Semana Santa - Sexta-Feira da Paixão





Sexta-feira da Paixão  - Mistério de amor

A tarde da Sexta-feira Santa apresenta o drama incomensurável da morte de 
Cristo no Calvário. A cruz erguida sobre o mundo segue de pé como sinal de 
salvação e de esperança. Com a Paixão de Jesus, segundo o Evangelho de 
João, contemplamos o mistério do Crucificado, com o coração do discípulo 
Amado, da Mãe, do soldado que lhe traspassou o lado. Há um ato simbólico 
muito expressivo e próprio deste dia: a veneração da Santa Cruz, momento 
em que é apresentada solenemente a cruz à comunidade.




Via-sacra

Ao longo da Quaresma muitos fiéis realizam a Via Sacra com uma forma de 
meditar e fazer memória do caminho doloroso que Jesus viveu até a crucifixão
 e morte na cruz.
A Igreja nos propõe esta meditação para nos ajudar a rezar e a mergulhar na 
doação e misericórdia de Jesus que se doou por nós. Em muitas paróquias 
e comunidades são realizadas a encenação da Paixão, Morte e Ressurreição 
de Jesus Cristo, através da meditação das 14 estações da Via Crúcis.


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Nada o detém na sua entrega amorosa




Vamos começar nossa reflexão a partir das palavras que São João usa 
para sintetizar o que aconteceu na Última Ceia e na Paixão de Jesus
“Tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” 
(Jo 13, 1).
Amar até o fim significa que, no caminho da sua entrega por nós 
na cruz, Jesus seguiu todas as etapas, sem deixar uma só, e che-
gou até o final. As penúltimas palavras que pronunciou na cruz 
foram: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30), antes de clamar: “Pai, 
nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23, 46).
Mas amar até o fim também significa que Cristo, na cruz, nos amou sem 
limite algum, sem recuo algum, sem se poupar em nada, até o extremo. 
Nada limitou o amor do Senhor por nós. Não se deteve em barreiras, não 
O arredou nenhuma dor, nenhum sacrifício, nenhum horror. Acima do Seu 
bem-estar, da Sua honra, 
da Sua vida, colocou a salvação dos que amava, de cada um de nós.
Já pensamos no que é um amor ilimitado? Um amor que não depende 
de nada, nem exige nada, para se dar por inteiro?
O amor de Cristo começa sem que nós O tenhamos amado, não é retri-
buição, é puro dom; e chega até o extremo ainda que nós não o corres-
pondamos, melhor dizendo, no meio de uma brutal falta de correspondên-
cia. Nisso consiste o amor – esclarece São João –: “Não em termos nós 
amado a Deus, mas em que Ele nos amou primeiro e enviou o seu Filho 
para expiar os nossos pecados” (1 Jo 4, 10).


A meditação da Paixão, neste sentido, é transparente. Nenhum sofrimento 
físico aparta Jesus da cruz. Basta que contemplemos – como numa sequência
 rápida de planos cinematográficos – Cristo preso, amarrado, arrastado 
indignamente, esbofeteado, açoitado até a Sua carne se converter numa 
pura chaga, coroado de espinhos, esfolado e esmagado sob o peso da 
cruz e de nossos pecados, cravado com pregos ao madeiro, torturado pela
dor, pela sede, pelo esgotamento... Nada O detém na Sua entrega amorosa.
Podemos projetar também – em flashes consecutivos – a sequência dos sofri-
mentos morais do Senhor, e perceber que tampouco conseguiram afastá-Lo 
de chegar até o fim. É caluniado, ridicularizado, julgado iniquamente, conde-
nado injustamente; alvo de dolorosa ingratidão, de hedionda traição; é ferido 
pela infidelidade, pela falta de correspondência dos que amava e escolhera 
como Apóstolos; é atingido pelas troças mais grosseiras, pelos insultos mais
 ferinos, por escarros e tapas no rosto...
Nada O faz recuar, nem sequer a última humilhação, pois não O deixa-
ram morrer em paz, e desrespeitaram com zombarias e insultos até os 
últimos instantes da Sua agonia. Os que passavam perto da cruz sacu-
diam a cabeça e diziam: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz!”
Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam 
de Jesus nessa hora: “Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! 
Se é rei de Israel, desça agora da cruz e creremos nele; confiou em Deus, que
 Deus o livre agora, se o ama...” (Mt 27, 39-43). Esta doação sem limites de 
Cristo é o Amor que nos salva, o caminho que Ele quis escolher para nos 
livrar do mal, afogando-o em si – no Seu Amor – como num abismo.
Ao mesmo tempo, é um contínuo apelo ao nosso amor. “Quem não amará o 
Seu Coração tão ferido? – perguntava São Boaventura. Quem não retribuirá 
o amor com amor? Quem não abraçará um Coração tão puro? Nós, que so-
mos de carne, pagaremos amor com amor, abraçaremos o nosso Ferido, a 
quem os ímpios atravessaram as mãos e os pés, o lado e o Coração. 

Peçamos que se digne prender o nosso coração com o vínculo do Seu 
amor e feri-lo com uma lança, pois é ainda duro e impenitente.

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