‘avé’, para lembrar que Maria é o contrário de ‘Eva’”. Aquilo ficou na minha cabeça. Algum tempo depois o Papa João Paulo II lançou a carta sobre o Rosário (Rosarium Virginis Mariae) e lá estava: “A repetição da Avé Maria no Rosário sintoniza-nos com este encanto de Deus” (nº 33).

            Maria é apresentada na Bíblia como a bendita entre todas as mulheres. O evangelista São Mateus nos surpreende e deixa como que desconcertados. Seria de esperar que ele colocasse na genealogia de Maria mulheres santas e famosas como Sara, Rebeca, Lia e Raquel, esposas dos patriarcas. Ao invés disso o texto de Mateus 1,1-16 cita entre os ascendentes de Jesus quatro pecadoras: Tamar, Raab, Rute e Betsabé. Tamar não tinha filhos e por isso fingiu-se de prostituta para seduzir seu sogro, Judá (Gn 38); Raab é uma prostituta famosa em Jericó (Js 2); Rute é pagã e moabita (Rt 4,17); e Betsabé é a conhecida esposa de Urias com  a qual aconteceu o pecado de Davi que gerou Salomão. Como podemos observar, é nesta história de pecado que Maria aparece para colaborar com seu “sim” na salvação da humanidade. Por isso podemos dizer que ela é “bendita entre as mulheres”. Se trazemos em nossa carne a marca do pecado das origens; trazemos a memória de Adão e Eva; também podemos dizer que ficamos marcados pelo sim de Maria; trazemos a memória da obediência de Jesus que nos salvou.

Bendito é o fruto do vosso ventre


Nosso pensamento volta 2.000 anos no tempo. Quase podemos ver aquela pequena cidade de Ain-Karin, distante 15 km de Jerusalém e cerca de 100 Km de Nazaré. Nas encostas da montanha ficava a casa de um casal em festa: Isabel e Zacarias que esperavam seu primeiro filho, João Batista. Isabel era prima de Maria e já tinha uma certa idade. Precisava de ajuda pois se aproximavam os dias em que teria que dar à luz. Maria num gesto bonito de solidariedade sai de Nazaré e faz a longa caminhada para servir Isabel. No ventre de Maria já estava o menino Jesus. Que cena bonita o encontro das duas primas. É o primeiro abraço de Jesus com seu precursor, João Batista. O menino estremece de alegria no ventre de Isabel e ela fica cheia do Espírito Santo e começa a rezar, louvar, dar glórias a Deus. Maria ouve sorridente, mas em silêncio. Entre tantas preces Isabel diz em alta voz: “Bendita é tu entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre!” A Igreja preservou a memória destas palavras na ave-maria. Todos os dias rezamos o mesmo louvor. Seria interessante voltar nosso pensamento para o abraço cheio de ternura com que a frase foi proclamada. Maria também nos visita com sua prece, sua intercessão. Precisamos estar cheios do Espírito Santo para rezar esta prece com sinceridade de coração.

            Um pouco mais adiante Maria rompe o silêncio e faz sua prece em canção. O evangelista São Lucas tentou recompor este canto juntando uma série de trechos bíblicos que conhecemos como Magnificat (Lc 1, 46-55). Foi uma tarde de louvor. Em sua oração Maria profetiza: “Sim, doravante todas as gerações me chamarão de bendita!” Nós fazemos parte desta geração que chama Maria de bendito. Fazemos isso toda vez em que rezamos a ave-maria. É certo que alguns cristãos preferem se excluir desta geração profetizada por Maria. Desta maneira se excluem desta profecia bíblica. Excluem tudo aquilo que se refere a Maria. A isto chamamos de minimalismo mariano. É um erro que devemos evitar.

            Mas é importante dizer também que a devoção mariana não é um fim em si mesma. A própria ave-maria não estaciona no louvor à Mãe de Deus. Aponta um pouco mais adiante para Jesus! Maria é o sacrário onde habita o Senhor. Existem cristãos que estão de tal forma apegados a uma devoção mariana exagerada que chegam a colocar Maria no lugar do próprio Deus. A isto chamamos de maximalismo mariano. É um erro condenado pela Igreja Católica. Quando recebemos o abraço de Maria sempre ficamos cheios do Espírito Santo e sentimos a presença de Jesus. Isabel é um bom exemplo de como deve ser a corrreta devoção mariana: simples, sábia, serena, saudável!

Jesus


O nome de Jesus aparece bem no meio da ave-maria. O papa João Paulo II chamou atenção sobre este fato em sua recente carta sobre o Rosário: “O baricentro da Avé Maria, uma espécie de charneira entre a primeira parte e a segunda, é o nome de Jesus. Às vezes, na recitação precipitada, perde-se tal baricentro e, com ele, também a ligação ao mistério de Jesus que se está a contemplar. Ora, é precisamente pela acentuação dada ao nome de Jesus e ao seu mistério que se caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do Rosário. Já Paulo VI recordou na Exortação apostólica Marialis cultus (nº 46) o costume, existente nalgumas regiões, de dar realce ao nome de Cristo acrescentando-lhe uma cláusula evocativa do mistério que se está a meditar. É um louvável costume, sobretudo na recitação pública. Exprime de forma intensa a fé cristológica, aplicada aos diversos momentos da vida do Redentor. É profissão de fé e, ao mesmo tempo, um auxílio para permanecer em meditação, permitindo dar vida à função assimiladora, contida na repetição da Avé Maria, relativamente ao mistério de Cristo. Repetir o nome de Jesus – o único nome do qual se pode esperar a salvação (cf. Act 4, 12) – enlaçado com o da Mãe Santíssima, e de certo modo deixando que seja Ela própria a sugerir-no-lo, constitui um caminho de assimilação que quer fazer-nos penetrar cada vez mais profundamente na vida de Cristo (Rosarium Virginis Mariae, nº 33).

            Fizemos questão de citar este longo trecho por ser uma observação do Santo Padre que certamente será uma novidade para você. Desde que li estas palavras comecei a mudar o meu jeito de rezar a ave-maria, para ressaltar o nome de Jesus e concertar minha atenção na contemplação do mistério, já que Maria sempre aponta para Jesus. Como seria na prática? Rezo normalmente até “e bendito é o fruto do vosso ventre…” e então respiro antes de pronunciar este nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos abismos (Fil 2,9-10) e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor (Fil 2,11). Realmente neste nome há poder. Não devemos pronunciá-lo de qualquer maneira. Após dizer “Jesus”, acrescento a memória do mistério que estou contemplando. Por exemplo, se for o primeiro Mistério da Luz, rezo assim: “Jesus, batizado no Jordão”, e vou repetindo isso em cada ave-maria, durante todo o terço.

            Este nome escolhido pelo próprio Deus (cf. Lc 1,31; Mt 1,21) em hebraico seria Yhôschuah, ou Yeschuah, em sua forma simplificada. Ambas têm o mesmo significado: Deus Salvador. Ao repetir o nome de Jesus pedimos que ele realize em nós o seu significado: a nossa salvação!

Santa Maria


Parece natural chamar Maria de santa. Mas será que entendemos exatamente o que isso significa? Você sabe o que é ser “santo”? Banalizamos esta expressão com a multiplicação de imagens de “santos”. Acabamos achando que a santidade é o privilégio de algumas pessoas que recebem a honra dos altares. Maria seria a primeira de todas as santas. Ser santo é mais do que isso. Em latim temos a palavra sanctus que vem do particípio passivo do verbo sancire: estar separado, ser distinto. O Templo de Jerusalém tinha o Santo dos Santos, um lugar separado onde se oferecia o incenso a Deus. Santo, neste sentido, é ser maior que o mundo, ultrapassar a história, transcender o tempo e o espaço, ser infinito, eterno, imortal! Deus é Santo. É o Totalmente Outro. Só Deus é santo. Lembre do conselho que Moisés ouviu na sarça ardente: “tira as sandálias dos teus pés, porque este lugar é santo” (Ex 3,5).

            Mas então como podemos dizer que Maria é santa? Ela não tinha todas estas qualidades de Deus! Esta é a parte bonita da história. Deus partilha conosco a sua santidade. O Espírito de Deus nos santifica. Ele nos configura a Jesus. Faz de nós imagem e semelhança do próprio Deus (Gn 1,26). Somos cristiformizados. Maria foi feita “cheia de graça” porque o Espírito a santificou com sua presença: “O Espírito virá sobre ti e te cobrirá com sua sombra; e por isso aquele que vai nascer será santo e será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). O mesmo acontece com cada um de nós desde o dia do batismo, quando o Espírito nos cobriu com sua sombra. Começou naquele dia a história da nossa santificação. Cada dia podemos dar um passo e responder a esta graça ficando mais parecidos com Jesus. É claro que podemos também ficar parados e simplesmente não responder. Os santos são aqueles que escreveram esta história com sangue, suor e lágrimas. Escreveram a santidade com gestos concretos em favor dos irmãos; com preces e muita penitência. Paulo viveu este mistério maravilhoso. É ele quem diz: bendito seja Deus (…) que nos escolheu antes da fundação do mundo para sermos santos” (Ef 1,4). Pedro foi santo. Ele disse: “Fomos eleitos segundo os desígnios de Deus Pai, pela santificação do seu Espírito” (Pd 1,2). Já no Antigo Testamento ouvimos a exortação: “Sede santos como Deus é santo” (Lv 11,4). Jesus atualizará este pedido dizendo: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5,48).

            Sim! Maria é santa. Ela viveu intensamente esta realidade de ser imagem e semelhança do Amor. Dizem que os filhos se parecem com os pais. Tem um ditado que diz: filho de peixe, peixinho é! Se somos filhos de Deus, devemos ser imagem do Amor. Esta é a nossa identidade mais profunda e caminho de realização plena. O interessante é que Jesus devia ser parecido com Maria no rosto e Maria era a imagem de Jesus no coração. É o único caso na história em que a mãe se parecia com o filho. Isto traduz o mistério de santidade que Paulo traduziu de maneira genial: “Eu vivo, mas já não sou eu quem vivo, Cristo vive em mim” (Gal 2,20).

Mãe de Deus


Existem quatro dogmas marianos. Os dois mais recentes são Imaculada Conceição e Assunção. Os outros dois tem suas raízes nas páginas da Bíblia e nos debates dos teólogos dos primeiros séculos da era cristã: Virgindade Perpétua e Maternidade Divina. É exatamente este último dogma que proclamamos quando rezamos: Santa Maria, mãe de Deus. Se a afirmação bíblica da virgindade de Maria tinha o propósito cultural de afirmar que Jesus Cristo é Deus  (cf. Mt 1,18-25), dizer que ela é Mãe de Deus tem unicamente a finalidade de defender que Jesus é também humano. Afirmar as duas coisas significa crer firmemente na verdadeira encarnação de Jesus, assumindo a nossa carne para nos salvar. Conforme afirmava Santo Irineu já no século 2 “somente o que foi assumido poderia ser redimido”. Estava claro que a nossa salvação depende da verdadeira encarnação do Verbo em Jesus Cristo pela ação do Espírito Santo no ventre de Maria. Não é possível separar a natureza humana e divina de Jesus. Ele não era 50% Deus e 50% homem, como alguns pareciam sugerir. Outros achavam que ele era somente Deus em uma aparência humana. Havia mesmo que dissesse que Jesus era apenas homem, messias, profeta, mas não poderia ser Deus. O que está em jogo é a famosa frase do Evangelho de João: “O verbo se fez carne e armou entre nós a sua tenda” (1,14). É no contexto destes debates para defender a nossa salvação defendendo a verdadeira encarnação que os teólogos começam a prestar mais atenção à figura de Maria como aquela que garantiria a verdadeira humanidade de Jesus. Os poetas, por sua vez, entram na conversa chamando Maria de Theotokos, ou seja, mãe de Deus. Muitos acharam o título meio exagerado. Aconteceram muitas reuniões e debates para saber se era adequado dizer que Maria era mãe de Deus. Finalmente no ano 431, no Concílio de Éfeso esta verdade foi solenemente definida. Veja o texto exato do dogma: “Se alguém não confessa que Deus é verdadeiramente o Emmanuel, e por isso a santa Virgem é mãe de Deus (pois deu à luz carnalmente ao Verbo de Deus feito carne) seja anátema”. O Concílio de Calcedônia iria afirmar de maneira ainda mais precisa alguns anos mais tarde (451): “O Filho que antes dos séculos é gerado pelo Pai segundo a divindade, nos últimos dias, do mesmo modo, por nós e por nossa salvação é gerado por Maria Virgem e mãe de Deus, segundo a humanidade”.

Fica claro que Maria não gerou Deus. Mas por obra do Espírito, em seu ventre foi gerado o nosso salvador, Jesus Cristo, que assumiu toda a nossa natureza para nos salvar. Por isso ele é 100% Deus e 100% Humano. Eu disse: ele é! Jesus no céu continua sendo “verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, sem separação, nem confusão” (Calcedônia). Houve um momento de “encarnação” em Nazaré. Mas nunca existiu uma “desencarnação”, nem com a morte, nem com a ressurreição, nem com a ascensão. Jesus voltou para o Pai levando algo de nossa carne que herdou do corpo daquela Mulher de Nazaré.

Não tenha receio de chamar Maria de “mãe de Deus”. Reze esta prece com a convicção de que este título é mais do que um elogio à mãe de Jesus. É um garante da nossa salvação.
           

Rogai por nós pecadores


Vivemos em uma época em que todos estão muito sensíveis à solidariedade. Você já percebeu como esta palavrinha aparece em cartazes, propaganda dos mais diversos produtos, comerciais de televisão, nome de iniciativas governamentais etc. O papa João Paulo II chega a dizer que a “paz é fruto da solidariedade” (Sollicitudo Rei Socialis nº 39). Este será também o tema da Campanha da Fraternidade – 2005: Solidariedade e Paz.

            Mas o que é que isso tem a ver com as palavras da ave-maria que meditamos este mês? É que a intercessão é uma forma maravilhosa de solidariedade espiritual. O “fato” é que todos estamos mais próximos do que pensamos. Estamos no mesmo barco. Todos comemos o fruto da mesma terra, respiramos o mesmo ar. De certa forma somos parte do mesmo corpo que é o universo. Precisamos reconhecer esta realidade e ser um pouco mais “corporativos”. Fiquei indignado quando vi o carro da frente jogar aqueles papéis pelo vidro sujando as ruas e poluindo o mundo com a mais completa falta de sensibilidade ecológica. Se é verdade tudo isso, então minhas lágrimas choram em mais alguém, os gritos dos pobles da Sibéria de alguma forma podem ser ouvidos na Nova Guiné, os sofrimentos das mulheres Tailandezas machucam as  árabes e a indiferença ao menores de rua de São Paulo influenciam na tristeza daquele jovem de New York. Parece poesia, mas não é. Temos no credo até um dogma que fundamenta esta solidariedade universal: creio na comunhão dos santos. É mais radiucal ainda. Acreditamos que até aqueles que já nasceram definitivamente em Deus e estão na Igreja triunfante, permanecem de alguma forma espiritual unidos a nós da Igreja militante. Eles e nós temos algum elo com a Igreja padecente que se purifica para a entrada no Reino definitivo. E que elo seria esse? É que todos somos batizados e pertencemos ao mesmo Corpo Místico de Cristo. Nele temos perfeita comunhão. Nele vivemos a perfeita solidariedade. O apóstolo Paulo já dizia estas coisas com palavras tocantes como: “Vivendo segundo a verdade, no amor, cresceremos sob todos os aspectos em relação à Cristo, que é a cabeça. É dele que o corpo todo recebe coesão e harmonia, mediante toda sorte de articulações e, assim, realiza o seu crescimento, construindo-se no amor, graças a atuação devida de cada membro” (Efésios 4, 16).

            Maria também é um membro deste corpo que vibra, torce e reza por cada um de nós. Fui para o seminário muito cedo. Há 28 anos faço a experiência de ser um filho distante. Mas nunca senti esta distância como uma separação total. Conversamos. Trocamos cartas, e-mails e uma visita quando aparece uma oportunidade. Maria da Glória faz isso na terra. mas existe uma outra maria que faz isso na glória do céu. Ela sente de meus sentimentos. Tem sensibilidade com meus sofrimentos pois faz parte do mesmo corpo que eu. Ela reza por mim e por você. A poeta não errou quando fez o Brasil cantar: “Nossa Senhora, me dê a mão, cuida do meu coração, da minha vida… cuida de mim!”

Agora e na hora da nossa morte


Eu era muito jovem quando fui ao enterro de um ente querido. Quando estava para fechar a sepultura o padre olhos para nós e disse com convicção:

            - “Agora, irmãos, vamos rezar uma ave-maria pelo primeiro de nós que vier a falecer”.

            Todos se olharam pelo canto do olho e rezaram com voz tímida e um certo contrangimento. Ninguém parecia querer aquela prece para si. Outro dia um pregador perguntou “à queima roupa”  no meio de uma palestra:

            - “Quem quer ir para o céu…?”.

            Todos levantaram o braço rapidamente. Mas ele completou:

            - “Hoje!!!”

            Não ficou sequer um de braço erguido. Gostamos da idéia de ir para o céu. Mas bem que poderia ser daqui a uns 120 anos. A terra tem mil defeitos, mas diante da morte, até que é um lugar bom pra se viver. Isto não é falta de fé. É a lei da gravidade que nos prende a este chão e nos faz gostar da vida. Não é normal gostar de sofrer e desejar morrer. Aliás, quem sente desejo de morrer precisa procurar um médico, urgente.

            Só temos duas certezas absolutas na vida: estamos vivos e um dia vamos morrer. Mas ninguém sabe quando nem como. Esta certeza incerta nos incomoda e faz pensar. Melhor do que pensar demais e perder o sono é entregar esta realidade a Deus pelas mãos de maria. Por isso terminamos esta prece dizendo: “agora e na hora de nossa morte”. A mãe está conosco a todo momento, especialmente os mais difíceis.

            Esta frase é também uma reafirmação da esperança que não decepciona. Na salve-rainha rezamos: vita, ducedo et spes nostra, salve. Significa: vida, doçura e esperança nossa, salve. Aquela que esperou Jesus nove meses nos ensina a viver a vida como um grande “advento”. A morte não é mais do que o nosso “natal” definitivo. Morrer é nascer para sempre. Quando a gente nasce, começa a morrer. A vida é morrer todo dia um pouco. Quando morremos pelo irmão, aprendemos que isto é amar. Foi isso que Jesus fez e ensinou. Quem aceita morrer viverá. Quem se apegar a vida… morrerá por antecipação. Por isso o amor é vida. O salário do pecado é a morte. Quando nascemos, todos fazem festa e o recém nascido chora. Quando morremos as pessoas choram. Mas o “recém-nascido” faz festa.

            Maria entende muito bem da arte de consolar os que estão morrendo. esteve silenciosamente ao pé da cruz de seu filho. Nem uma palavra. Apenas olhares. Quantos que comeram o pão multiplicado, ouviram os belos sermões, viram a água transformada em vinho, paralíticos curados, cegos, pecadores… tantos. Apenas João e algumas marias ao pé da cruz. Mas para Jesus não importava tanta solidão. A mãe estava lá. Colo de mãe é bom a qualquer hora e em qualquer idade. Rezar a ave-maria é pedir colo para a Mãe de Deus, agora e na hora da nossa morte!
          

Amém


Ao longo de todo este ano meditamos cada frase da ave-maria. Chegamos ao final com esta palavrinha que é muito repetida mas nem sempre bem entendida: AMEM. Na verdade ela é muito rica de significados. Sua origem é o verbo hebraico amén, que significa amparar, suportar, confiar, ser verdadeiro, o que permanece firme, verídico, seguro, eterno. Aparece muitas vezes no Antigo Testamento, como por exemplo em 1 Reis 1,36: “Amém! Seja essa a declaração do Senhor Deus do meu senhor, o rei!”. Como podemos ver este é o significado mais conhecido do “amém” como confirmação de um compromisso assumido. O mesmo aparece em Jeremias 11,5: “E eu respondi: Amém, Senhor”. Um outro exemplo muito interessante encontra-se em Deuteronômio 27,15-26. São doze versículos  em que ao final o povo sempre exclama: Amém!  Um sentido um pouco diferente encontramos na oração de Davi que está em 1 Crônicas 16,36. Aqui o significado é mais expressão de um desejo ou esperança em que Deus irá realizar o que estamos pedindo. No Novo Testamento a palavra “amém” aparece muitas vezes com significado semelhante aos que encontramos no Antigo Testamento. Mas em Apocalipse 3,14 aparece uma novidade: Amém é usada como um nome próprio atribuído a Cristo. “Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira [...]”. Pode ser uma alusão ao texto de Isaías 65,16 em que existe a expressão “Deus do Amém”, no sentido de Deus da Verdade. Assim, chamar Jesus de Amém é afirmar que ele é o verdadeiro Deus. Podemos acreditar em suas promessas, em suas palavras. Ele é a testemunha fiel e verdadeira de Deus. Jesus utilizava a palavra Amém no começo de afirmações importantes. A Bíblia traduz por: “em verdade em verdade vos digo…” (João 1,51; 3,3). Aparece 25 vezes no Evangelho de João, 30 vezes no Evangelho de Mateus, 13 vezes em Marcos, e 6 em Lucas. Nos outros livros do Novo Testamento a palavra “Amém” aparece 70 vezes. Portanto, toda vez que repetimos esta palavra estamos reafirmando nosso compromisso, nossa aliança com Deus. Repetimos o “amém” do próprio Cristo. Nele nos tornamos “amém”. Isto significa tornar-se seu seguidor, de Nazaré até a cruz; viver a sua mística; obedecer sua palavra; viver sua mensagem de amor aos irmãos. Repetir amém demais sem pensar no significado pode ser perigoso. É interessante quando um pregador ao final de sua mensagem pede a adesão da assembléia: Amém? E todos responde com convicção: Amém!!!Não foi exatamente isso que Maria fez ao final de sua conversa com o anjo Gabriel na Anunciação? A primeira ave-maria da história começou com uma saudação: Alegra-te, Maria, o Senhor está contigo. E terminou com a adesão da Virgem: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua promessa (cf. Lucas 1, 38). Em outras palavras: o milagre de nossa salvação passou por uma palavra dita pelos lábios santos de Maria: AMÉM! (Fonte: Canção Nova)


Ano A - Mateus 9,9-13

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