quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Tempo de Natal: nasceu para nós um Salvador!
O amor de Deus invisível se faz visível
O que vamos fazer nestes dias do tempo de Natal,
já desde a noite em que Jesus nasceu? Voltar os olhos e o coração
inteiramente para a figura do Menino envolto nos paninhos que a Mãe
trouxe de Nazaré e reclinado sobre as palhas do presépio. Não
sentimos desejos de olhar para Ele e Lhe dizer: Meu Senhor e meu
Deus!? Porque esse Menino, que vemos na manjedoura, é Deus feito
homem, que vem ao nosso encontro para nos salvar. Tanto amou Deus o
mundo – dizia Jesus a Nicodemos – que lhe deu Seu Filho único. O
Senhor não enviou o Filho ao mundo para condená-Lo, mas para que o
mundo fosse salvo por Ele (Jo 3,16).
O que vamos fazer nestes dias do tempo de Natal,
já desde a noite em que Jesus nasceu? Voltar os olhos e o coração
inteiramente para a figura do Menino envolto nos paninhos que a Mãe
trouxe de Nazaré e reclinado sobre as palhas do presépio. Não
sentimos desejos de olhar para Ele e Lhe dizer: Meu Senhor e meu
Deus!? Porque esse Menino, que vemos na manjedoura, é Deus feito
homem, que vem ao nosso encontro para nos salvar. Tanto amou Deus o
mundo – dizia Jesus a Nicodemos – que lhe deu Seu Filho único. O
Senhor não enviou o Filho ao mundo para condená-Lo, mas para que o
mundo fosse salvo por Ele (Jo 3,16).
domingo, 23 de dezembro de 2012
Maria, a Mãe da Misericórdia
Para aprender a misericórdia, conheçamos a escola de Jesus Cristo
Jesus Cristo disse aos Seus discípulos no Sermão da Montanha: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
A Palavra de Deus nos exorta a sermos misericordiosos, pois o Pai é misericordioso e, em Jesus Cristo usou de misericórdia para conosco. Somos chamados a usar dela também para com nossos irmãos, para com nossos amigos e inimigos. O julgamento pertence a Deus, por isso, não devemos julgar, mas perdoar as pessoas que nos ofenderam, maltrataram-nos e nos fizeram o mal.
Essa é a vontade do Pai a nosso respeito: que amemos os nossos inimigos e rezemos pelos que nos perseguem (cf. Mt 5,44). Ele nos convida a amar e a perdoar as pessoas que nos humilharam, desprezaram-nos e nos maltrataram. Porém, percebemos que, muitas vezes, não damos conta de amar e perdoar as pessoas que nos fizeram mal, que nos prejudicaram. Então, como podemos dar conta de exercer a misericórdia com aqueles que nos maltratam?
Para aprender a misericórdia, conheçamos a escola de Jesus Cristo, entremos na escola onde a Virgem Maria é a formadora, a educadora por excelência. Ela vai nos ajudar a vencer os nossos limites, nos ensinar a amar e a perdoar até mesmo os nossos inimigos, pois Nossa Senhora ensinou Seu Filho, mas também aprendeu de Jesus Cristo o amor, o perdão, a misericórdia, até mesmo para com os inimigos. Sendo assim, mais do que qualquer outra pessoa ela aprendeu a amar e a perdoar até mesmo aqueles que maltrataram, humilharam e mataram Seu Filho Jesus Cristo.
A Virgem Maria é a nossa mãe, aquela que nos ensinou, mas também aprendeu de Jesus Cristo. O caminho de humilhação, de perseguição, de morte de seu Filho, fizeram de Maria a mulher forte, a qual perseverou em oração, juntamente com os apóstolos e discípulos de Jesus (cf. At 1,14). Ela intercedeu pela Igreja nascente e continua a interceder por nós. Mais ainda, ela nos ajuda nesse caminho de crescimento no amor e na misericórdia, gerando, pelo Espírito, seu Filho Jesus Cristo em nós. Consagremo-nos a Ele pelas mãos desta boa mãe e mestra, para que, um dia, alcancemos a eternidade junto do Pai no Reino dos Céus.
A Virgem Maria é a nossa mãe, aquela que nos ensinou, mas também aprendeu de Jesus Cristo. O caminho de humilhação, de perseguição, de morte de seu Filho, fizeram de Maria a mulher forte, a qual perseverou em oração, juntamente com os apóstolos e discípulos de Jesus (cf. At 1,14). Ela intercedeu pela Igreja nascente e continua a interceder por nós. Mais ainda, ela nos ajuda nesse caminho de crescimento no amor e na misericórdia, gerando, pelo Espírito, seu Filho Jesus Cristo em nós. Consagremo-nos a Ele pelas mãos desta boa mãe e mestra, para que, um dia, alcancemos a eternidade junto do Pai no Reino dos Céus.
fonte - canção nova.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Deus Realiza o Impossível na Vida dos homens de Fé
Por exercer as funções sacerdotais, Deus
olhou misericordiosamente para as orações de Zacarias e cumpriu a
promessa aos homens justos e tementes a Ele. Esse casal, Zacarias e
Isabel, vivia uma vida que, para Deus, era correta, pois obedeciam,
fielmente, todas as leis e mandamentos do Senhor.
Por meio do anjo Gabriel,
extraordinariamente, Deus anuncia o nascimento de João Batista, pois
Isabel era já de idade avançada. Tocou-lhe exercer o seu ministério
enquanto oferecia o sacrifício divino pelos pecados do povo e também dos
seus.
Dentro desta dinâmica, Deus resolve
atender, dentre outros, os pedidos do próprio Zacarias. Conceder-lhe um
filho que, por providência divina, nasce de uma mulher da estirpe de
Aarão, cujo nome é Isabel. Pela razão aludida acima, Deus realiza o
impossível na vida dos homens de fé e, se aparece alguma dúvida apesar
da fidelidade, Ele manifesta o seu poder sobrenatural.
O povo, rezando do lado de fora, esperava
que Zacarias saísse depois do incenso. Enquanto isso, o anjo de Deus se
aproxima e conversa com Zacarias. E o conteúdo da conversa é: “Não tenha medo, Zacarias, pois Deus ouviu a sua oração! A sua esposa vai ter um filho, e você porá nele o nome de João”.
Neste filho se vê, antecipadamente, o
anúncio do nascimento do Messias, o Emanuel. Ele será mandado por Deus
como mensageiro e será forte e poderoso como o profeta Elias. Ele fará
com que pais e filhos façam as pazes e que os desobedientes voltem a
andar no caminho certo. Ele, João Batista, preparará o povo de Israel
para a vinda do Senhor.
Para Lucas, as aparições de anjos são o
sinal de que caíram as antigas barreiras entre o céu e a terra, ou, pelo
menos, estão por cair, como neste caso. A iniciativa parte de Deus,
porque tudo o que é grande vem d’Ele.
Zacarias, ante a impossibilidade humana,
expressa a pouca fé nas coisas altas e profundas. Ainda não sentiu que
para Deus nada é impossível e que Seu poder começa onde a fraqueza
humana mostra os limites de suas possibilidades. Como resultado do seu
comportamento, ele fica mudo até que a profecia se cumpra, porque para
Deus nada é impossível. Tanto tempo, muita demora e, como agravante,
aparece mudo. O povo reage desesperadamente. Como se comunicar com ele? O
que será isso? Que milagre terá acontecido? Por inspiração divina,
chegam à conclusão de que Zacarias teria tido uma visão. Deus lhe teria
falado.
Caríssimos irmãos, assim como a primavera
traz belas e perfumadas flores, o Advento nos traz vida. Somos chamados
com todo o rigor à conversão, à mudança de nossa vida. É preciso que
mudemos, de verdade, o nosso modo de agir e penetremos mais firmemente
no caminho do Reino. Se João Batista nos chama à conversão, Jesus, por
sua vez, chama-nos e convida a tomar parte no Reino. Se quisermos,
verdadeiramente, encontrar Deus, temos de nos converter profundamente.
Acolhamos a voz do anjo que nos anuncia a
chegada do Deus menino. Tenhamos uma fé firme e forte, que supere a de
Zacarias, pois ele foi norteado somente pela esperança profética. Quanto
a nós, sabemos e temos provas concretas da presença de Deus no mundo.
Padre Bantu Mendonça (canção nova)
Catequese de Bento XVI: A fé de Maria - 19/12/2012
Na última catequese de 2012,
nesta quarta-feira, 19, o Papa Bento XVI centrou suas reflexões sobre a
fé de Maria a partir do mistério da Anunciação. Ele destacou a humildade
e a obediência de fé da Virgem Maria.
: NA ÍNTEGRA: Catequese de Bento XVI – 19/12/2012
Queridos irmãos e irmãs,
No caminho do Advento a Virgem Maria ocupa um lugar particular como aquele que de modo único esperou a realização das promessas de Deus, acolhendo na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus, em plena obediência à vontade divina. Hoje, gostaria de refletir brevemente convosco sobre a fé de Maria a partir do grande mistério da Anunciação
“Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou”, “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é convosco” (Lc 1, 28). São estas as palavras – reportadas pelo evangelista Lucas – com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria. À primeira vista, o termo chaîre, “alegra-te”, parece uma saudação normal, como era usual no âmbito grego, mas esta palavra, se lida a partir da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. Este mesmo termo está presente quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento e sempre como anúncio de alegria pela vinda do Messias (cfr Sof 3,14; Gl 2,21; Zc 9,9; Lam 4,21). A saudação do anjo a Maria é também um convite à alegria, a uma alegria profunda, anuncia o fim da tristeza que há no mundo diante das limitações da vida, do sofrimento, da morte, da maldade, da escuridão do mal que parece obscurecer a luz da bondade divina. É uma saudação que marca o início do Evangelho, da Boa Nova.
Mas por que Maria é convidada a alegrar-se deste modo? A resposta está na segunda parte da saudação: “o Senhor está convosco”. Também aqui para compreender bem o sentido da expressão devemos dirigir-nos ao Antigo Testamento. No Livro de Sofonias encontramos esta expressão “Alegra-te, filha de Sião... Rei de Israel é o Senhor em meio a ti... O Senhor, teu Deus, em meio a ti é um salvador poderoso” (3,14-17). Nestas palavras há uma dupla promessa feita a Israel, à filha de Sião: Deus virá como Salvador e habitará em meio ao seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo escolhido por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; nela se cumpre a esperada vinda definitiva de Deus, nela toma morada o Deus vivente.
Na saudação do anjo, Maria é chamada “cheia de graça”; em grego o termo “graça”, charis, tem a mesma raiz lingüística da palavra “alegria”. Também nesta expressão esclarece-se a fonte de alegria de Maria: a alegria provém da graça, provém, isso é, da comunhão com Deus, do ter uma conexão tão vital com Ele, de ser morada do Espírito Santo, totalmente moldada pela ação de Deus. Maria é a criatura que de modo único abriu a porta a seu Criador, colocou-se em suas mãos, sem limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; está em atitude de escuta, atenta a acolher os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida em uma história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o cerne da sua existência. E se submete livremente à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.
O Evangelista Lucas narra a história de Maria por meio de um fino paralelismo com a história de Abraão. Como o grande Patriarca é o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus a sair da terra onde morava, da sua segurança, para iniciar o caminho para uma terra desconhecida e possuindo somente a promessa divina, assim Maria confia com plena confiança na palavra que lhe anuncia o mensageiro de Deus e se torna modelo e mãe de todos os crentes.
Gostaria de destacar um outro aspecto importante: a abertura da alma a Deus e à sua ação na fé inclui também o elemento das trevas. A relação do ser humano com Deus não apaga a distância entre o Criador e a criatura, não elimina o que afirma o apóstolo Paulo frente à profundidade da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos” (Rm 11,33). Mas propriamente aquele que – como Maria – está aberto de modo total a Deus, vem a aceitar a vontade divina, também se é misterioso, também se sempre não corresponde ao próprio querer e é uma espada que transpassa a alma, como profeticamente dirá o velho Simeão a Maria, no momento no qual Jesus é apresentado no Templo (cfr Lc 2,35). O caminho de fé de Abraão compreende o momento de alegria pela doação do filho Isaac, mas também o momento de treva, quando precisa ir para o monte Moria para cumprir um gesto paradoxal: Deus lhe pede para sacrificar o filho que havia acabado de lhe dar. No monte o anjo lhe ordena: “Não estenda a mão contra o menino e não lhe faça nada! Agora sei que tu temes a Deus e não me recusaste o teu filho, o teu unigênito” (Gen 22, 12); a plena confiança de Abraão no Deus fiel às promessas não é menor mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de acolher. Assim é para Maria, a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também pelas trevas da crucificação do Filho, para poder chegar à luz da Ressurreição.
Não é diferente também para o caminho de fé de cada um de nós: encontramos momentos de luz, mas encontramos também momentos no qual Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa, àquilo que nós queremos. Mas quanto mais nos abrimos a Deus, acolhemos o dom da fé, colocamos totalmente Nele a nossa confiança – como Abraão e como Maria – tanto mais Ele nos torna capazes, com a sua presença, de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. Isso, porém, significa sair de si mesmo e dos próprios projetos, para que a Palavra de Deus seja a luz que guia os nossos pensamentos e as nossas ações.
Gostaria de concentrar-me ainda sobre um aspecto que emerge nas histórias sobre a Infância de Jesus narrada por São Lucas. Maria e José levam o filho a Jerusalém, ao Templo, para apresentá-lo e consagrá-lo ao Senhor como prescreve a lei de Moisés: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (cfr Lc 2,22-24). Este gesto da Sagrada Família adquire um sentido ainda mais profundo se o lemos à luz da ciência evangélica de Jesus aos 12 anos, depois de três dias de busca, é encontrado no Templo a discutir entre os mestres. As palavras cheias de preocupação de Maria e José: “Filho, por que nos fez isso? Teu pai e eu, angustiados, te procurávamos”, corresponde à misteriosa resposta de Jesus: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? (Lc 2,48-49). Isso é, na propriedade do Pai, na casa do Pai, como o é um filho. Maria deve renovar a fé profunda com a qual disse “sim” na Anunciação; deve aceitar que na precedência havia o Pai verdadeiro e próprio de Jesus; deve saber deixar livre aquele Filho que gerou para que siga a sua missão. E o “sim” de Maria à vontade de Deus, na obediência da fé, repete-se ao longo de toda a sua vida, até o momento mais difícil, aquele da Cruz.
Diante de tudo isso, podemos nos perguntar: como pode viver Maria este caminho ao lado do Filho com uma fé tão forte, também nas trevas, sem perder a plena confiança na ação de Deus? Há uma atitude de fundo que Maria assume diante a isso que vem na sua vida. Na Anunciação Ela permanece perturbada escutando as palavras do anjo – é o temor que o homem experimenta quando é tocado pela proximidade de Deus - , mas não é a atitude de quem tem medo diante disso que Deus pode querer. Maria reflete, interroga-se sobre o significado de tal saudação (cfr Lc 1,29). O termo grego usado no Evangelho para definir este “refletir”, "dielogizeto", refere-se à raiz da palavra “diálogo”. Isto significa que Maria entra em íntimo diálogo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas se concentra, a deixa penetrar na sua mente e no seu coração para compreender isso que o Senhor quer dela, o sentido do anúncio. Um outro aceno para a atitude interior de Maria frente à ação de Deus o encontramos sempre no Evangelho de São Lucas, no momento do nascimento de Jesus, depois da adoração dos pastores. Afirma-se que Maria “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19); em grego o termo é symballon, poderíamos dizer que Ela “tinha junto”, “colocava junto” no seu coração todos os eventos que estavam acontecendo; colocava cada elemento, cada palavra, cada fato dentro de tudo e o comparava, o conservava, reconhecendo que tudo provém da vontade de Deus. Maria não para em uma primeira compreensão superficial disso que acontece na sua vida, mas sabe olhar em profundidade, deixa-se levar pelos acontecimentos, os elabora, os discerne, e adquire aquela compreensão que somente a fé pode garantir. É a humildade profunda da fé obediente de Maria, que acolhe em si também aquilo que não compreende do agir de Deus, deixando que seja Deus a abrir a mente e o coração. “Bem aventurada aquela que acreditou no cumprimento da palavra do Senhor” (Lc 1,45), exclama a parente Isabel. É propriamente pela sua fé que todas as gerações a chamarão bem aventurada.
Queridos amigos, a solenidade do Natal do Senhor que em breve celebraremos, convida-nos a viver esta mesma humildade e obediência de fé. A glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece em uma cidade famosa, em um suntuoso palácio, mas toma morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, sempre silenciosa, da verdade e do amor. A fé nos diz, então, que o poder indefeso daquele Menino no fim vence o rumor dos poderes do mundo. (Fonte: Noticias Canção Nova)
No caminho do Advento a Virgem Maria ocupa um lugar particular como aquele que de modo único esperou a realização das promessas de Deus, acolhendo na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus, em plena obediência à vontade divina. Hoje, gostaria de refletir brevemente convosco sobre a fé de Maria a partir do grande mistério da Anunciação
“Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou”, “Alegra-te, cheia de graça: o Senhor é convosco” (Lc 1, 28). São estas as palavras – reportadas pelo evangelista Lucas – com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria. À primeira vista, o termo chaîre, “alegra-te”, parece uma saudação normal, como era usual no âmbito grego, mas esta palavra, se lida a partir da tradição bíblica, adquire um significado muito mais profundo. Este mesmo termo está presente quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento e sempre como anúncio de alegria pela vinda do Messias (cfr Sof 3,14; Gl 2,21; Zc 9,9; Lam 4,21). A saudação do anjo a Maria é também um convite à alegria, a uma alegria profunda, anuncia o fim da tristeza que há no mundo diante das limitações da vida, do sofrimento, da morte, da maldade, da escuridão do mal que parece obscurecer a luz da bondade divina. É uma saudação que marca o início do Evangelho, da Boa Nova.
Mas por que Maria é convidada a alegrar-se deste modo? A resposta está na segunda parte da saudação: “o Senhor está convosco”. Também aqui para compreender bem o sentido da expressão devemos dirigir-nos ao Antigo Testamento. No Livro de Sofonias encontramos esta expressão “Alegra-te, filha de Sião... Rei de Israel é o Senhor em meio a ti... O Senhor, teu Deus, em meio a ti é um salvador poderoso” (3,14-17). Nestas palavras há uma dupla promessa feita a Israel, à filha de Sião: Deus virá como Salvador e habitará em meio ao seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exatamente esta promessa: Maria é identificada com o povo escolhido por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; nela se cumpre a esperada vinda definitiva de Deus, nela toma morada o Deus vivente.
Na saudação do anjo, Maria é chamada “cheia de graça”; em grego o termo “graça”, charis, tem a mesma raiz lingüística da palavra “alegria”. Também nesta expressão esclarece-se a fonte de alegria de Maria: a alegria provém da graça, provém, isso é, da comunhão com Deus, do ter uma conexão tão vital com Ele, de ser morada do Espírito Santo, totalmente moldada pela ação de Deus. Maria é a criatura que de modo único abriu a porta a seu Criador, colocou-se em suas mãos, sem limites. Ela vive inteiramente da e na relação com o Senhor; está em atitude de escuta, atenta a acolher os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida em uma história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o cerne da sua existência. E se submete livremente à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.
O Evangelista Lucas narra a história de Maria por meio de um fino paralelismo com a história de Abraão. Como o grande Patriarca é o pai dos crentes, que respondeu ao chamado de Deus a sair da terra onde morava, da sua segurança, para iniciar o caminho para uma terra desconhecida e possuindo somente a promessa divina, assim Maria confia com plena confiança na palavra que lhe anuncia o mensageiro de Deus e se torna modelo e mãe de todos os crentes.
Gostaria de destacar um outro aspecto importante: a abertura da alma a Deus e à sua ação na fé inclui também o elemento das trevas. A relação do ser humano com Deus não apaga a distância entre o Criador e a criatura, não elimina o que afirma o apóstolo Paulo frente à profundidade da sabedoria de Deus: “Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos” (Rm 11,33). Mas propriamente aquele que – como Maria – está aberto de modo total a Deus, vem a aceitar a vontade divina, também se é misterioso, também se sempre não corresponde ao próprio querer e é uma espada que transpassa a alma, como profeticamente dirá o velho Simeão a Maria, no momento no qual Jesus é apresentado no Templo (cfr Lc 2,35). O caminho de fé de Abraão compreende o momento de alegria pela doação do filho Isaac, mas também o momento de treva, quando precisa ir para o monte Moria para cumprir um gesto paradoxal: Deus lhe pede para sacrificar o filho que havia acabado de lhe dar. No monte o anjo lhe ordena: “Não estenda a mão contra o menino e não lhe faça nada! Agora sei que tu temes a Deus e não me recusaste o teu filho, o teu unigênito” (Gen 22, 12); a plena confiança de Abraão no Deus fiel às promessas não é menor mesmo quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de acolher. Assim é para Maria, a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa também pelas trevas da crucificação do Filho, para poder chegar à luz da Ressurreição.
Não é diferente também para o caminho de fé de cada um de nós: encontramos momentos de luz, mas encontramos também momentos no qual Deus parece ausente, o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa, àquilo que nós queremos. Mas quanto mais nos abrimos a Deus, acolhemos o dom da fé, colocamos totalmente Nele a nossa confiança – como Abraão e como Maria – tanto mais Ele nos torna capazes, com a sua presença, de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. Isso, porém, significa sair de si mesmo e dos próprios projetos, para que a Palavra de Deus seja a luz que guia os nossos pensamentos e as nossas ações.
Gostaria de concentrar-me ainda sobre um aspecto que emerge nas histórias sobre a Infância de Jesus narrada por São Lucas. Maria e José levam o filho a Jerusalém, ao Templo, para apresentá-lo e consagrá-lo ao Senhor como prescreve a lei de Moisés: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (cfr Lc 2,22-24). Este gesto da Sagrada Família adquire um sentido ainda mais profundo se o lemos à luz da ciência evangélica de Jesus aos 12 anos, depois de três dias de busca, é encontrado no Templo a discutir entre os mestres. As palavras cheias de preocupação de Maria e José: “Filho, por que nos fez isso? Teu pai e eu, angustiados, te procurávamos”, corresponde à misteriosa resposta de Jesus: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? (Lc 2,48-49). Isso é, na propriedade do Pai, na casa do Pai, como o é um filho. Maria deve renovar a fé profunda com a qual disse “sim” na Anunciação; deve aceitar que na precedência havia o Pai verdadeiro e próprio de Jesus; deve saber deixar livre aquele Filho que gerou para que siga a sua missão. E o “sim” de Maria à vontade de Deus, na obediência da fé, repete-se ao longo de toda a sua vida, até o momento mais difícil, aquele da Cruz.
Diante de tudo isso, podemos nos perguntar: como pode viver Maria este caminho ao lado do Filho com uma fé tão forte, também nas trevas, sem perder a plena confiança na ação de Deus? Há uma atitude de fundo que Maria assume diante a isso que vem na sua vida. Na Anunciação Ela permanece perturbada escutando as palavras do anjo – é o temor que o homem experimenta quando é tocado pela proximidade de Deus - , mas não é a atitude de quem tem medo diante disso que Deus pode querer. Maria reflete, interroga-se sobre o significado de tal saudação (cfr Lc 1,29). O termo grego usado no Evangelho para definir este “refletir”, "dielogizeto", refere-se à raiz da palavra “diálogo”. Isto significa que Maria entra em íntimo diálogo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas se concentra, a deixa penetrar na sua mente e no seu coração para compreender isso que o Senhor quer dela, o sentido do anúncio. Um outro aceno para a atitude interior de Maria frente à ação de Deus o encontramos sempre no Evangelho de São Lucas, no momento do nascimento de Jesus, depois da adoração dos pastores. Afirma-se que Maria “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19); em grego o termo é symballon, poderíamos dizer que Ela “tinha junto”, “colocava junto” no seu coração todos os eventos que estavam acontecendo; colocava cada elemento, cada palavra, cada fato dentro de tudo e o comparava, o conservava, reconhecendo que tudo provém da vontade de Deus. Maria não para em uma primeira compreensão superficial disso que acontece na sua vida, mas sabe olhar em profundidade, deixa-se levar pelos acontecimentos, os elabora, os discerne, e adquire aquela compreensão que somente a fé pode garantir. É a humildade profunda da fé obediente de Maria, que acolhe em si também aquilo que não compreende do agir de Deus, deixando que seja Deus a abrir a mente e o coração. “Bem aventurada aquela que acreditou no cumprimento da palavra do Senhor” (Lc 1,45), exclama a parente Isabel. É propriamente pela sua fé que todas as gerações a chamarão bem aventurada.
Queridos amigos, a solenidade do Natal do Senhor que em breve celebraremos, convida-nos a viver esta mesma humildade e obediência de fé. A glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece em uma cidade famosa, em um suntuoso palácio, mas toma morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um menino. A onipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, sempre silenciosa, da verdade e do amor. A fé nos diz, então, que o poder indefeso daquele Menino no fim vence o rumor dos poderes do mundo. (Fonte: Noticias Canção Nova)
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
A Oração - Ave Maria
Esta é com certeza
uma das orações mais populares do mundo. Os cristãos rezam a ave-maria várias
vezes todos os dias. Quem não conhece a oração do terço, onde repetimos em cada
mistério dez ave-marias, enquanto contemplamos os momentos mais marcantes da
vida de Cristo? Aprendemos esta prece no colo da mãe. Os pais ficam satisfeitos
em ver seus filhos pequenos repetindo de cor: ave, Maria, cheia de graça…
Mas qual o sentido
de cada uma das palavras desta prece que atravessou os séculos? Nesta série de
postagens, meditaremos sobre uma palavra da ave-maria. Em 2002 fizemos isso com
a oração do pai-nosso. Depois reunimos todos os artigos em um livro chamado “O
Pai Nosso, Tim-tim por Tim-tim”. Em 2003 comentamos as invocações da Ladainha
do Coração de Jesus. Também já publicamos um livro com estes artigos, pela
Edições Loyola.
Agora chegou a vez
de comentar a ave-maria. De onde viria esta primeira palavra? Foi retirada da
saudação do anjo Gabriel à Virgem Maria, naquele dia memorável em que o céu
conversou com a terra na casinha de Nazaré. O diálogo está registrado logo no
início do evangelho de Lucas (1,26). A primeira palavra que o anjo diz é “ave”, ou melhor, “haire”. É que Lucas escreveu seu evangelho em grego, língua muito
popular na época. Haire é grego. Ave é a tradução de “haire” para o latim,
outra língua utilizadas pelos povos de então. Mas o que significam estas
palavras? É uma saudação como hoje poderíamos diz: Oi, alô, Hei, Salve, Tudo
bem, Olá… Mas “Haire” literalmente significa “Alegra-te”. A primeira palavra do céu à menina de Nazaré é um
anúncio de alegria. Algumas línguas preferiram esta tradução literal para a
oração: Alegra-te Maria, o Senhor é contigo. É o caso do francês: Je vous
salue Marie…
É muito bonito
pensar que a mensagem do céu não começa com uma repreensão, com uma lição de
moral ou com uma ordem autoritária. Tudo começa com um anúncio de alegria. Esta
é a grande vontade de Deus; que a humanidade viva na paz, na justiça, na
fraternidade, na alegria.
Há um outro
detalhe muito interessante. Há pouco tempo estive em Portugal e fui convidado a
rezar um mistério do terço na capelinha das aparições em Fátima. Rezeri como
rezam todos os brasileiros: Ave Maria…, com o acento forte no a de ave. Todos
me olharam com um ar estranho. Depois alguém me questionou|: você reza ave ou
ave, com o acento no “e”. Só então fiquei sabendo que em Portugal se reza ave
Maria. Com isso se evidencia a relação entre Eva e Ave. Ou seja, o nó da
desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria (Santo Irineu, séc.
II). Rezemos com alegria…
Avé Maria, olhando
tua vida meu coração exulta de alegria. Teu sim nos mereceu o Salvador. Como
não cantar: minha alma engrandece o Senhor!!! Em teu colo de mãe quero cantar
com os milhões de irmãos e irmãs que foram gerados em teu ventre: ave Maria…mãe
de Jesus!
Cheia de graça
A Ave-Maria é uma
das orações mais conhecidas e populares do Cristianismo. É uma prece bíblica.
Na verdade, repetimos aquilo que o Anjo disse à Maria no dia da Anunciação e
está registrado no Evangelho de São Lucas, logo no capítulo 1. As duas
primeiras palavras do Anjo são verdadeiros programas de vida. A primeira, que
meditamos no mês passado, diz: “Ave”… ou “alegre-se”,
como seria uma tradução mais fiel ao texto original. A segunda palavra é: “Cheia
de graça”. Mas, esta também não é uma tradução muito fiel para a
palavra em grego utilizada por Lucas: keharitouméne. O que significa
isso? Será que é preciso falar grego para poder rezar a Ave-Maria com devoção?
Claro que não! Mas, existem verdades belíssimas que estão escondidas por detrás
de algumas palavras que um primeiro olhar não consegue ver. Experimente ler
este artigo até o final e você nunca mais rezará a Ave-Maria da mesma maneira.
A palavra grega aí de cima vem de uma outra bem mais conhecida: kharis,
que pode significar graça. E o que é a graça? Deus é graça. Quem tem Deus tem a
sua graça! Maria foi cheia da graça de Deus desde o primeiro momento de sua
existência. Por isso, a Igreja Católica professa o Dogma da Imaculada
Conceição; naquela que habitava a plenitude da graça de Deus não poderia haver
o pecado original. Os evangélicos preferem traduzir o keharitouméne
como “agraciada”, para que ninguém
imagine que o milagre acontecido no ventre de Maria pudesse ser fruto de seus
méritos pessoais. Tudo foi fruto da graça de Deus. Mas, é claro que a graça
sempre pede licença para entrar em nossa vida, como o Anjo fez com Maria em
Nazaré; para que o milagre pudesse acontecer a Virgem teve que dizer o seu sim. Esta adesão de fé à graça é
necessária para tudo em nossa vida. É como diz o velho ditado: Deus ajuda
quem madruga. Maria aprendeu a lição. E, nas Bodas de Caná deu o conselho
aos servos: “Façam tudo o que o meu
filho vos disser”. E a
ordem do Filho foi que enchessem as talhas de água. Ordem absurda! O que
faltava era vinho. Por que encher talhas de água? Eles seguiram o conselho de
Maria e a ordem de Jesus. Mais uma vez o milagre aconteceu. A água foi
transformada em vinho. Água é o nosso esforço, nossa obediência… É importante,
mas é apenas água. O vinho é o resultado do esforço humano fecundado pela
Graça de Deus. Este sim resolve nossos problemas. Sozinhos não somos
nada. Mas se apresentarmos talhas vazias, a Graça não terá o que transformar.
Por isso a graça de Deus supõe a natureza humana.
Que
alegria, nossa mãe foi cheia da graça… foi agraciada. Nela o sim de Deus e o
sim da humanidade se encontraram e o céu começou na terra. Jesus
nasceu!
O Senhor é convosco
Dei uma carona
para o Pe. Darci Dutra, velho conhecido, amigo e confrade de congregação,
estudioso da Bíblia que teve oportunidade de fazer uma especialização na Escola
Bíblica de Jerusalém. Lecionou durante quase 30 anos nos cursos de teologia
bíblica. Quando lhe disse que deveria escrever um artigo sobre esta frase da
ave-maria: “O Senhor esteja convosco”, ele me surpreendeu dizendo: “sempre
achei que a Igreja deveria modificar a tradução desta frase”. Confesso que eu
nunca havia pensado nisso. Parei um momento, refleti, rezei em voz alta a
ave-maria. Não vi nada de errado. Quantos terços eu já havia rezado utilizando
esta fórmula bíblica que aprendi como criança. Arrisquei perguntar que mudança
poderia haver em oração tão popular? Ele respondeu que o certo seria dizer: “O
Senhor está convosco”. Sabe que eu nunca tinha pensado nisso? Uma luz brilhou
em meus olhos e em
minha mente. Mas é claro. Este é o grande refrão da Bíblia. É
a mais marcante fórmula da Aliança. Não foi isso que Deus disse para Moisés no
episódio da Sarça ardente quando este lhe perguntou o seu nome. Deus respondeu:
“Eu sou aquele que estou” (Ex 3,12-14). Esta é a certeza que anima o profeta:
“O Senhor está comigo”. Se quiser verificar como esta frase aparece na Bíblia
com insistência procures os textos: Ag 2,4-5; Gn 21, 22; 26,3; 24,28; 31,3; Ex
3,12, 18,19; Dt 20,1; 31,8-23; Js 1,5.9; 3,7; Jz 6,12; Rt 2,4. O Evangelho
escrito por Mateus também tem este mesmo refrão. Logo no início Jesus é
anunciado como “Emmanuel, Deus conosco” (Mt 1,23). No mesmo livro, no último
capítulo Jesus faz uma promessa confortadora antes de voltar para o Pai:
“Estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos” (Mt 28,20).
Diante de todas estas evidências bíblicas de que nosso Deus é um Deus presente,
é um Deus Conosco, entendemos que a alegria e a graça anunciadas pelo anjo a
Maria tem uma causa: “Deus está contigo”. Por isso ela é cheia de graça. Por
isso ela pode ser chamada de “Arca da Aliança”. Nela o Espírito Santo realiza a
presença de Deus na história. Em latim rezamos Dominus
tecum. Significa exatamente o Senhor está contigo. Em grego rezamos Hó
kirios meta su. É a mesma coisa. Em francês temos o mesmo problema “Le
Seigneur est avec vous”. Acontece que nesta língua o verbo ser e estar quase se
confundem. Dizer que “o Senhor é aqui” é quase a mesma coisa que dizer que ele
“está aqui”. Mas em português o uso do verbo estar é muito claro e distinto.
Quando rezamos que “O Senhor é contigo” quase não conseguimos lembrar que estamos
fazendo uma profissão de fé na presença de Deus na História por meio do seu
espírito que agindo em Maria tornou possível a encarnação do Verbo e o
nascimento do Salvador, Jesus.
O mais curioso é que a maioria das traduções da Bíblia já corrigiram este erro.
Mas continuamos rezando a ave-maria da mesma maneira. A esta altura questionei
o Pe. Darci dizendo que poderíamos continuar rezando assim e educar o povo no
verdadeiro significado da frase, já que é difícil mudar um costume tão enraizado
no meio do povo. Ele me respondeu: “Engano sei”. A mesma coisa já aconteceu com
o pai-nosso que era “padre-nosso” e lá no final falava de dívidas e não de
ofensas. A Igreja fez a mudança e todos seguiram a nova orientação.
Não vou me atrever sugerir à CNBB que mude a letra da ave-maria, mas na oração
pessoal podemos vez por outra fazer esta experiência de rezar: “Alegra-te, Maria, o Senhor está contigo…”
Bendita sois vós
A cena é muito
conhecida. Maria, já grávida de Jesus, resolve visitar a sua prima Isabel. Os 120 quilômetros
foram feitos em clima de solidariedade com a sua parente que já estava grávida
de seis meses e poderia precisar de ajuda na hora do parto. Naquele tempo não
havia nem telefone, nem correio nem internet. Isabel certamente não tinha a
mínima idéia que receberia a visita de Maria. Qual não foi sua surpresa quando
viu a prima subindo já cansada aquele morro em direção à sua casa. No abraço os
dois ventres se encontram e pela primeira vez Jesus encontra com seu primo João
Batista. O menino se mexe de alegria no ventre de Isabel e esta fica cheia do
Espírito Santo e começa a louvar a Deus dizendo: “Bendita és tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). Bendita significa “abençoada”.
A presença de Maria é sinal da bênção de Deus para Isabel. Lembre que bênção
não é nada mais do que a Palavra de Bem que Deus pronuncia em nosso favor. Podemos
bendizer a Deus. Ou seja: Louvar! Quando louvamos a Deus na verdade elevamos
uma prece de bênção que sobe aos céus. Mas Deus também pode nos bendizer, ou
seja, dizer o bem. Cada minuto de nossa vida é um sinal da bênção de Deus. É
motivo de louvor. Mas há momentos em que a bênção de Deus transborda de maneira
mais intensa e evidente em
nossa vida. Foi isso que aconteceu naquele dia na cidade de
Ain Karin. Isabel já não era mais tão jovem. Zacarias, seu esposo estava com
sérias dificuldades para enxergar. As coisas estavam complicadas na casa de
Isabel. A chegada de Maria foi um sinal evidente da bênção de Deus para Isabel.
Apenas a sua presença já seria motivo de louvor. Mas Maria não foi sozinha. Em
seu ventre ela levava o Rei dos reis, Senhor dos senhores. Ela era naquele
momento o mais importante templo da humanidade. Em seu ventre o verbo havia se
tornado gente. Maria era um sacrário vivo. Portanto a bênção maior não era a
disponibilidade humana de Maria, mas a presença divina que trazia em seu
ventre.
Certamente a
visita continuou como muita conversa e alegria. Mas a bíblia registrou pelo
menos uma profecia de Isabel: “Bendita aquela que acreditou: o que foi dito da
parte de Deus se cumprirá” (Lc 1,45) Aqui
está a porta da bênção: acreditar! Maria acreditou, teve fé, por isso deu o
passo e disse sim! Mas sua fé não apenas retórica. É uma fé operante em
favor do irmão. Por isso ela sai com pressa para ajudar a prima. Interessante
se agora você tomar a sua bíblia e ler o magnificat que Maria canta para sua
prima. É uma coleção de salmos e pequenos versos bíblicos que mostram a atitude
correta de quem é chamado de bentido. Devemos apontar para o verdadeiro autor:
“O Senhor fez em mim maravilhas… sim, doravante todas as gerações me chamarão
de bem-aventurada” (Lc 1,46.48b). Sempre fico pensando nesta atitude humilde de
nossa mãe de reconhecer os favores, as bênção de Deus. Penso também que
alguns cristãos que tem bloqueios e resistências para elogiar Maria se excluem
da profecia: todas as gerações me chamarão de bendita. Está no Evangelho!
Portanto, quem é verdadeiramente evangélico e crente deverá rezar: Bendita sois vós entre as mulheres!
Entre as mulheres
Continuamos o
nosso desafio de comentar cada frase, cada palavra da oração da ave-maria. Já
vimos que começa com a saudação do anjo Gabriel: “Alegra-te, cheia de graça,
porque o Senhor está contigo”. E continua com a explosão de alegria de Isabel:
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).
O que poderia significar este “entre as mulheres”?
Meu amigo e confrade de congregação, Pe. Zezinho, já compôs centenas de músicas
inspiradas. É difícil dizer que é mais bonita ou mais profunda. Mas, com
certeza, uma delas ficará definitivamente marcada na memória dos cristãos. Quem
não conhece “Maria de Nazaré, Maria me cativou. Fez mais forte a minha fé e por
filho me adotou”. Pois bem, há nesta canção uma frase que pode até passar
despercebida no cantarolar da canção, mas é de um significado muito profundo: “Em cada mulher que a terra criou, um traço
de Deus Maria deixou…”. Pode até parecer meio exagerado, mas Maria é um
modelo, uma referência, um ícone do humano e, principalmente do feminino.
Toda a tradição cristã reconhece em Maria a “nova Eva”. Santo Irineu, já no
século II costumava dizer que “o nó da desobediência de Eva foi desfeito pela
obediência de Maria”. Faz algum tempo que estive em Portugal e fui convidado
para presidir a oração do terço na capela das aparições, em Fátima. Ao
terminar, uma senhora aproximou-se gentil e, num sorriso, disse com
simplicidade: - “Senhor padre, percebi que vocês brasileiros rezam ‘ave Maria’
e não ‘avé Maria’. Seria mais adequado colocar um acento no ‘avé’, para
lembrar que Maria é o contrário de ‘Eva’”. Aquilo ficou na minha cabeça. Algum
tempo depois o Papa João Paulo II lançou a carta sobre o Rosário (Rosarium
Virginis Mariae) e lá estava: “A repetição da Avé Maria no
Rosário sintoniza-nos com este encanto de Deus” (nº 33).
Maria é apresentada na Bíblia como a bendita entre todas as mulheres. O
evangelista São Mateus nos surpreende e deixa como que desconcertados. Seria de
esperar que ele colocasse na genealogia de Maria mulheres santas e famosas como
Sara, Rebeca, Lia e Raquel, esposas dos patriarcas. Ao invés disso o texto de
Mateus 1,1-16 cita entre os ascendentes de Jesus quatro pecadoras: Tamar, Raab,
Rute e Betsabé. Tamar não tinha filhos e por isso fingiu-se de prostituta para
seduzir seu sogro, Judá (Gn 38); Raab é uma prostituta famosa em Jericó (Js 2); Rute é
pagã e moabita (Rt 4,17); e Betsabé é a conhecida esposa de Urias com a
qual aconteceu o pecado de Davi que gerou Salomão. Como podemos observar, é
nesta história de pecado que Maria aparece para colaborar com seu “sim” na
salvação da humanidade. Por isso podemos dizer que ela é “bendita entre as
mulheres”. Se trazemos em nossa carne a marca do pecado das origens; trazemos a
memória de Adão e Eva; também podemos dizer que ficamos marcados pelo sim de
Maria; trazemos a memória da obediência de Jesus que nos salvou.
Bendito é o fruto do vosso ventre
Nosso pensamento
volta 2.000 anos no tempo. Quase podemos ver aquela pequena cidade de
Ain-Karin, distante 15 km
de Jerusalém e cerca de 100
Km de Nazaré. Nas encostas da montanha ficava a casa de
um casal em festa:
Isabel e Zacarias que esperavam seu primeiro filho, João
Batista. Isabel era prima de Maria e já tinha uma certa idade. Precisava de
ajuda pois se aproximavam os dias em que teria que dar à luz. Maria num gesto
bonito de solidariedade sai de Nazaré e faz a longa caminhada para servir
Isabel. No ventre de Maria já estava o menino Jesus. Que cena bonita o encontro
das duas primas. É o primeiro abraço de Jesus com seu precursor, João Batista.
O menino estremece de alegria no ventre de Isabel e ela fica cheia do Espírito
Santo e começa a rezar, louvar, dar glórias a Deus. Maria ouve sorridente, mas
em silêncio. Entre tantas preces Isabel diz em alta voz: “Bendita é tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre!” A Igreja preservou a memória
destas palavras na ave-maria. Todos os dias rezamos o mesmo louvor. Seria
interessante voltar nosso pensamento para o abraço cheio de ternura com que a
frase foi proclamada. Maria também nos visita com sua prece, sua intercessão.
Precisamos estar cheios do Espírito Santo para rezar esta prece com sinceridade
de coração.
Um pouco mais adiante Maria rompe o silêncio e faz sua prece em canção. O
evangelista São Lucas tentou recompor este canto juntando uma série de trechos
bíblicos que conhecemos como Magnificat (Lc 1, 46-55). Foi uma tarde de louvor.
Em sua oração Maria
profetiza: “Sim, doravante todas as gerações me chamarão de bendita!” Nós
fazemos parte desta geração que chama Maria de bendito. Fazemos isso toda vez
em que rezamos a ave-maria. É certo que alguns cristãos preferem se excluir
desta geração profetizada por Maria. Desta maneira se excluem desta profecia
bíblica. Excluem tudo aquilo que se refere a Maria. A isto chamamos de
minimalismo mariano. É um erro que devemos evitar.
Mas é importante dizer também que a devoção mariana não é um fim em si mesma. A própria
ave-maria não estaciona no louvor à Mãe de Deus. Aponta um pouco mais adiante
para Jesus! Maria é o sacrário onde habita o Senhor. Existem cristãos que estão
de tal forma apegados a uma devoção mariana exagerada que chegam a colocar
Maria no lugar do próprio Deus. A isto chamamos de maximalismo mariano. É um
erro condenado pela Igreja Católica. Quando recebemos o abraço de Maria sempre
ficamos cheios do Espírito Santo e sentimos a presença de Jesus. Isabel é um
bom exemplo de como deve ser a corrreta devoção mariana: simples, sábia,
serena, saudável!
Jesus
O nome de Jesus
aparece bem no meio da ave-maria. O papa João Paulo II chamou atenção sobre
este fato em sua recente carta sobre o Rosário: “O baricentro
da Avé Maria, uma espécie de charneira entre a primeira parte e a
segunda, é o nome de Jesus. Às vezes, na recitação precipitada,
perde-se tal baricentro e, com ele, também a ligação ao mistério de Jesus que
se está a contemplar. Ora, é precisamente pela acentuação dada ao nome de Jesus
e ao seu mistério que se caracteriza a recitação expressiva e frutuosa do
Rosário. Já Paulo VI recordou na Exortação apostólica Marialis cultus
(nº 46) o costume, existente nalgumas regiões, de dar realce ao nome de
Cristo acrescentando-lhe uma cláusula evocativa do mistério que se está a
meditar. É um louvável costume, sobretudo na recitação pública. Exprime de
forma intensa a fé cristológica, aplicada aos diversos momentos da vida do
Redentor. É profissão de fé e, ao mesmo tempo, um auxílio para
permanecer em meditação, permitindo dar vida à função assimiladora, contida na
repetição da Avé Maria, relativamente ao mistério de Cristo. Repetir o
nome de Jesus – o único nome do qual se pode esperar a salvação (cf. Act
4, 12) – enlaçado com o da Mãe Santíssima, e de certo modo deixando que seja
Ela própria a sugerir-no-lo, constitui um caminho de assimilação que quer
fazer-nos penetrar cada vez mais profundamente na vida de Cristo (Rosarium
Virginis Mariae, nº 33).
Fizemos questão de citar este longo trecho por ser uma observação do Santo
Padre que certamente será uma novidade para você. Desde que li estas palavras
comecei a mudar o meu jeito de rezar a ave-maria, para ressaltar o nome de
Jesus e concertar minha atenção na contemplação do mistério, já que Maria
sempre aponta para Jesus. Como seria na prática? Rezo normalmente até “e
bendito é o fruto do vosso ventre…” e então respiro antes de pronunciar este
nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, no céu, na terra e nos abismos (Fil 2,9-10) e toda língua proclame que
Jesus Cristo é o Senhor (Fil 2,11). Realmente neste nome há poder. Não devemos
pronunciá-lo de qualquer maneira. Após dizer “Jesus”, acrescento a memória do
mistério que estou contemplando. Por exemplo, se for o primeiro Mistério da
Luz, rezo assim: “Jesus, batizado no Jordão”, e vou repetindo isso em cada
ave-maria, durante todo o terço.
Este nome escolhido pelo próprio Deus (cf. Lc 1,31; Mt 1,21) em hebraico seria Yhôschuah,
ou Yeschuah, em sua forma simplificada. Ambas têm o mesmo significado: Deus
Salvador. Ao repetir o nome de Jesus pedimos que ele realize em nós o seu
significado: a nossa salvação!
Santa Maria
Parece natural
chamar Maria de santa. Mas será que entendemos exatamente o que isso significa?
Você sabe o que é ser “santo”? Banalizamos esta expressão com a multiplicação
de imagens de “santos”. Acabamos achando que a santidade é o privilégio de
algumas pessoas que recebem a honra dos altares. Maria seria a primeira de
todas as santas. Ser santo é mais do que isso. Em latim temos a palavra sanctus
que vem do particípio passivo do verbo sancire: estar separado, ser
distinto. O Templo de Jerusalém tinha o Santo dos Santos, um lugar separado onde
se oferecia o incenso a Deus. Santo, neste sentido, é ser maior que o mundo,
ultrapassar a história, transcender o tempo e o espaço, ser infinito, eterno,
imortal! Deus é Santo. É o Totalmente Outro. Só Deus é santo. Lembre do
conselho que Moisés ouviu na sarça ardente: “tira as sandálias dos teus pés,
porque este lugar é santo” (Ex 3,5).
Mas então como podemos dizer que Maria é santa? Ela não tinha todas estas
qualidades de Deus! Esta é a parte bonita da história. Deus partilha conosco a
sua santidade. O Espírito de Deus nos santifica. Ele nos configura a Jesus. Faz
de nós imagem e semelhança do próprio Deus (Gn 1,26). Somos cristiformizados.
Maria foi feita “cheia de graça” porque o Espírito a santificou com sua
presença: “O Espírito virá sobre ti e te cobrirá com sua sombra; e por isso
aquele que vai nascer será santo e será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). O
mesmo acontece com cada um de nós desde o dia do batismo, quando o Espírito nos
cobriu com sua sombra. Começou naquele dia a história da nossa santificação.
Cada dia podemos dar um passo e responder a esta graça ficando mais parecidos
com Jesus. É claro que podemos também ficar parados e simplesmente não
responder. Os santos são aqueles que escreveram esta história com sangue, suor e
lágrimas. Escreveram a santidade com gestos concretos em favor dos irmãos; com
preces e muita penitência. Paulo viveu este mistério maravilhoso. É ele quem
diz: bendito seja Deus (…) que nos escolheu antes da fundação do mundo para
sermos santos” (Ef 1,4). Pedro foi santo. Ele disse: “Fomos eleitos segundo os
desígnios de Deus Pai, pela santificação do seu Espírito” (Pd 1,2). Já no
Antigo Testamento ouvimos a exortação: “Sede santos como Deus é santo” (Lv
11,4). Jesus atualizará este pedido dizendo: “Sede perfeitos como vosso Pai do
céu é perfeito” (Mt 5,48).
Sim! Maria é santa. Ela viveu intensamente esta realidade de ser imagem e
semelhança do Amor. Dizem que os filhos se parecem com os pais. Tem um ditado
que diz: filho de peixe, peixinho é! Se somos filhos de Deus, devemos ser
imagem do Amor. Esta é a nossa identidade mais profunda e caminho de realização
plena. O interessante é que Jesus devia ser parecido com Maria no rosto e Maria
era a imagem de Jesus no coração. É o único caso na história em que a mãe se
parecia com o filho. Isto traduz o mistério de santidade que Paulo traduziu de
maneira genial: “Eu vivo, mas já não sou eu quem vivo, Cristo vive em mim” (Gal
2,20).
Mãe de Deus
Existem quatro
dogmas marianos. Os dois mais recentes são Imaculada Conceição e Assunção. Os
outros dois tem suas raízes nas páginas da Bíblia e nos debates dos teólogos
dos primeiros séculos da era cristã: Virgindade Perpétua e Maternidade Divina.
É exatamente este último dogma que proclamamos quando rezamos: Santa Maria, mãe
de Deus. Se a afirmação bíblica da virgindade de Maria tinha o propósito
cultural de afirmar que Jesus Cristo é Deus (cf. Mt 1,18-25), dizer que
ela é Mãe de Deus tem unicamente a finalidade de defender que Jesus é também
humano. Afirmar as duas coisas significa crer firmemente na verdadeira
encarnação de Jesus, assumindo a nossa carne para nos salvar. Conforme afirmava
Santo Irineu já no século 2 “somente o que foi assumido poderia ser redimido”.
Estava claro que a nossa salvação depende da verdadeira encarnação do Verbo em
Jesus Cristo pela ação do Espírito Santo no ventre de Maria. Não é possível
separar a natureza humana e divina de Jesus. Ele não era 50% Deus e 50% homem,
como alguns pareciam sugerir. Outros achavam que ele era somente Deus em uma
aparência humana. Havia mesmo que dissesse que Jesus era apenas homem, messias,
profeta, mas não poderia ser Deus. O que está em jogo é a famosa frase do
Evangelho de João: “O verbo se fez carne e armou entre nós a sua tenda” (1,14).
É no contexto destes debates para defender a nossa salvação defendendo a
verdadeira encarnação que os teólogos começam a prestar mais atenção à figura
de Maria como aquela que garantiria a verdadeira humanidade de Jesus. Os
poetas, por sua vez, entram na conversa chamando Maria de Theotokos,
ou seja, mãe de Deus. Muitos acharam o título meio exagerado. Aconteceram
muitas reuniões e debates para saber se era adequado dizer que Maria era mãe de
Deus. Finalmente no ano 431, no Concílio de Éfeso esta verdade foi solenemente
definida. Veja o texto exato do dogma: “Se alguém não confessa que Deus é
verdadeiramente o Emmanuel, e por isso a santa Virgem é mãe de Deus (pois deu à
luz carnalmente ao Verbo de Deus feito carne) seja anátema”. O Concílio de
Calcedônia iria afirmar de maneira ainda mais precisa alguns anos mais tarde
(451): “O Filho que antes dos séculos é gerado pelo Pai segundo a divindade,
nos últimos dias, do mesmo modo, por nós e por nossa salvação é gerado por
Maria Virgem e mãe de Deus, segundo a humanidade”.
Fica claro que
Maria não gerou Deus. Mas por obra do Espírito, em seu ventre foi gerado o
nosso salvador, Jesus Cristo, que assumiu toda a nossa natureza para nos
salvar. Por isso ele é 100% Deus e 100% Humano. Eu disse: ele é! Jesus no céu
continua sendo “verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, sem separação, nem
confusão” (Calcedônia). Houve um momento de “encarnação” em Nazaré. Mas nunca
existiu uma “desencarnação”, nem com a morte, nem com a ressurreição, nem com a
ascensão. Jesus voltou para o Pai levando algo de nossa carne que herdou do
corpo daquela Mulher de Nazaré.
Não tenha receio
de chamar Maria de “mãe de Deus”. Reze esta prece com a convicção de que este
título é mais do que um elogio à mãe de Jesus. É um garante da nossa salvação.
Rogai por nós pecadores
Vivemos em uma
época em que todos estão muito sensíveis à solidariedade. Você já percebeu como
esta palavrinha aparece em cartazes, propaganda dos mais diversos produtos,
comerciais de televisão, nome de iniciativas governamentais etc. O papa João
Paulo II chega a dizer que a “paz é fruto da solidariedade” (Sollicitudo Rei
Socialis nº 39). Este será também o tema da Campanha da Fraternidade – 2005:
Solidariedade e Paz.
Mas o que é que isso tem a ver com as palavras da ave-maria que meditamos este
mês? É que a intercessão é uma forma maravilhosa de solidariedade espiritual. O
“fato” é que todos estamos mais próximos do que pensamos. Estamos no mesmo
barco. Todos comemos o fruto da mesma terra, respiramos o mesmo ar. De certa
forma somos parte do mesmo corpo que é o universo. Precisamos reconhecer esta
realidade e ser um pouco mais “corporativos”. Fiquei indignado quando vi o
carro da frente jogar aqueles papéis pelo vidro sujando as ruas e poluindo o
mundo com a mais completa falta de sensibilidade ecológica. Se é verdade tudo
isso, então minhas lágrimas choram em mais alguém, os gritos dos pobles da
Sibéria de alguma forma podem ser ouvidos na Nova Guiné, os sofrimentos das
mulheres Tailandezas machucam as árabes e a indiferença ao menores de rua
de São Paulo influenciam na tristeza daquele jovem de New York. Parece poesia,
mas não é. Temos no credo até um dogma que fundamenta esta solidariedade
universal: creio na comunhão dos santos. É mais radiucal ainda. Acreditamos que
até aqueles que já nasceram definitivamente em Deus e estão na Igreja
triunfante, permanecem de alguma forma espiritual unidos a nós da Igreja
militante. Eles e nós temos algum elo com a Igreja padecente que se purifica
para a entrada no Reino definitivo. E que elo seria esse? É que todos somos
batizados e pertencemos ao mesmo Corpo Místico de Cristo. Nele temos perfeita
comunhão. Nele vivemos a perfeita solidariedade. O apóstolo Paulo já dizia
estas coisas com palavras tocantes como: “Vivendo segundo a verdade, no amor,
cresceremos sob todos os aspectos em relação à Cristo,
que é a cabeça. É dele que o corpo todo recebe coesão e harmonia, mediante toda
sorte de articulações e, assim, realiza o seu crescimento, construindo-se no
amor, graças a atuação devida de cada membro” (Efésios 4, 16).
Maria também é um membro deste corpo que vibra, torce e reza por cada um de
nós. Fui para o seminário muito cedo. Há 28 anos faço a experiência de ser um
filho distante. Mas nunca senti esta distância como uma separação total. Conversamos.
Trocamos cartas, e-mails e uma visita quando aparece uma oportunidade. Maria da
Glória faz isso na terra. mas existe uma outra maria que faz isso na glória do
céu. Ela sente de meus sentimentos. Tem sensibilidade com meus sofrimentos pois
faz parte do mesmo corpo que eu. Ela reza por mim e por você. A poeta não errou
quando fez o Brasil cantar: “Nossa Senhora, me dê a mão, cuida do meu coração,
da minha vida… cuida de mim!”
Agora e na hora da nossa morte
Eu era muito jovem
quando fui ao enterro de um ente querido. Quando estava para fechar a sepultura
o padre olhos para nós e disse com convicção:
- “Agora, irmãos, vamos rezar uma ave-maria pelo primeiro de nós que vier a
falecer”.
Todos se olharam pelo canto do olho e rezaram com voz tímida e um certo
contrangimento. Ninguém parecia querer aquela prece para si. Outro dia um pregador
perguntou “à queima roupa” no meio de uma palestra:
- “Quem quer ir para o céu…?”.
Todos levantaram o braço rapidamente. Mas ele completou:
- “Hoje!!!”
Não ficou sequer um de braço erguido. Gostamos da idéia de ir para o céu. Mas
bem que poderia ser daqui a uns 120 anos. A terra tem mil defeitos, mas diante
da morte, até que é um lugar bom pra se viver. Isto não é falta de fé. É a lei
da gravidade que nos prende a este chão e nos faz gostar da vida. Não é normal
gostar de sofrer e desejar morrer. Aliás, quem sente desejo de morrer precisa
procurar um médico, urgente.
Só temos duas certezas absolutas na vida: estamos vivos e um dia vamos morrer.
Mas ninguém sabe quando nem como. Esta certeza incerta nos incomoda e faz
pensar. Melhor do que pensar demais e perder o sono é entregar esta realidade a
Deus pelas mãos de maria. Por isso terminamos esta prece dizendo: “agora e na
hora de nossa morte”. A mãe está conosco a todo momento, especialmente os mais
difíceis.
Esta frase é também uma reafirmação da esperança que não decepciona. Na
salve-rainha rezamos: vita, ducedo et spes nostra, salve. Significa:
vida, doçura e esperança nossa, salve. Aquela que esperou Jesus nove meses nos
ensina a viver a vida como um grande “advento”. A morte não é mais do que o
nosso “natal” definitivo. Morrer é nascer para sempre. Quando a gente nasce,
começa a morrer. A vida é morrer todo dia um pouco. Quando morremos pelo irmão,
aprendemos que isto é amar. Foi isso que Jesus fez e ensinou. Quem aceita
morrer viverá. Quem se apegar a vida… morrerá por antecipação. Por isso o amor
é vida. O salário do pecado é a morte. Quando nascemos, todos fazem festa e o
recém nascido chora. Quando morremos as pessoas choram. Mas o “recém-nascido”
faz festa.
Maria entende muito bem da arte de consolar os que estão morrendo. esteve
silenciosamente ao pé da cruz de seu filho. Nem uma palavra. Apenas olhares.
Quantos que comeram o pão multiplicado, ouviram os belos sermões, viram a água
transformada em vinho, paralíticos curados, cegos, pecadores… tantos. Apenas
João e algumas marias ao pé da cruz. Mas para Jesus não importava tanta
solidão. A mãe estava lá. Colo de mãe é bom a qualquer hora e em qualquer idade. Rezar
a ave-maria é pedir colo para a Mãe de Deus, agora e na hora da nossa morte!
Amém
Ao longo de todo
este ano meditamos cada frase da ave-maria. Chegamos ao final com esta
palavrinha que é muito repetida mas nem sempre bem entendida: AMEM. Na verdade
ela é muito rica de significados. Sua origem é o verbo hebraico amén,
que significa amparar, suportar, confiar, ser verdadeiro, o que permanece
firme, verídico, seguro, eterno. Aparece muitas vezes no Antigo Testamento,
como por exemplo em 1 Reis 1,36: “Amém! Seja essa a declaração do Senhor Deus
do meu senhor, o rei!”. Como podemos ver este é o significado mais conhecido do
“amém” como confirmação de um compromisso assumido. O mesmo aparece em Jeremias
11,5: “E eu respondi: Amém, Senhor”. Um outro exemplo muito interessante
encontra-se em Deuteronômio 27,15-26. São doze versículos em que ao final
o povo sempre exclama: Amém! Um sentido um pouco diferente encontramos na
oração de Davi que está em 1 Crônicas 16,36. Aqui o significado é mais
expressão de um desejo ou esperança em que Deus irá realizar o que estamos
pedindo. No Novo Testamento a palavra “amém” aparece muitas vezes com
significado semelhante aos que encontramos no Antigo Testamento. Mas em
Apocalipse 3,14 aparece uma novidade: Amém é usada como um nome próprio
atribuído a Cristo. “Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira [...]”.
Pode ser uma alusão ao texto de Isaías 65,16 em que existe a expressão “Deus do
Amém”, no sentido de Deus da Verdade. Assim, chamar Jesus de Amém é afirmar que
ele é o verdadeiro Deus. Podemos acreditar em suas promessas, em suas palavras. Ele
é a testemunha fiel e verdadeira de Deus. Jesus utilizava a palavra Amém no
começo de afirmações importantes. A Bíblia traduz por: “em verdade em verdade
vos digo…” (João 1,51; 3,3). Aparece 25 vezes no Evangelho de João, 30 vezes no
Evangelho de Mateus, 13 vezes em Marcos, e 6 em Lucas. Nos outros livros do
Novo Testamento a palavra “Amém” aparece 70 vezes. Portanto, toda vez que
repetimos esta palavra estamos reafirmando nosso compromisso, nossa aliança com
Deus. Repetimos o “amém” do próprio Cristo. Nele nos tornamos “amém”. Isto
significa tornar-se seu seguidor, de Nazaré até a cruz; viver a sua mística;
obedecer sua palavra; viver sua mensagem de amor aos irmãos. Repetir amém
demais sem pensar no significado pode ser perigoso. É interessante quando um
pregador ao final de sua mensagem pede a adesão da assembléia: Amém? E todos
responde com convicção: Amém!!!Não foi exatamente isso que Maria fez ao final
de sua conversa com o anjo Gabriel na Anunciação? A primeira ave-maria da
história começou com uma saudação: Alegra-te, Maria, o Senhor está contigo. E
terminou com a adesão da Virgem: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim
segundo a sua promessa (cf. Lucas 1, 38). Em outras palavras: o milagre de
nossa salvação passou por uma palavra dita pelos lábios santos de Maria: AMÉM! (Fonte: Canção Nova)
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