Por
São Cirilo de Alexandria
Causa-me profunda
admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe
de Deus. Realmente, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não
pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou? Esta verdade
nos foi transmitida pelos discípulos do Senhor, embora não usassem esta
expressão.
Assim fomos
também instruídos pelos santos Padres. Em particular Santo Atanásio (295 -373),
nosso pai na fé, de ilustre memória, na terceira parte do livro que escreveu
sobre a santa e consubstancial Trindade, dá frequentemente à Virgem Santíssima
o título de Mãe de Deus.
Vejo-me obrigado
a citar aqui as suas palavras, que têm o seguinte teor: “A Sagrada Escritura,
como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de
Cristo Salvador essas duas coisas: que Ele é Deus e nunca deixou de o ser,
visto que é a Palavra do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes
últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da Virgem
Maria, Mãe de Deus”. E continua mais adiante: “Houve muitos que já nasceram
santos e livres de todo pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno;
também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria ao ouvir a voz de
Maria Mãe de Deus”. Estas palavras são de um homem inteiramente digno de lhe
darmos crédito, sem receio, e a quem podemos seguir com toda segurança. Com
efeito, ele jamais pronunciou uma só palavra que fosse contrária às Sagradas
Escrituras.
De fato, a
Escritura, verdadeiramente inspirada por Deus, afirma que a Palavra de Deus se
fez carne, uniu-se à alma dotada de alma racional. Portanto, a Palavra de Deus
assumiu a descendência de Abraão e, formando para si um corpo vindo de uma
mulher, tornou-se participante da carne e do sangue. Assim, já não é somente
Deus mas também homem, semelhante a nós, em virtude da sua união com a nossa
natureza. Por conseguinte, o Emanuel, Deus conosco, possui duas realidades,
isto é, a divindade e a humanidade. Todavia é um só Senhor Jesus Cristo, único
e verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem.
Não é apenas um
homem divinizado, igual àqueles que pela graça se tornam participantes da
natureza divina; mas é verdadeiro Deus que, para nossa salvação, se tornou
visível em forma humana, conforme Paulo testemunha com as seguintes palavras:
“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de uma
mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei
e para que todos recebêssemos a filiação adotiva” (Gal 4, 4-5).
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