Consagração A Nossa Senhora


A devoção a Nossa Senhora sempre fez parte do Cristianismo. Dom Nelson Francelino, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, afirma que “a devoção a Maria começou com o próprio Cristianismo”.
Em toda a história da Igreja, vemos que muitos santos tiveram grande amor a Mãe de Jesus e fervor ao culto a ela. São João Bosco dizia: “Maria Santíssima sempre me guiou”; Santo Antonino: “Se Maria é por nós, quem será conta nós?”; Santo Agostinho: “Tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria Santíssima é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus”.
E poderíamos fazer aqui uma lista enorme dos vários santos e seus dizeres sobre a Virgem Maria.

Tratado da Verdadeira Devoção
Uma devoção em especial, apesar de ser antiga, ultimamente tem chamado a atenção de muitos jovens. É a consagração pelo Tratado a Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, escrito por São Luís Grignion de Monfort, santo que viveu de 31 de janeiro de 1673 a 28 de abril de 1716.
Um número cada vez maior de pessoas tem considerado essa devoção muito poderosa, capaz de produzir grandes frutos na alma da pessoa que a pratica; daí a grande repercussão.
Contudo, algumas pessoas veem muitos exageros na consagração pelo método do Tratado. Acham que há muito rigor e interpretam essa devoção como “desencarnada” ou “espiritualoide” – tipo de desvirtuamento da verdadeira espiritualidade, em que o indivíduo vive quase que totalmente desconsiderando que é humano, exige de si e dos outros uma “pseudo-perfeição”, cheia de escrúpulos.
Há mesmo tais exageros na consagração a Maria pelo Tratado? E o que causa essas objeções?
Não, não há exageros. A intenção de São Luís G. Monfort é apresentar uma fórmula diferenciada de consagração.
Talvez, alguns termos e frases usados nos escritos que, mal interpretados, levam as pessoas a terem objeções, medo da consagração.

Vejamos alguns exemplos:
– Há aqueles que dizem que o consagrado não pode pedir a Maria nem a Jesus nada para si mesmo. Entretanto, veja o que diz o Tratado: “Uma pessoa, que assim voluntariamente se consagrou e sacrificou a Jesus Cristo por Maria, já não pode dispor do valor de nenhuma de suas boas ações. Tudo o que sofre, tudo que pensa, diz e faz de bem pertence a Maria, para que ela de tudo disponha conforme a vontade e para maior glória de seu Filho, sem que, entretanto, esta dependência prejudique de modo algum as obrigações de estado no qual esteja presentemente, ou venha a estar no futuro: por exemplo, as obrigações de um sacerdote” (art. nº 123).
Perceba que o Tratado não cita que o consagrado não pode pedir nada para si mesmo, mas que Maria irá dispor dos méritos da oração, do sacrifício ou das boas obras dessa pessoa, como seu Filho Jesus bem quiser. Diz respeito a um ato de confiança, em que o consagrado crê que seus bens espirituais são melhor administrados por Nossa Senhora e Cristo Jesus, do que por ele mesmo.
Ora, não é algo parecido com isso que nos ensinam sobre a oração em línguas? “Pois não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor” (Rm 8, 26), quando nós podemos pedir como nosso coração deseja, mas que o Espírito Santo pede melhor por nós.

Portanto, o consagrado pode pedir o que quiser, mas quem decidirá o que é melhor para ele será Jesus. Na verdade, na vida de todos nós já é assim, pois nós rezamos, mas quem decide quando recebemos e o tamanho da graça é o céu.
– Outro ponto polêmico é o termo: “Escravo de Nossa Senhora”.
Em nossos dias, a palavra “escravidão” não soa bem, mas, nos dias de São Luís G. Monfort, a realidade da escravatura era comum. Não estou querendo com isso amenizar as ‘barbáries’ do passado e de hoje para justificar essa devoção, todavia, não conseguiremos interpretar o verdadeiro sentido de “escravo”, como quis o autor, sem nos desfazermos do conceito moderno que temos.

Então, o que é ser escravo de Maria?
São Luís nos explica: “Há duas maneiras, aqui na terra, de alguém pertencer a outrem. São a simples servidão e a escravidão” (art. Nº 69).
O servo não dá tudo a seu patrão, exige salário, pode deixar o patrão quando quiser e não confia sua vida ao seu superior (cf. art. 71).
Já o escravo “põe sua pessoa na posse e dependência completa [de Maria]” (art. nº 72).
São Luís diz que: “Há três espécies de escravidão: por natureza, por constrangimento e por livre vontade. Por natureza, todas as criaturas são escravas de Deus (Sl 23, 1). Os demônios e os réprobos são escravos por constrangimento; e os justos e os santos o são por livre e espontânea vontade” (art. nº 70). É é essa última forma que o Tratado nos convida.
Que lindo quando uma pessoa usa de sua livre e espontânea vontade para assumir um compromisso de amor! Quanto mais a Nossa Senhora!
– Sobre as correntes e sinais exteriores.
O Tratado ainda propõe usar uma pequena cadeia de ferro ou material não valioso e desprovida de beleza, seja no braço, pescoço, tornozelo ou mesmo na cintura, significando a pertença a Maria.
Sobre este quesito, muitas pessoas reprovam essa condição, no outro extremo temos os que dizem ser obrigatório o uso de tais objetos.
Entretanto, consultemos mais uma vez o livro:
“Essas demonstrações exteriores não são, na verdade, essenciais, e uma pessoa pode bem dispensar, embora tenha abraçado esta devoção” (art. nº 236).
Ainda que, adiante São Luís, elogie aqueles que decidem usá-las, a verdade é que a consagração não obriga ninguém a usá-la. Eu mesmo, não uso, por uma alergia, mas também por não me sentir à vontade para utilizar, penso que chama muita atenção. Com certeza, Maria não desmereceu minha entrega a ela por falta de uma corrente!
Eu, como um consagrado, por esse método posso testemunhar que é um meio de aproximar o devoto de forma particular e única de Maria.
Não estou afirmando com isso que essa consagração é melhor ou mais eficaz que outras. Quem sou eu para mensurar isso? Mas aquilo que São Luís G. Monfort propõe em seus escritos, apesar de não ser uma vocação específica, é como se fosse um tipo de carisma, que atrai a pessoa de tal maneira, como nenhuma outra devoção e práticas espirituais podem preencher seu coração.
O devoto encontra nos preceitos do Tratado uma identificação com sua alma, uma harmonia com sua pessoa e suas características. Por isso, não se torna “pesada”.
É um chamado do Céu, assim como nos sentimos atraídos a sermos devotos de um santo ou outro, nos identificando com sua história e o jeito de buscar a santidade.

Com toda certeza, digo que não há exageros no Tratado, o que acontece são más interpretações e pessoas que propagam uma “dureza” que chama a atenção mais para si e para sua severidade do que verdadeiramente para a Mãe de Deus e Seu Filho.

A Grandeza do Sangue de Cristo


A Igreja dedica o mês de julho à devoção do preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados. Depois de meditar longamente sobre o Coração misericordioso de Jesus, no mês de junho, a mãe Igreja deseja que veneremos profundamente o precisosíssimo Sangue do Senhor.
Os judeus celebravam diariamente o “holocausto perpétuo”, dois cordeirinhos sem defeito eram imolados às seis horas da manhã e às seis da tarde, afim de que o sangue do cordeiro oferecido a Deus obtivesse o perdão dos pecados do povo naquele dia. Esse cordeiro era apenas um sinal, uma prefiguração do verdadeiro Cordeiro que seria imolado na Cruz.
São João Batista o apresentou ao mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação. O Sangue precioso de Cristo foi prefigurado também naquele sangue do cordeiro pascal que os judeus colocaram nos umbrais das portas de suas casas, no dia da Páscoa, na saída do Egito, para que o anjo exterminador nenhum mal fizesse ao primogênito daquela casa. É sinal do Sangue do Cristo que nos protege de todos os males do corpo e da alma.
A devoção ao preciosíssimo Sangue de Jesus sempre esteve presente na Igreja desde o início en sempre aumentou através de solenidades, orações, escritos dos papas, e  uma  Ladainha para  pedir a Deus perdão dos pecados e afastar de nós os males do corpo e da alma.
São Gaspar de Búfalo propagou fortemente esta devoção, tendo a  aprovação da Santa Sé; por isso, é chamado de o “Apóstolo do Preciosíssimo Sangue”. O Papa Bento XIV (1740-1748) ordenou a missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). O santo foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue – CPPS, em 1815. Nasceu em Roma aos 06 de Janeiro de 1786.

O Papa João XXIII (1958-1963) escreveu a Carta Apostólica “Inde a Primis”, sobre o preciosíssimo Sangue de Cristo, a fim de promover o seu culto, o que foi lembrado pelo Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica “Angelus Domini”, onde repetiu o que João XXIII disse sobre o valor infinito do Sangue de Cristo, do qual “uma só gota pode salvar o mundo inteiro de qualquer culpa”.

O Sangue de Cristo representa a Sua Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. Quem for batizado e crer, como disse Jesus, será salvo (Mc 16,16) pelo Sangue de Cristo.
“Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).
Em cada Santa Missa a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza este Sacrifício expiatório pela Redenção da humanidade. Em média, a cada quatro segundos essa oferta divina sobe ao Céu em todo o mundo.
O Catecismo da Igreja ensina que: “Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de oferecer-se em sacrifício por todos” (§616); para isso era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer este sacrifício; então, o Verbo divino, dignou-se assumir a nossa natureza humana, para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.
São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo.” (1Pe 1,19).
   
Assim, o Sangue do Senhor nos libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz: “Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por seu Sangue Cristo nos reconciliou com Deus: ” por seu intermédio reconciliou consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).

Com o seu Sangue Cristo nos resgatou, nos comprou, nos fez um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue”(At 20,29). “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do sangue de Jesus” (Hb 10,19).
“Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça; (Ap 5,9)

Hoje esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar pela fé; somos justificados por esse Sangue ensina S. Paulo: “Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9). “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça” (Ef 1,7).

Este Sangue redentor está à nossa disposição também no Sacramento da Confissão; pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o seu precioso Sangue. Infelizmente muitos católicos ainda não entenderam a profundidade deste Sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na Confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.

Este Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?.. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor ” (1 Cor 10,16-27).

 Na Comunhão podemos ser lavados e inebriados pelo Sangue redentor do Cordeiro sem mancha que veio tirar o pecado de nossa alma. Mas é preciso parar para adorá-lo no Seu Corpo dado a nós. Infelizmente muitos ainda comungam mal, com pressa, sem Ação de Graças, sem permitir que o Sangue Real e divino lave a alma pecadora e doente.
“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,53-56).

É pela força do sangue de Cristo que os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).”Estes venceram-no por causa do sangue do Cordeiro e de seu eloqüente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).

É pelo Sangue derramado que Ele venceu e se tornou Rei e Senhor:
“Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome é Verbo de Deus… Um nome está escrito sobre o seu manto: Rei dos reis e Senhor dos Senhores”(Ap 19,13-16).
 
Prof. Felipe Aquino


O Precioso Sangue de Cristo


O mês de julho a Igreja dedica ao preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados.
O Sangue de Cristo representa a Sua Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. Quem for batizado e crer, como disse Jesus, será salvo (Mc 16,16) pelo Sangue de Cristo.
Em cada Santa Missa a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza este Sacrifício de Cristo pela Redenção da humanidade. Em média, a cada quatro segundos essa oferta divina sobe ao Céu em todo o mundo.
O Catecismo da Igreja ensina que mesmo que o mais santo dos homens tivesse morrido na cruz, seria o seu sacrifício insuficiente para resgatar a humanidade das garras do demônio; era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer este sacrifício; então, o Verbo divino, dignou-se assumir a nossa natureza humana, para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.
“Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.  Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,8-9).
São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus, mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pd 1, 2).
“Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo.” (1Pe1,19)
Ao despedir dos bispos de Éfeso, em lágrimas, S.Paulo pede que cuidem do rebanho de Deus contra os hereges que já surgiam naquele tempo, porque este rebanho foi “adquirido com o seu Sangue” (At 20,28).

Para os judeus a vida estava no sangue (cf. Lv 11,17), e por isso eles não comiam o sangue dos animais; na verdade, a vida está na alma e não  no sangue; mas para eles o sangue tinha este significado. É muito interessante notar que no dia da Páscoa, a saída do povo judeu do Egito, naquela noite da morte dos primogênitos, Deus, segundo o entendimento do povo, mandou que este passasse o sangue do cordeiro imolado nos umbrais das portas para que o Anjo exterminador não causasse a morte do primogênito naquela casa.
Este sangue do cordeiro simbolizava e prefigurava o Sangue de Cristo, da Nova e Eterna Aliança que um dia seria celebrada no Calvário. É por isso que S.João Batista, o Precursor de Jesus, ao anunciá-lo aos judeus vai dizer: “Este é o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo” (Jo 1, 19).  É a missão de Cristo, ser o Cordeiro de Deus imolado por amor dos homens.

 Fomos resgatados pelo sangue de Cristo – 1Pe 1,17ss

É este Sangue de Cristo que nos purifica de todo pecado:
“Se, porém, andamos na luz como ele mesmo está na luz, temos comunhão recíproca uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1,7).
“Jesus Cristo, testemunha fiel, primogênito dentre os mortos e soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, que nos lavou de nossos pecados no seu Sangue  e que fez de nós um reino de sacerdotes para Deus e seu Pai, glória e poder pelos séculos dos séculos! Amém.” (Ap 1, 5)
“Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu Sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça; e deles fizeste para nosso Deus um reino de sacerdotes, que reinam sobre a terra” (Ap 5, 9-10).
Os mártires derramaram o seu sangue por Cristo, na força do seu Sangue:
“Mas estes venceram-no por causa do Sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).
O Apocalipse ainda nos mostra que os santos lavaram as suas vestes (as almas) no Sangue de Cristo:
“Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no Sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14).
Hoje esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar pela fé; somos justificados por esse Sangue ensina S. Paulo:
“Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9).
Ele está à nossa disposição também no Sacramento da Confissão; pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o seu precioso Sangue. Infelizmente muitos católicos ainda não entenderam a profundidade deste Sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na Confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.
Este Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. Na Comunhão podemos ser lavados e inebriados pelo Sangue redentor do Cordeiro sem mancha que veio tirar o pecado de nossa alma. Mas é preciso parar para adorá-lo no Seu Corpo dado a nós. Infelizmente muitos ainda comungam mal, com pressa, sem Ação de Graças, sem permitir que o Sangue Real e divino lave a alma pecadora e doente.
Prof. Felipe Aquino

Um mergulho no Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro


Aparentemente é um simples quadro de devoção à Santa Mãe de Deus, cujo o autor ainda permanece desconhecido. Mas se nos determos em seus detalhes, veremos que a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é cheia de simbolismos e significados…

No dia 27 de junho celebramos uma das festas mais antigas e belas de Nossa Senhora, a de “Nossa Senhora Mãe do Perpétuo Socorro”. Maria é a Senhora que nos apresenta Jesus, o Perpétuo Socorro da humanidade, representada em um Ícone belíssimo de estilo bizantino.
Segundo a tradição o quadro foi pintado por um artista até hoje desconhecido. O fato é que em 1866, o Papa Pio IX o entregou aos Padres Redentoristas para que divulgassem essa devoção, o que eles fazem ainda hoje. Sendo Ela a Patrona dos Redentoristas. Atualmente o quadro original se encontra na igreja de Santo Afonso, em Roma.
Mesmo permanecendo o mistério sobre seu autor, vamos observar bem esta belíssima imagem na qual podemos contemplar uma riqueza em detalhes. E a cada um deles é atribuído um significado, uma simbologia, uma mensagem, uma reflexão.
E hoje gostaria de fazer isso com você, vamos lá?!
Volte na imagem e a observe bem.
Nela vemos Maria que segura seu Filho em seus braços. Jesus é retratado na imagem com uma expressão como que assustado pela visão de dois anjos. Mas que anjos são esses? E o que eles retratam?
O anjo que está à sua esquerda é São Miguel Arcanjo, que segura a lança, a vara com a esponja e o cálice das amarguras (símbolos da Paixão de Cristo). Vemos dois símbolos acima do anjo, que são abreviações gregas, sendo a primeira para: “São Miguel Arcanjo” e a segunda para: “Mãe de Deus”.
Do lado direito, vemos um outro anjo, São Gabriel Arcanjo – que segura a cruz e os pregos (também simbolizando a Paixão de Cristo). Por cima dele vemos outras duas abreviações gregas, uma para “São Gabriel Arcanjo” e a outra acima também para “Mãe de Deus”. Abaixo deste anjo, notemos também mais uma abreviação grega para: “Jesus Cristo”.
A estrela no véu de Nossa Senhora, simboliza que Ela é estrela do mar que trouxe a luz de Cristo para o mundo em trevas. A estrela que nos conduz ao porto seguro do céu.
Os olhos de Maria são grandes. E observe bem para onde eles estão olhando… Viu? Por que será? Porque eles sempre estão voltados para nós e para os nossos problemas.
Os lábios de Maria são pequenos, simbolizando o recolhimento silencioso de Maria que pouco falava e muito se recolhia em oração.
Observe agora a túnica de Nossa Senhora de cor vermelha, a cor usada pelas virgens na época de Cristo.
O manto é azul escuro, cor usada pelas mães na palestina. Nos mostrando Maria que é Virgem e Mãe.
Agora observe as mãozinhas de Cristo que estão pressionadas nas mãos de Maria, como que um lembrete para nós que assim como na terra, Ele colocou-se inteiramente em suas mãos. E que agora no céu, Ele lhe concede em suas mãos todas as graças para distribuir a quem pedir. Nos indicando que as graças da redenção estão sob a guarda de Maria.
A coroa dourada que vemos na imagem, foi colocada na imagem original por ordem da Santa Sé em 1867. Se trata de um símbolo dos muitos milagres feitos por Nossa Senhora através da invocação do seu título “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”.
A mão esquerda de Nossa Senhora apoia possessivamente o Menino Jesus que corre assustado para os seus braços de mãe, quase perdendo na pressa uma de suas pequenas sandálias, que você pode observar na imagem. A sandália desatada – pode ser um símbolo que talvez retrate um pecador preso ainda a Jesus por um fio – o último – a devoção a Nossa Senhora.
Meu querido leitor, como não amar e recorrer a Maria, nossa Mãe do Céu depois desta contemplação? Como?
Como não nos sentimos em paz e seguros em seus braços tranquilizadores e amorosos de Mãe? Como?
Não há muito mais a se falar depois desta contemplação, mas há o que fazermos agora…
Lançarmos nos braços de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro com a mesma pressa de Jesus, pedindo a Ela, as graças reservadas por Ele mesmo, a cada um nós neste dia tão especial para que sejamos fortes e fiéis em nossas missões.
Que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rogue por todos nós!
fonte ZENIT.

Os Dez Mandamentos












Os mandamentos do Senhor são para o nosso bem

“Eu sou o Senhor teu Deus” (Dt 5,6)
Na explícita afirmação divina: “Eu sou o Senhor teu Deus” está 
incluído o mandamento da fé, da esperança e da caridade. Se 
nós reconhecermos que, de fato, Ele é Deus, isto é, eterno, 
imutável, sempre igual a si mesmo, afirmamos assim a Sua infinita 
veracidade. Segue-se, então, a obrigação de acolher Suas palavras 
e de aderir aos mandamentos com pleno reconhecimento da Sua 
autoridade.
Assim, sendo Ele Deus, nós reconhecemos a Sua onipotência, 
a bondade, os benefícios, o que nos confere uma confiança e 
esperança sem limites. E se Ele é infinita bondade e infinito amor, 
como não Lhe oferecer toda a nossa dedicação e Lhe dar todo o 
nosso amor? Eis por que, na Bíblia, Deus inicia e conclui invariável-
mente os Seus mandamentos com a fórmula: “Eu sou o Senhor” 
(cf. CIC, 2086).

Quem ama a Deus guarda Seus Mandamentos:
Sem alimento ninguém vive. A cada dia, também temos de
colher a nossa porção de alimento espiritual, que é a oração.
Precisamos levar a sério os preceitos de Deus, guardar
Seus mandamentos e colocá-los em prática.
“Quem me ama observa meus mandamentos.” O amor a
Deus precisa ser concreto, temos de levá-Lo a sério.

 O mundo desvirtuou nossas mentes de tal maneira, que não
levamos mais a sério as ordens do Senhor. O mundo age como
crianças malcriadas que não ligam para o que os pais dizem.
Quer amar a Deus? Siga os mandamentos! Não é mais tempo
de 
pensar que basta ir à Missa ou simplesmente orar de vez em
quando. É preciso estar com Deus constantemente! A oração e a
Missa são como âncoras para salvar você e toda a sua família.
Felizes os que entenderam a importância das ordens contidas na
Bíblia em seu dia a dia. Esses serão vencedores.


1. Amar a Deus sobre todas as coisas;
2. Não tomar seu santo nome em vão;
3. Guardar os domingos e dias santos de preceito;
4. Honrar pai e mãe;
5. Não matar;
6. Não pecar contra a castidade;
7. Não furtar;
8. Não levantar falso testemunho;
9. Não desejar a mulher do próximo;

10. Não cobiçar as coisas alheias.






Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro














A exemplo de Jesus, também nós recorremos a Nossa 

Senhora do Perpétuo Socorro diante das angústias de 

nosso coração

– Recolher-se em oração em casa ou numa igreja;
– Fazer o pedido da graça que tanto deseja alcançar;
– Rezar a oração de cada dia;
– Rezar um Pai-nosso e três Ave-Marias;
– Praticar a boa obra de cada dia. Pode-se trocar por outra mais
conveniente.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Primeiro dia

“Eis a tua mãe” (Jo 19,27)
Bondosa Mãe do Perpétuo Socorro, que experimentastes a angústia
da vida, acolhei o meu pedido. Sois Mãe e tendes o desejo de socorrer 
a todos, aqui está alguém que é pecador, mas que recorre a vós.
• Boa obra: dar esmola a um pobre.

Segundo dia

“[…] meu espírito se alegra em Deus […]” (Lc 1,47)
Mãe do Perpétuo Socorro, ajudai-me a ser de Deus. Tudo passa como
vento, Deus permanece. Quero ser d’Ele e, por isso, vos suplico:
socorrei-me nessa vida, ajudai-me a não perder Deus nos sofrimentos
e necessidades. Bondosa Mãe, aumentai a minha fé e confiança,
socorrei-me com vosso amor.
• Boa obra: em casa, fazer o trabalho com amor.

Terceiro dia

“[…] seja feita a tua vontade […]” (Mt 6,10)
Bondosa Mãe, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, compreendestes
e sempre fizestes o que Deus queria, afastai de mim a dureza do coração,
o orgulho e o egoísmo. Ajudai-me, bondosa Mãe, a seguir a vontade de
Deus e concedei-me a graça que vos peço.
• Boa obra: antes de dormir, agradecer a Deus por tudo o que aconteceu
no dia.

Quarto dia

“[…] foi a mim que o fizestes!” (Mt 25,40)
Mãe de Jesus e minha mãe, dai-me um coração generoso para ajudar
o próximo e misericordioso para perdoar sempre. Dai-me um coração
humilde e manso para suportar suas fraquezas. Jesus disse que faço a
Ele o que faço aos outros, por isso, ajudai-me a melhor amar Deus e
meus irmãos. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, socorrei-me na
graça que vos peço.
• Boa obra: dar algo ao pobre.

Quinto dia

“[…] eu estou ali, no meio deles.” (Mt 18,20)
Bondosa Mãe, como vivestes com Jesus e José em casa? Concedei-
me amar meus irmãos e aceitar cada um no seu jeito de ser. Dai-nos
a paz, compreensão, bondade e alegria para que o Espírito de Jesus
permaneça conosco. Bondosa Mãe, pedi a Ele por nós.
• Boa obra: visitar alguém doente.

Sexto dia

“Vinde a mim, […] e eu vos darei descanso.” (Mt 11,28)
Pode a mãe esquecer seu filho? Sei, ó Maria, que não nos esqueceis,
mas tenho medo de me esquecer de vós. Peço-vos nunca perder
Deus nem a fé, e sempre confiar em vós. Ó Maria, feliz de quem vos
conhece e a vós recorre como o filho à sua Mãe. Ajudai-me em minha
prece.
• Boa obra: ir a uma igreja e rezar por alguém.

Sétimo dia

“Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38)
Maria, sempre fizestes tudo o que Deus vos pediu. Para que eu também
seja assim, ajudai-me a ouvir a Palavra de Deus, a meditar, a ouvir o que
Jesus ensinou. Atendei meu pedido nesta novena e não deixai que fique
acomodado na vida.
• Boa obra: ler Lc 1,39-56.

Oitavo dia

“[…] olhou para a humildade de sua serva.” (Lc 1,48)
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, quantas vezes me torno orgulhoso,
vaidoso, confiante nas coisas que passam. Tudo isso pode ocupar o
lugar de Deus em meu coração. Maria, livrai-me desta tentação de trocar
Deus pelas coisas da terra e descuidar da casa de Deus em mim.
Bondosa Mãe, socorrei-me com a graça de Jesus.
• Boa obra: ouvir e conversar, bondosamente, com um idoso ou uma
pessoa difícil.

Nono dia

“Maria, porém, guardava todas as coisas, meditando-as no seu
coração” (Lc 2,19).
Quantas vezes, ó Maria, meu coração fica triste, atribulado, cheio
de dúvidas e angustiado. Isso acontece, porque não me recolho no
silêncio da oração nem procuro ver o que Deus quer de mim. Não
sei escutar o Senhor. Maria, peço-vos a graça de acreditar que Deus
me ama sempre, mesmo na dor.
• Boa obra: passar o dia alegre e não se aborrecer.

(Fonte - Canção Nova)

O que significa ser escravo de Maria?




Saiba o significado de nos fazer escravos de Maria Santíssima e se essa devoção não se opõe à nossa amizade com Deus.
Ser escravos significa primeiramente entrar num caminho de perfeição, elevando nosso grau de dependência de nosso Senhor Jesus Cristo e da Santíssima Virgem Maria. Como dissemos em artigos anteriores, todos os homens são servos de Nossa Senhora por natureza. Este é o primeiro grau de dependência. Pelo sacramento do Batismo, nos tornamos filhos de Maria. Dessa forma avançamos para o segundo grau de dependência. Não satisfeitos com laços ordinários que nos unem a Mãe de Deus como criaturas e como cristãos, desejamos confirmar este estado de dependência, entregando-nos amorosa e radicalmente a ela, sem reservas, nem restrições.

Anunciação do Anjo a Virgem de Maria
Ser escravo é o primeiro grau na consagração voluntária à Santíssima Virgem. Este é o fundamento dos outros graus da consagração, que está em conformidade com a palavra do Evangelho: “…aquele que se humilhar será exaltado” (Mt 23, 12b). Devemos humilhar-nos diante de Nossa Senhora, para que ela nos eleve até Jesus. Em outras palavras, devemos fazer-nos seus escravos, para que ela nos eleve como filhos muito amados. Não há nada de mais inferior, insignificante, nem de mais humilde do que o escravo.

O que é a escravidão de amor a Santíssima Virgem?
Antes de dizer o que é a escravidão de amor a Nossa Senhora, em primeiro lugar vejamos o que é a escravidão de modo geral. A escravidão é a dependência total e absoluta de uma pessoa para com seu senhor. O escravo não se pertence mais, mas passar a ser “coisa e propriedade” de quem o possui. Ele está sob o poder absoluto de seu dono, que pode servir-se dele como quiser, em proveito próprio. O escravo pertence totalmente e para sempre ao seu dono, com tudo o que possui, sem exceção nenhuma. Ele trabalha sem direito de exigir um salário. Seu senhor tem todo o direito sobre ele, podendo decidir sobre sua vida e morte. Este é o modo mais radical de escravidão, que infelizmente ainda existe em todo mundo, principalmente nos países dominados pelo islamismo e pelo comunismo. No entanto, apesar da imoralidade da escravidão, ela pode servir como um bom exemplo de dependência total, próprio da espiritualidade da consagração a Jesus Cristo, pelas mãos da Virgem Maria.
O servo, ao contrário do escravo, é livre e presta seus serviços por um salário, durante um tempo determinado. Além disso, normalmente o empregado tem o direito de exigir um salário digno, conforme as suas necessidades e até mesmo de escolher outro patrão, caso o atual não esteja do seu agrado. Com esta simples definição, verificamos que não somos simplesmente servos de Jesus Cristo e de Maria Santíssima, mas verdadeiramente seus escravos.
Notemos que a escravidão de amor não é uma fórmula nova, suspeita ou inspirada por uma devoção repleta de entusiasmo sentimental, próprio dos principiantes. A escravidão é o pensamento fundamental da religião, que tem suas raízes no santo Batismo. Nele, rompemos com o jugo da escravidão do pecado, do mundo e do demônio, para sermos escravos de Jesus Cristo (cf. 1 Cor 7, 23; Rm 6, 20-22). A escravidão é o que há de mais radical de entrega em nossa relação com Jesus Cristo.
São Luís Maria nos ensina que há três espécies de escravidão, ou pelo menos, três títulos que expressam esta dependência do gênero humano para com Deus: 1) A escravidão por natureza. Todas as criaturas são escravas de Deus neste sentido; 2) A escravidão por constrangimento, ou coação, em que alguém é reduzido à servidão, seja por violência, seja por uma lei justa ou injusta. Tal é a escravidão dos demônios e dos réprobos; 3) A escravidão por amor, ou por livre vontade. Nesta, escolhemos Deus e o seu serviço acima de todas as coisas, mesmo que a natureza não nos obrigue a isso1. “Em resumo, e como aplicação destas três espécies de escravidão: todas as criaturas são escravas de Deus pelo primeiro modo; os demônios e réprobos, pela segunda; os justos e santos, pela terceira”2.
Na prática, a consagração, ou escravidão de amor, a Jesus pelas mãos de Maria não é outra coisa, senão a confirmação, por livre vontade, do que nós já somos chamados por natureza, isto é, para a glória e a felicidade dos justos e santos.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “A escravidão dos filhos de Deus”:
O significado dos termos servo e escravo
O sentido atual da palavra servo é diferente do tempo da vida terrena de Jesus Cristo. Naquele tempo, usava-se o termo “servus”, servo em latim, no sentido de escravo. Para empregados, a palavra latina usada era “mercennariis”, que significa empregado ou contratado. Esta é a palavra usada na passagem do chamado de Tiago e João: “Et, relicto patre suo Zebedaeo in navi cum mercennariis, abierunt post eum”; que se traduz assim: “Eles deixaram na barca seu pai Zebedeu com os empregados e o seguiram” (Mc 1, 20). Por isso, devemos tomar no sentido de escravos as palavras latinas: servus – ancilla, que aparecem em diversas passagens das Sagradas Escrituras.
Vejamos algumas passagens bíblicas, nas quais aparece a palavra servo, que devemos interpretar com o significado de escravos: os profetas chamam o Messias de servo de Deus, em latim “Servus Dei” (Dn 6, 21; 9, 11); o apóstolo São Paulo nos ensina que Jesus Cristo tomou a aparência do servo – “formam servi accipiens” (Fl 2, 7); no mistério da Anunciação, a Virgem de Nazaré se intitula: “a serva do Senhor” – “ancilla Domini” (Lc 1, 38); o Apóstolo dos gentios dá a si mesmo o nome de servo de Deus: “Paulus servus Dei” (Tt, 1, 1). Em todas essas passagens, emprega-se as palavras latinas: servus – ancilla no sentido de escravo.
A imprecisão na tradução da Bíblia por vezes não nos ajuda a compreender o sentido original to texto, que quis comunicar o escritor sagrado. A palavra escravo em grego: δοῦλος – doulos, traduz-se em latim por: servus, e em português significa escravo. No entanto, a mesma palavra:doulos, em grego, e servus, em latim, é traduzida, na maioria das vezes, por servo; e no seu sentido correto, que é escravo, poucas vezes.
Vimos acima, em várias passagens, que a palavra latina servus é traduzida por servo. Agora vejamos algumas passagens do mesmo texto sagrado, nas quais a palavra servus é traduzida por escravo. A respeito da condição dos fiéis em sua época, São Paulo pergunta: “Servus vocatus es?”. Esta mesma passagem é traduzida por: “Eras escravo, quando Deus te chamou?” (1 Cor 7, 21). Isto pode até nos escandalizar, mas o Apóstolo dos gentios diz “qui liber vocatus est, servus est Christi!”, ou seja, “quem era livre por ocasião do chamado, fez-se escravo de Cristo” (1 Cor 7, 23). Em outra passagem, o próprio Cristo nos fala da grandeza de se fazer escravo: “et, quicumque voluerit inter vos primus esse, erit vester servus”, que se traduz por: “E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo” (Mt 20, 27). O Senhor disse isso e deu o exemplo, porque foi a primeiro a se rebaixar, fazendo-se semelhante aos homens: “sed semetipsum exinanivit formam servi accipiens – “mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fl 2, 7).
A exemplo de Jesus Cristo, muitos santos se fizeram escravos: “‘Sou a escrava de Cristo – dizia Santa Ágata – e por este título me declaro de condição servil’. ‘Para ser devoto escravo do Filho – escreveu Santo Ildelfonso – suspiro por tornar-me fiel escravo da Mãe’.
E São Bernardo: ‘Sou um vil escravo, para quem é honra demais servir, como tal, o Filho de Maria’”3. Assim falaram também muitos outros santos, piedosos, sábios, como São Pedro Damião, Santa Teresa, São João Eudes. Orações como a de Santo Inácio de Loyola: “Recebei, Senhor, minha liberdade”, bem como a do Padre Zucchi: “Ó minha soberana…”, são fórmulas expressas da santa escravidão a Jesus e a Maria. Estas e outras fórmulas de consagração foram aprovadas pela Santa Sé. O Papa Urbano VIII, no ano de 1636, aprovou os Cônegos do Espírito Santo, que se consagraram a Jesus e Maria na qualidade de escravos. Dois séculos depois, o Papa Leão XIII, em 1887, aprovou também os “Escravos do Sagrado Coração”, e enriqueceu com indulgências a congregação inspirada por Jesus Cristo a Santa Margarida Maria de Alacoque, que assim declara sua entrega total: “Quero fazer consistir toda a minha felicidade em viver e morrer como sua escrava”4.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo com o tema “Empregados ou escravos?”:
A escravidão e a amizade com Deus
A santa escravidão não está em oposição com o espírito de infância e de amor que anima o cristianismo. O Senhor Jesus disse: “Iam non dico vos servos, quia servus nescit quid facit dominus eius; vos autem dixi amicos, quia omnia, quae audivi a Patre meo, nota feci vobis”; vemos nesta passagem novamente a palavra servus traduzida por servo, e não por escravo: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). O fato de Cristo ter nos chamado de amigos e não de escravos nada prova contra a consagração. Pois, quando um príncipe, pela amizade que tem para com um de seus escravos, concede-lhe inúmeros benefícios e o chama de amigo, mas não o tira do estado em que se encontra, ele não deixa de ser escravo, apesar da amizade do príncipe. O senhor poderia libertar seu escravo. Todavia, Deus não pode nos libertar, pois a escravidão em relação a Ele está essencialmente ligada à nossa condição de criaturas. Servindo-nos da comparação acima, como o escravo feito amigo de seu príncipe, nós também nos tornamos amigos de Jesus, sem deixar de ser escravos.
A história do Brasil, mal contada em nossos dias, e os abusos de muitos senhores para com seus escravos desacreditaram a palavra escravidão. Por isso, ao propagar a ideia de nossa escravidão para com Deus, certamente rejeitamos a opressão de muitos senhores para com seus escravos e a falta de dignidade com que eram tratados. Entretanto, estas circunstâncias acidentais, de modo algum caracterizam a essência da condição de escravos. Se na antiguidade houve maus senhores, houve também os bons, do mesmo modo que atualmente há bons e maus patrões.
Nós que, por vezes, nos gloriamos de ser “escravos” do dever, da honra, de uma beleza passageira, não devemos nos envergonhar de ser escravos de Deus, de Jesus Cristo, e da beleza eterna da Santíssima Virgem. Pois, o Filho de Deus e a Virgem Maria estão infinitamente acima de todas as coisas passageiras deste mundo. Estas, muitas vezes nos atraem para o que é ilícito, imoral, pecaminoso, enquanto que a beleza de nossa Mãe santíssima nos atrai para seu divino Filho e para as coisas do alto (cf. Cl 3, 1). Dessa forma, a escravidão a Nossa Senhora é um meio excelente de nos colocar em verdadeira amizade com Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor.
A lógica evangélica da consagração: quem se humilhar será exaltado
Lembremo-nos que nosso Mestre e Senhor nos ensinou que, na lógica do Reino de Deus, o que nos eleva e transfigura é a humilhação: “qui se humiliaverit, exaltabitur” – “aquele que se humilhar será exaltado” (Mt 23, 12b). Recordemo-nos também que a mesma lógica vale no sentido contrário: “Qui autem se exaltaverit, humiliabitur” – “Aquele que se exaltar será humilhado” (Mt 23, 12a). Nesta lógica, apresentada a nós por Jesus Cristo, quanto mais profundamente nos humilharmos, tanto mais seremos exaltados. Por isso, se desejamos crescer na intimidade com Deus, abaixemo-nos até o último grau, tornando-nos seus escravos. Foi isto que o Senhor ensinou aos discípulos: “o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos” (Mc 10, 44).
Vejamos como esta lógica do Evangelho de Jesus Cristo está presente no pensamento de São Luís Maria Grignion de Montfort, o grande Apóstolo de Nossa Senhora, no seu clássico livro “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem”:
Depois de ler quase todos os livros que tratam da devoção à Santíssima Virgem e de conversar com as pessoas mais santas e instruídas destes últimos tempos, declaro firmemente que não encontrei nem aprendi outra prática de devoção à Santíssima Virgem semelhante a esta que vou iniciar, que exija de uma alma mais sacrifícios a Deus, que a despoje mais completamente de seu amor-próprio, que a conserve com mais fidelidade na graça e a graça nela, que a una com mais perfeição e facilidade a Jesus Cristo, e, afinal, que seja mais gloriosa para Deus, santificante para a alma e útil ao próximo5.
Meditemos sobre a sublimidade desta escravidão de amor a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria e peçamos a Deus a compreensão dessa devoção, pois esta é um segredo, que não é revelado senão às almas humildes e generosas.
Oração de Santo Inácio de Loyola
Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, minha memória, minha inteligência e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo.
De vós recebi; a vós, Senhor o restituo. Tudo é vosso; disponde de tudo inteiramente, segundo a vossa vontade. Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta6.
(Fonte: Canção Nova - Blog Natalino Ueda)
Links relacionados:
PADRE PAULO RICARDO. Servos e amigos de Deus.
Referências:
1 Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, 70.
3 Idem, p. 55.
4 Idem, ibidem.
5 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Op. cit., 118.
6 CATÓLICO ORANTE. Santo Inácio de Loyola.



Ano A - Mateus 9,9-13

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