O INFERNO


    


Considera, pecador, que o inferno é um lugar no centro da terra; uma caverna profundíssima cheia de escuridão, de tristeza e horror; é uma caverna cheia de lavaredas de fogo e de nuvens de espesso fumo.

Lá são atormentados os pecadores na companhia dos demónios; lá estão bramindo e uivando como cães danados, proferindo terríveis blasfêmias contra Deus. Lá são atormentados os pecadores com a pena de dano, isto é, por terem perdido tantos e tão grandes bens, que puderam alcançar.

Oh! quanto perderam aqueles infelizes! pois perderam a companhia amabilíssima de Jesus Cristo e de sua Mãe Santíssima; perderam também a companhia dos Anjos e dos Santos; perderam os deleites inefáveis de todos os sentidos que no Reino dos Céus logram os seus moradores; perderam a paz interior; perderam as virtudes todas e dons da graça divina; perderam a honra de serem filhos  herdeiros do mesmo Deus; perderam a vista ciara de Deus; perderam o seu ultime lim, osummo bem, para (|ue foram criados; linalnieiite, perderam a felicidade eterna, e com ela tudo perderam; só não perderam a vida para sentirem as tão grandes perdas por toda a eternidade!   

É possível, poderá exclamar o reprovado lá no inferno desesperado; é possível que por culpa minha, e vontade própria, perdi para sempre o meu Deus, o meu sumo bem! Por via de causas de sonho, por causas passageiras perder o Reino dos Céus, que era a minha eterna bem aventurança, para me sepultar para sempre, para sempre aqui no inferno!

Antes escolher eu o tormento eterno, do que a eterna gloria! Antes escolher a maldição de Deus, do que a sua benção! Antes a companhia dos demónios, do que a de Jesus Cristo, dos Santos e Anjos! E então tendo eu perfeito juízo e entendimento! Sendo eu cristão, e tantas vezes avisado e chamado por Deus, e esperando-me Deus tantos anos para que fizesse uma verdadeira penitencia!

Ai de mim!

Infeliz de mim, que fui um louco e um insensato!

De que me aproveitaram as riquezas e os prazeres do mundo?

De que me aproveitaram os regalos e os divertimentos?

De que me serviram os amigos e as amizades?

Tudo se dissipou como fumo;

Tudo desapareceu como sombra;

Tudo, finalmente, foi loucura e vaidade; pois agora me vejo com tudo perdido, e condenado.

Oh! quão grande foi a minha cegueira!...

Estimar mais uma cousa vil do mundo, do que a minha alma!

Preferir os bens terrenos aos bens eternos!

Pisar aos pés o sangue de Jesus Cristo!

Poder tão bem amar a Deus, e salvar-me assim como se salvaram tantos pecadores ainda piores do que eu!

E eu cego e louco, desprezar tudo, abusar de tudo, e agora perder tudo, e condenar-me!

Ai, infeliz de mim! quão grande foi a minha cegueira!

Ao mesmo tempo amaldiçoará o dia e a hora em que nasceu; amaldiçoará o pai que o gerou, e a mãe que o concebeu; amaldiçoará o confessor que o absolveu, sem o dever fazer, porque o enganou e foi a sua guia para o inferno; amaldiçoará o corpo de quem seguiu as paixões, e a alma por dar o consentimento; até, a fúria do demónio, até amaldiçoará a Deus e a Mãe Santíssima; se lhe fora possível até despedaçaria o mesmo Deus, tão grande será a sua raiva!..

Além disto os pecadores lá no inferno também sofrem a pena dos sentidos, isto é, também são atormentados por um fogo, o mais devorante. Os demónios, que são os ministros da justiça divina, lançarão suas garras, e atirarão os pecadores reprovados a esse poço de incêndios devoradores.

Ali cairão sepultados em camas de fogo por toda a eternidade, não respirando senão fogo, não tocando senão fogo, não sentindo senão fogo, não comendo nem bebendo senão fogo... De todo (içarão convertidos em fogo; nos olhos, nos ouvidos, na língua, na garganta, no peito, no coração, nas entranhas, nos pés, nas mãos, finalmente em tudo fogo; e então um fogo, não como este que na terra vemos, mas sim um fogo escuro, fétido, abrasador; ainda mais horroroso que o do metal derretido: é um tal fogo, que com as suas línguas ata e prende os membros dos condenados, como uma serpente com as suas roscas: é um fogo, que faz um tal ruido, como se fora uma tempestade de furiosos ventos...

Talvez alguém dirá: Ora isso nem tanto. Nem tanto!

Pois desengana-lhe; tudo isto é uma fraca pintura, é uma ligeira sombra, é um sonho, é nada (deixem-me assim dizer) em comparação da verdade; para o que lê as Sagradas Escrituras.

De duas uma, ou hás de negar a Fé que professas, ou admitir esta verdade do fogo do inferno. Se eu agora (deve considerar um pecador) não posso sofrer a luz d'um candieiro. ou uma brasa de lume, como ei de sofrer para sempre, e para sempre este fogo abrasador do inferno' Como há hilar eternamente enterrado em uma cama de fogo tão devorante?

Vem cá, ó néscio, ó louco; tu, que ainda vives no pecado, e alegre vais caminhando para o fogo eterno, dize-me:

O  que há de ser de ti, quando te vires lá no fogo do inferno?

Quem te há de valer?

Por ventura tens algum remédio para apagar esse fogo?

Ou podes duvidar das Sagradas Escrituras?

Ou cuidas tu que podes andar a fazer pecados, e sem emenda nem penitencia escapar do fogo do inferno?

Se assim o pensas, oh! quanto vives enganado!...

Além d'isto os pecadores no inferno padecem lodos os tormentos, e todos eternos, todos em sumo grau, e sem esperança de alivio.

- Lá no inferno cada sentido tem seu próprio tormento;

- esses olhos lascivos e desonestos lá são atormentados com a visão horrível dos demónios:

- esses ouvidos, que se empregaram em ouvir as murmurações, as palavras torpes e desonestas, lá são atormentados com perpetuas maldições, blasfêmias e alaridos:

- o gosto, que se regalava com manjares proibidos, lá é atormentado da sede e da fome: - essa língua maldita, que rogava pragas, que fazia juras, que proferia maldições, e que murmurava, lá é atormentada com o fel de dragões.

Também são atormentados os pecadores lá no inferno com dores presentes, com a recordação dos prazeres passados, com a representação dos males futuros, e com grandes iras e raivas contra o mesmo e raivas para os demónios; iras e raivas para os outros condenados seus companheiros;

finalmente, por toda a eternidade se estarão despedaçando, coriando, e mordendo uns aos outros...

Homem desonesto. desengana-te; lá hás de encontrar no inferno, talvez, essa criatura desgraçada com quem ofendesse a Deus; se lá estiver, por se não ter convertido, ela será um dos teus tormentos eternos; ainda há de atormentar-te mais que todos os demónios; por toda a eternidade vos estareis mordendo e despedaçando um ao outro... Os vossos amores profanos se converterão em iras e raivas para sempre, em quanto Deus for Deus, e o inferno durar... Tu agora, pecador, pouco te imporia salvar a tua alma; agora pouco caso fazes de perder a eterna bem aventurança; porém quando vires entrar lá no Reino dos Céus a lodos os escolhidos, e tu fores lançado no fogo do inferno, abrirás então os olhos, e conhecerás perfeitamente a lua grande loucura. Por isso se queres salvar, pecador, cuida já em reformar a tua vida, e fazer uma verdadeira penitencia; vai-te entregando aos jejuns, ás disciplinas, aos cilícios e ás mortificações; não digas que te doem, porque mais ha de doer o fogo do inferno por toda a eternidade; não digas que te custa, porque mais ha de custar um só momento no meio d'esse fogo devorador; não digas lambem que és fraco, que não podes, porque tu bem valente tens sido para ofender a Deus; paga, pois, porque deves; paga agora com pouco o que depois não podes pagar ainda com tormentos eternos; cuida pois já em converter-te para Deus, para o que recorre a Maria Santíssima, dizendo:

O minha Mãe, ajudai-me Senhora; eu não sabia que coisa era o inferno; estava cego de todo; vivia nas maiores misérias; porém agora estou desenganado, estou resolvido, e quero salvar-me, minha Mãe: antes quero morrer, antes cair no inferno, que tornar a ofender o meu Deus. Ajudai-me pois. Senhora, e não permites que eu chegue a odiar-vos, e a maldizer-vos para sempre no inferno; salvai-me, esperança minha, salvai-me do inferno; e antes d'isso livrai-me de todo o pecado, que só ele me pôde condenar ao inferno; de Vós eu espero as graças que me são necessárias para fazer uma boa confissão, emendar de toda a culpa, e dar-me todo a Deus.

Meditação sobre o inferno:
Fonte: flhs 78 a 84 do Livro Missão Abreviada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ano A - Mateus 9,9-13

  S ÃO MATEUS APÓSTOLO E EVANGELISTA Festa – Correspondência de São Mateus à chamada do Senhor. A nossa correspondência. – A alegria da voca...