Sentenças Diversas, das Cartas de Santo Antão e sobre as Virtudes Teologais.

 


Se tiverdes fé como um grão
de mostarda,
direis a este monte:

`Muda-te daqui para ali',

e ele se mudará,
e nada vos será impossível.

 

Mt. 17,20

Se a vossa justiça não exceder
a dos escribas e a dos fariseus,
não entrareis no Reino dos Céus.

Ouvistes o que foi dito aos antigos:

`Não matarás'.

Eu, porém, vos digo:
todo aquele que se encolerizar contra o seu irmão
será réu em juízo.

Ouvistes (também) o que foi dito:

`Não cometerás adultério'.

Eu, porém, vos digo:
todo aquele que olha
para uma mulher para cobiçá-la,
já cometeu adultério com ela
em seu coração.

Entrai pela porta estreita,
porque larga é a porta
e espaçoso o caminho
que conduz à perdição,
e muitos são os que entram por ele.

 

Mt. 5,1; 20-27; 7,13.

 

 

1 Quem se aproxima das lições das Sagradas Escrituras com o desejo de aprender, deve considerar primeiro qual é o assunto de que tratam, pois assim poderá alcançar mais facilmente a verdade e a profundidade de suas sentenças.

A matéria de todas as Sagradas Escrituras é a obra da restauração humana.

2 O fim a que deve aspirar cada cristão é, segundo o permitirem as próprias forças, observar exatamente a lei divina e os conselhos evangélicos, cuidando, neste sentido, excluídos os casos de extrema necessidade, em primeiro lugar de si próprios e em seguida do próximo, naqueles ministérios de caridade que, de acordo com os tempos e lugares, devem ser executados para buscar a maior glória de Deus e o próprio adiantamento espiritual, as quais duas coisas não devem afastar-se jamais da mente e do coração de cada um.

3 O maior mandamento do Cristianismo é o da caridade para com Deus:

"Amarás o Senhor teu Deus
com todo o teu coração,
com toda a tua alma,
com toda a tua mente,
e com todas as tuas forças".

 

Mc. 12,28

4 A Escritura nos manifesta o quanto devemos amar o nosso bem que é Deus. Não preceituou apenas que o amássemos, ou que amássemos apenas a Deus, mas que o amássemos o quanto pudéssemos.

A tua possibilidade será a tua medida; quanto mais o amares, mais o terás.

5 O mandamento da caridade divina é a nova aliança que o Senhor fêz, escrevendo sua lei em nossa mente e em nosso coração e fazendo de nós templos do Espírito Santo.

Cada cristão o explicará aos seus filhos, meditará nele quando sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao dormir e ao levantar, o ligará como um sinal às suas mãos, estará e se moverá entre seus olhos, e o escreverá no limiar e nas portas de sua casa.

6 Quem desejar cumprir verdadeiramente o mandamento da caridade divina deve, primeiramente, renunciando a si próprio, decidir-se a abandonar toda obra e ocupação que tenha caráter pessoal e dedicar-se exclusivamente àquelas ocupações que tenham razão de caridade.

7 A primeira e mais fundamental de todas as ocupações que têm razão de caridade é a oração.

A oração é uma elevação da mente a Deus, para lhe pedir a fé e a graça do Espírito Santo.

Por meio da fé aprendemos a desprezar as coisas visíveis enquanto visíveis. Sem fé é impossível crescer no mandamento do amor.

Antes de tudo o mais, deve-se orar incessantemente sem jamais desanimar, e dar graças a Deus por tudo aquilo que em nossa vida ocorreu e por tudo aquilo que há de ocorrer.

Quando alguém se entrega a Deus pela oração, Deus tem piedade dele e lhe concede o Espírito de conversão.

 

8 Depois da oração, deve-se renunciar a todas as demais obras, grandes e pequenas, que não tenham razão de caridade e, em todas as demais obras além da oração, deve-se pedir a Deus para não as fazer apenas por um amor virtual, mas também por um amor atual a Deus, de tal modo que, fazendo-as, isto contribua para elevar a memória até Deus, conforme diz o salmista:

"Cantai ao Senhor um cântico novo,
louvai o seu nome entre danças".

9 Diz o Senhor:

"Deixemos os mortos
sepultar os seus mortos".

É preciso, pois, que muito nos acautelemos da malícia e da sutilidade de Satanás, que não quer que o homem eleve o seu espírito e coração para o Senhor seu Deus. Ele nos espreita sem cessar, e gostaria, sob as aparências de uma recompensa ou vantagem, atrair para o seu lado o coração do homem e sufocar-lhe na memória a palavra e os preceitos do Senhor, e obcecar-lhe o coração por meio das solicitudes e cuidados mundanos e nele habitar.

Na verdade, acontece que habitamos na própria morada do ladrão.

Nela estamos presos pelas cadeias da morte.

Importa, pois, se nós compreendemos a nossa morte espiritual, que muito nos vigiemos a nós mesmos, a fim de não perdermos ou desviarmos do Senhor a nossa mente e o nosso coração sob a aparência de uma recompensa ou obra ou vantagem. Mas na santa caridade que é Deus, que todos removam todos os obstáculos e posterguem todos os cuidados para, com o melhor de suas forças, servir, amar, adorar e honrar de coração reto e mente pura o Senhor nosso Deus, pois é isso o que Ele deseja sem medida.

E que Deus abençoe a todos os que isto ensinarem, aprenderem, guardarem, recordarem e praticarem.

10 A obra pela qual o homem pode agradar a Deus é a lei e a obra da caridade.

Ela é a boa vontade, que perfeitissimamente agrada a Deus.

Cumpre-a aquele que incessantemente louva a Deus com pensamentos puros, que produzem a memória de Deus e a memória dos bens que Ele nos prometeu, e que em nós cumpriu por obras, e de sua grandeza. Da memória destas coisas se origina no homem aquele amor perpétuo que nos foi prescrito: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e com toda a tua força". Está também escrito: "Como a corça que suspira pelas águas da torrente, assim minha alma suspira por vós, ó Senhor".

Assim é necessário que cumpramos para com o Senhor esta obra e esta lei, para que em nós se cumpra aquela sentença do Apóstolo: "Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? Certamente nem as tribulações, nem as tristezas, nem a fome, nem a nudez, nem as angústias, nem a espada, nem o fogo".

11 Deve-se considerar que, se se age assim, todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

12 Não se deve preocupar com a própria vida, nem pelo que haverá para se comer, ou pelo que haverá para se beber, e nem pelo corpo, pelo que haverá para se vestir. Deve-se preocupar, ao contrário, em primeiro lugar, em buscar o Reino de Deus. Todas as demais coisas serão acrescentadas, porque o trabalhador tem direito ao seu sustento.

13 Se pudéssemos ver os fios sutis com que a providência urde a tela de nossa vida, apoderar-se-iam de nós sentimentos de gratidão e amor para com nosso bom pai celestial e, deixando nas suas mãos todo o cuidado sobre o nosso futuro, contentar-nos-íamos de ser a pequena lançadeira que doce e calmamente desliza entre os fios da urdidura divina.

14 Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só, como é; mas, se morrer, produz abundante fruto.

Jo. 12,24

15 Pela glória de Deus, pela sua salvação, e pela dos próximos, deve- se estar verdadeiramente dispostos a padecer muito, ser burlado, desprezado e sofrer voluntariamente trabalhos e tribulações.

16 Deve-se, finalmente, agir de tal maneira que a principal ocupação seja sempre a oração; para que Deus habite permanentemente em nós pela caridade, devemos também construir em nós uma casa para a fé, para que se realizem as palavras de São Paulo:

"Já que ressuscitastes com Cristo,
procurai as coisas do alto,
pensai nas coisas do alto,
não vos interesseis pelas terrenas,
já que vós morrestes,
e vossa vida está escondida
com Cristo em Deus";

e também as de Cristo:

"A tua fé te salvou".

 

Lc. 8,4


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