domingo, 12 de janeiro de 2014

Para sempre fiéis


Foto: Wesley Almeida/ Fotos CN
'Livres para amar' é o tema de, basicamente, toda a história do povo de Deus no Antigo e no Novo Testamento. Uma história de amor com Deus marcada pela fidelidade d'Ele e pela traição de Seu povo. A expressão “Deus é fiel”, muitas vezes, é interpretada como uma garantia de que Deus vai nos dar tudo o que quisermos. Na realidade, há muito mais por trás da fidelidade divina. Não é uma história mercantilista, de troca de favores; na verdade, é uma história de amor.

Ontem, falávamos de dois casamentos contidos na Bíblia. O casamento de Adão e Eva e o casamento de Deus com a humanidade. Também ontem, aprendemos que nós queremos ser felizes, mas não existe nenhum homem ou mulher que nos fará felizes; apenas Deus.

Deus nos criou para uma felicidade muito maior do que possamos imaginar. Ninguém pode imaginar o que é a felicidade no céu. Muitas pessoas não entendem por que pecam. Nós pecamos, porque queremos ser feliz, mas procuramos a felicidade onde ela não se encontra.

O Papa João Paulo II elaborou uma frase que traz esta definição de pecado: "Pecado é buscar Deus onde Ele não se encontra". Por que o drogado consome droga? Porque ele quer ser feliz. Mas a felicidade não está na droga. No fundo do coração do pecador mais infiel existe um grito que está clamando por Deus, mas ele não sabe disso. Nós temos de anunciar esta verdade às pessoas.

O homem e a mulher são diferentes até na forma de pecar. O homem é mais cabeça dura. Ele diz: "Eu quero ser feliz". Então, ele busca uma mulher; e quando não consegue ser feliz, acredita que ela é a mulher errada. Ele trocha de mulher e vai "batendo a cabeça" sempre no mesmo erro. Agindo assim, o homem está buscando Deus em uma mulher. Você que se tornou um dependente compulsivo por sexo, você está procurando Deus, mas você O está buscando no lugar errado.

A mulher é diferente, ela é mais criativa. Ela diz para o marido: "Eu quero ser feliz e preciso que você me dê carinho". Quando ela recebe carinho e não se sente plenamente feliz, acha que precisa de um sapato; depois, de uma viagem... E vai buscando, em diferentes coisas, a felicidade. O grande problema não resolvido para Freud é: “O que é que a mulher quer?”. O homem é obcecado sempre pela mesma coisa. A mulher é diferente, nunca sabe o que quer. A Igreja sabe o que a mulher quer, só que ela está buscando no lugar errado.

Estamos buscando respostas desencontradas para nossas ansiedades. Nós queremos o Senhor e estamos nos confundindo. Com o pecado original aconteceu uma tragédia. Adão e Eva viviam felizes no paraíso; viviam nus e esta nudez original do corpo era uma imagem que os conduzia para Deus.Quando Adão olhava para Eva, ela via nela um dom maravilhoso do amor de Deus, o corpo dela era como uma vitrine que o levava a ver o Senhor. E assim também acontecia com Eva, quando ela olhava para Adão. Quando o homem está na santidade, o corpo humano é um ícone, ou seja, o contrário de um ídolo. No grego, ícone e ídolo querem dizer imagem, mas o ídolo é uma imagem do deus falso, já o ícone nos leva ao Deus verdadeiro.

O homem é visual. Se você fizer uma pesquisa, descobrirá que quem mais consome pornografia na internet é ele. A mulher é diferente. Em sua sexualidade, ela tem necessidade de retirar a roupa, mostrar-se, ela quer ser vista. Veja como estamos aprisionados em um mecanismo de idolatria. Ser idólatra é transformar uma imagem, que deveria me levar para Deus, em um deus. O homem dobra-se diante da nudez de uma mulher e a idolatra, por isso não tem mais condições de viver aquela nudez original. Se fossemos santos e víssemos o corpo de uma mulher, cairíamos de joelhos e adoraríamos Deus. Como não estamos na pureza original do paraíso, nós temos de nos vestir de “roupas de figueira”, assim como Adão e Eva. O pecado original faz com que o homem e a mulher se idolatrem mutuamente.

Mesmo quem não tem fé pode perceber o que vou dizer agora. Nós buscamos a felicidade, neste mundo, mas ela não está à nossa disposição. Você consegue ver isso, perfeitamente, dentro de você. Você não precisa nem acreditar na Igreja para perceber isso, pois percebe em você se for sincero. O que você diria se visse uma pessoa batendo a cabeça na parede? Pensaria que ela está louca. Nós somos esta pessoa, porque buscamos a felicidade em lugares nos quais ela não está, e nós insistimos no erro. Quantas vezes você buscou a felicidade no álcool, no adultério, na masturbação e ela não estava lá? Você acumula frustrações e tristezas.

"A felicidade é diferente do prazer, pois a felicidade vem da alma", ensina padre Paulo.
Foto: Wesley Almeida/ Fotos CN
 
Temos duas alternativas: plano A e plano B. A primeira alternativa é que esta vida é um absurdo e a felicidade não existe. Deus não existe, pois não conseguimos ser feliz. E podemos pensar que tudo termina aqui. A segunda alternativa é que não há problema que eu não esteja sendo plenamente feliz nesta vida, pois ela é apenas uma preparação para a segunda vida no céu. Lá teremos a felicidade perfeita. Para acreditar nesta segunda opção, você precisa ter fé. Para detectar o problema, você não precisa de fé, mas para encontrar a solução é preciso acreditar. Essa conclusão vem dos filósofos existencialistas, os quais chegaram a esta conclusão. Se Deus não existe, essa vida só tem angústia, morte e destruição. Essa foi a constatação dos filósofos.

Todo animal que tem sede de água é porque a água existe em algum lugar. Não é possível que o ser humano seja um animal defeituoso, que tem um desejo em seu coração e que não poderá saciar em nenhum lugar. Nenhum animal pratica o sexo do jeito que o ser humano pratica. Se um macaco tem uma relação sexual, ele fica plenamente satisfeito. O ser humano é capaz de ter várias relações sexuais em uma noite e não estar satisfeito. A felicidade é diferente do prazer, pois a felicidade vem da alma. O ser humano faz sexo e não fica plenamente satisfeito, porque ele foi feito para Deus. A sua insatisfação é a prova de que você foi feito para Deus.

Quais são as consequências disso? Você está neste mundo, mas você não é para este mundo. O que Jesus disse de si mesmo serve para o ser humano: “O filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Você já viajou de ônibus ou avião durante a noite? Você tenta dormir e busca várias posições; coloca a cabeça e não consegue uma posição boa durante toda a noite. Esta experiência nos mostra o que significa o que disse Jesus. Nossa vida, neste mundo, é uma viagem de ônibus. Você tenta reclinar a cabeça em diversas realidades, mas não encontra nunca a satisfação. Por quê? Porque você foi feito para Deus.

Quer dizer, então, que esta vida é ruim? Não! Esta vida é boa. Mas ela é como um banquete, e, antes dele, lhe oferecem um aperitivo. É uma coisa boa, mas não foi feito para saciar a pessoa. Esta vida é muito boa, mas é apenas um aperitivo. O prato principal é o céu.

Nós precisamos, a todo momento, de um exercício para colocar os nossos pés no chão. Este exercício se chama vida de oração. O problema é que, muitas vezes, nos sentimos um peixe fora d'água. Muitas pessoas vivem no pecado, e para isso não é preciso muito esforço. Ao contrário, para permanecer na fé é preciso esforço, é preciso oração, penitência e estudo.

Nossos três inimigos são: o mundo, a carne e o diabo. Eles prometem, mas não cumprem suas promessas. Eles não nos fazem feliz. Nós insistimos no erro de cair em seus enganos, por causa do pecado original, que quer nos fazer achar que a felicidade plena está neste mundo. Imaginem uma noiva que recebeu um presente e fica tão encantada que esquece do noivo. Uma mulher dessas é maluca, não é? Nós somos essa mulher. Deus nos deu esse mundo de presente e nós ficamos tão encantados com o presente e esquecemos de Deus.

Santo Tomás de Aquino nos ensina que a caridade sobrenatural não pode ser abusada, ao contrário do amor natural. Por exemplo: você ama seu filho, isso é bom. Mas você pode amá-lo tanto a ponto de ficar apegado a ele e isso se tornar uma carência, uma dependência. Já a caridade sobrenatural não tem limites. Qual a diferença entre o amor natural e o sobrenatural? É a razão, o porquê. Eu tenho que amar Deus, por causa d'Ele. Eu tenho que me amar, por causa de Deus, e eu tenho que amar o meu próximo por causa de Deus. E é assim que o amor é sobrenatural.

Vamos ver isso na prática. Amar Deus por causa de Deus. Santa Terezinha do Menino Jesus aprendeu que deveria amar Jesus por Ele mesmo. Mas muitos fazem assim: adoram Jesus no sacrário, porque querem ir para o céu, ou seja, estão adorando-O não por causa d'Ele mesmo, mas pelo interesse de ir para o céu. O amor sobrenatural não é o de quem ama como um escravo nem como um mercenário. Quem ama como escravo ama a Deus por medo do inferno. Quem O ama como mercenário, o faz, porque busca recompensas. Santa Terezinha dizia: "Eu gostaria de amar Deus sem que Ele soubesse que fui eu quem O amou. Ela O amava por quem Ele era, não em busca de recompensas.

Temos de transformar o nosso amor natural em um amor sobrenatural. Ame seus filhos, seus pais, todas as pessoas por causa de Deus. Como fazer isso? Quando seu filho lhe trouxer muitos sofrimentos e desgostos, e, por causa de Jesus, você permanecer amando-o, sem desistir dele, aí você ama com amor sobrenatural. Quando seus pais, depois de velhos, perdem a lucidez e lhe dão muito trabalho, mas, mesmo assim, você cuida deles, aí está o amor sobrenatural.

O amor de Jesus, o Esposo fiel, pede de nós um caminho de amor sobrenatural, de amar os outros, a mim mesmo e a Deus por causa d'Ele. Aqui, nesta terra, não temos morada definitiva; nosso repouso será o céu. Ele nos espera. Coragem!
Padre Paulo Ricardo 
Sacerdote da Arquidiocese de Cuiabá (MT)
www.padrepauloricardo.org

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