OS
SANTOS TÊM uma habilidade especial para viver e enxergar a vida e suas
circunstâncias –, sejam coisas boas e momentos favoráveis, que nos sucedem a
todos, ou os problemas e dificuldades que igualmente cada um de nós precisa
enfrentar –, enquanto ardem de amor a Deus seguindo sua trilha espiritual.
Assim, pelo contagiante exemplo de vida, levam outros com eles.
Talvez
eu e você não tenhamos recebido as mesmas dádivas e carismas de um São
Francisco de Assis, um Santo Antônio de Pádua ou um Padre Pio de Pietrelcina, e
aqui estamos vivendo nossas vidas comuns, abastecendo nossos carros, comendo
sanduíches quando o trabalho não nos deixa tempo para almoçar como deveríamos,
checando nossa caixa de e-mails...
Mas
podemos fazer tudo isso em espírito de oração, cultivando em nossos corações
uma reverência profunda e constante pelo Criador, um amor incondicional ao
nosso Pai do Céu. Como é que você procura cumprir o primeiro Mandamento em sua
vida, amando Jesus sobre todas as coisas, mesmo se imperfeitamente?
Mas, oh! A rotina, as canseiras, as pequenas e grandes decepções desta vida,
que vão se acumulando e roubando a nossa força vital... Seria possível elevar o
nível de santidade em nossas vidas, mesmo na rotina do dia-a-dia, muitas vezes
maçante e sem graça, para nos tornarmos católicos sempre cheios de vida e
alegria, como devemos ser, dando exemplo ao nosso próximo?
Estou sempre atento a pequenos truques, que são formas criativas para maximizar
o esforço nessa busca por disposição na santidade. Recentemente passei uma
semana visitando meu pai de 92 anos. Isso me inspirou, ver o seu exemplo de
vida até o final do seu percurso nesta Terra. Quando fomos à Missa, apesar de
usar bengala, ele ainda genufletia todas as vezes que passava diante do
tabernáculo, mesmo ficando numa posição muito desconfortável, precisando
segurar em um banco com a mão esquerda e a bengala com a direita.
No início dos dias, acompanhei-o na caminhada que é o exercício físico que
ainda pode fazer. Duas ou três voltas em torno de um parque próximo (duas ou
três depende da intensidade do sol), enquanto reza o Terço do Rosário,
meditando os Mistérios do dia. Faz questão de enumerar com toda clareza as
intenções por que está oferecendo suas orações, e mais questão ainda de
declarar que, em primeiro lugar, o oferecimento é para a glória de Nosso
Senhor, e depois em honra de Nossa Senhora. Sua caminhada dura até o fim da
récita. Algo próximo de 1 km, talvez um pouco menos, em cerca de 30 minutos.
Coisas assim, simples, podem nos ajudar muito a manter viva a fé – e a boa
disposição que ela possibilita – no quotidiano. A seguir, elenquei uma lista
daquilo que fui aprendendo em minha experiência pessoal e que me ajuda a ser um
cristão católico cada vez melhor. Poderá ser útil também a você, dileto leitor.
1. Cultive pequenos hábitos santos
Eu li muitas vidas dos santos que me inspiram, mas suas vidas não se parecem
com a minha. Algumas destas, honestamente, já me assustaram, pela dureza e
crueza ou mesmo crueldade com que o mundo trata aqueles que pertencem à
Verdade, que é Cristo. Mesmo Sta. Teresa de Lisieux, ou Sta. Teresinha, com a
sua bela "Pequena Via", era uma freira clausurada. Recolher-se a um
claustro pode até parecer atraente, às vezes, em determinados momentos em que
sentimos que precisamos nos afastar do mundo com todos os seus problemas e
incompreensões, mas não é um caminho para todos. Minha esposa e filhos, por
exemplo tremem só de pensar em enfrentarem tamanha solidão. Além de tudo, eles
precisam de mim –, e da minha presença –, em tempo integral.
Entretanto, ao longo dos anos, desenvolvi modos de superar os obstáculos à
santidade que encontro na simplicidade, na monotonia e nas tribulações desta
vida. Aqui estão alguns dos meus favoritos.
A citada "Pequena Via" de Sta. Teresinha revela-se tão possível e
útil fora de um convento quanto dentro de um deles. Pequenas vias podem se
tornar simples hábitos para a santidade, como deixar alguém avançar à sua
frente no trânsito, deixar o último pedaço de pizza para outra pessoa ou pegar
o lixo de outra pessoa.
2. Reze por pura gratidão (não só
para pedir coisas)
Não há problema em levar nossas súplicas e necessidades a Deus; pelo contrário,
devemos fazê-lo. Mas é preciso saber desapegar-se das meras necessidades desta
vida, e simplesmente agradecer por todo o bem que nos é concedido, todos os
dias, começando por nossa própria existência, a saúde que temos, as capacidades
que recebemos, as pessoas que amamos, e também pelos problemas, obstáculos e
dificuldades, que nos fazem aprender e crescer espiritualmente, assim como
pelas pessoas que não nos amam, porque por meio delas recebemos preciosas
lições.
A
gratidão leva à humildade, faz crescer na perfeita caridade e nos aproxima da
aceitação da Vontade de Deus. Poucos católicos compreendem que o conjunto dos
Mistérios tradicionais do Rosário são mais como uma indicação ou sugestão da
Igreja do que uma obrigação, à qual precisamos necessariamente nos engessar.
Podemos variar, às vezes, por exemplo, meditando em algo por que somos profundamente
gratos a Deus a cada dezena do Terço. É uma prática simples e fácil, mas
transformadora.
3.
Reze constantemente
"Orai sem cessar", disse o Apóstolo (1Ts 5,17). Em nossas
multitarefas diárias, podemos fazer uso das tecnologias modernas para nos
auxiliar a atender essa exortação. Podemos gravar nossas próprias mensagens,
orações e salmos favoritos, por exemplo, em qualquer aparelho celular, e
ouvi-las usando fone de ouvido enquanto cozinhamos, dobramos roupas, aguardamos
na sala de espera do dentista ou cumprimos quaisquer tarefas.
Usar breves orações memorizadas ou rezar continuamente um permanente Rosário
mental, em todos os enfadonhos atrasos desta vida, pode tornar-se um hábito que
vai produzir belos e surpreendentes frutos. Os longos períodos de tempo perdido
nos engarrafamentos deixarão de ser momentos de chateação para se tornarem
sagrados momentos de edificação espiritual.
4. Peça o auxílio dos santos
Descubra o(a) santo(a) de cada dia, todos os dias, e peça-lhe suas orações,
ainda que com uma brevíssima invocação. Eles podem ajudar muito mais do que
você pode imaginar.
5. Não negligencie o seu anjo da
guarda
“Não desprezeis os pequeninos: Eu vos afirmo que os seus anjos nos Céus vêem
incessantemente a Face de meu Pai”, disse o Cristo (Mt 18,10). Fale sempre com
o seu agente celestial especial – seu Anjo da guarda; faça-o todos os dias e
procure estabelecer com ele um relacionamento estreito, contínuo e de
intimidade. Como negligenciar tão grande amigo que recebemos de nosso Pai
Celeste?
6.
Torne-se um peregrino
Um santo hábito de nossos antepassados que vem sendo esquecido e desprezado em
nossos tempos, pois os homens modernos só pensam em uma única coisa e tem uma
única meta de vida: dinheiro e sucesso material.
Se for difícil viajar, escolha realizar uma peregrinação para um santuário ou
catedral próxima. Brasileiros, sejamos mais criativos! Há muito mais lugares
sagrados em nosso país, os quais podemos visitar em viagens de santa
peregrinação, além de Aparecida! Em uma de nossas próximas edições listaremos
algumas sugestões.
Acrescentar ás suas orações elementos como o caminhar, tomar um ônibus ou
partir numa longa caminhada, um jejum equilibrado e saudável, além do próprio
ato de se viajar a um lugar diferente e distante da rotina estressante do
dia-a-dia – todas estas coisas podem elevar uma experiência simples ao nível de
uma verdadeira peregrinação sagrada. Essa ideia consta do Manual do "Catholic
Hipster": redescobrindo lugares onde viveram ou por onde passaram os
santos, rezando suas orações esquecidas e revivendo certas práticas que hoje
até nos podem parecer estranhas, chegamo-nos mais perto de Deus.
7. Um leve jejum, regularmente
Há um pequeno sacrifício escondido, que podemos fazer a cada refeição, como não
comer a carne, as deliciosas batatas fritas ou algo de que se goste muito. O
jejum é um sacrifício poderoso, então por que não praticá-lo com mais
frequência? Não precisa ser feito todos os dias, mas que tal escolher uma ou
algumas refeições específicas ou um certo dia da semana (além da sexta-feira)
para maneirar um pouco?
8. Não coma carne às sextas-feiras!
Esta não precisaria aparecer aqui, já que se trata de uma obrigação de todo
fiel católico. Observando a simples realidade, porém, vemos que apenas uma
minoria observa este preceito. Apenas por isso resolvemos lembrar a regra: a
legislação atual da Igreja continua determinando a abstenção de carne às
sextas-feiras. Lembrando que o peixe nunca chegou a entrar na lista da
abstinência por razões diversas: por ser um animal de sangue frio; porque sua
presença era irrelevante nos banquetes medievais; porque é um alimento símbolo
do próprio Cristo e do cristianismo. Já quanto ao frango, há alguma
controvérsia. Ainda que seja um animal de carne branca, é de sangue quente,
assim como o boi. Por isso, o seu consumo é geralmente proibido, com exceções
específicas, como no caso de localidades paupérrimas onde o consumo do peixe se
torna impossível devido ao custo mais elevado.
9. Ajuste o alarme para lembrá-lo(a),
diariamente, da hora da Divina Misericórdia
Rezar o Terço da Divina Misericórdia (que é bastante breve) todos os dias às 15
horas seria uma belíssima devoção e prática de piedade na busca da perfeição
cristã; mas, se não for possível, dizer ao menos uma breve oração ou
jaculatório todos os dias neste horário, como: "Nós vos adoramos, Senhor
Jesus, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo",
ou "Meu Deus e meu Senhor, que com tantas dores e angústias nos remistes,
perdoai-nos, que somos pecadores".
Além disso, se não for possível rezar o Terço da Divina Misericórdia
diariamente, é mais que recomendável rezá-lo ao menos todas as sextas-feiras às
15 horas, e melhor ainda seria fazê-lo em uma igreja, diante do Sacrário.
10. Reze sempre e continuamente pelas
pessoas que o irritam ou lhe fazem algum mal
Isto, além de ser um Mandamento de Nosso Senhor e de santificá-lo, ainda lhe
fará uma pessoa mais feliz nesta vida, pois é como um santo remédio que cura
mágoas e tristezas.
"Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos
torneis filhos do vosso Pai que está nos Céus" (Mt 5,44-45).
11. Não tenha medo de embasar suas
opiniões e convicções na sua fé
Não
caia na cilada do "Estado laico" que querem nos impor à força. Viver
em um Estado laico não implica que precisemos renunciar à nossa fé e nem que
tenhamos que nos comportar como ateus. Nas reuniões de pais e mestres ou do
trabalho, nas conversas familiares, com colegas de serviço, nos encontros
sociais e em todas as oportunidades, não tema demonstrar que você crê em Deus e
pauta sua vida pela sua fé – e o quanto isto é bom e gratificante na sua vida e
porquê. Mais do que isso, participe de petições públicas que combatam as ações
anticristãs que nos ameaçam e contrariam nossos princípios sagrados no mundo de
hoje. O site "Citizem Go" é um excelente ferramenta por meio da qual
podemos manifestar a nossa vontade aos políticos e instituições.
12. Ajoelhe-se durante as orações
Evidentemente, nem sempre é possível, especialmente para os que cultivam o
hábito de rezar continuamente, que citamos no item "3" deste artigo.
Mas não reze desleixadamente; sempre que for possível, naqueles momentos em que
realmente fizer uma pausa para rezar, ajoelhe-se diante de nosso Criador e
Doador de todos os bens. Neste caso, isto será um gesto de adoração
13. Não receie identificar-se como
cristão católico
Você pode, por exemplo, colocar uma etiqueta católica no seu carro. Isto não
deixa de ser um modo de evangelizar até mesmo nos estacionamentos da vida,
enquanto toma um rápido café espresso na sua cafeteria favorita.
14. Aproveite as indulgências
Aqui está um espécie de atalho para o Céu. As indulgências eliminam as penas
temporais e são parte do ensino infalível da Igreja. As normas relativas às
indulgências são relativamente complexas, mas rezando todos os dias pela manhã
uma fórmula brevíssima, podemos garantir ganhar boa parte delas. É esta:
"Tenho a intenção e o desejo de ganhar, hoje, todas as indulgências de que
possa ser capaz, e as ofereço em satisfação dos meus pecados e em sufrágio
pelas almas do Purgatório, especialmente as mais abandonadas. Amém!"
15. Distribua a Graça, que Deus lhe
concede abundantemente, em público, o tempo
todo e em todas as ocasiões
Coisas
simples como incluir as intenções de todos os que conhecemos, dos que nos pedem
e dos que não pedem, mesmo aquelas que esquecemos, é uma forma de compartilhar
a Graça divina. Outra forma é dizer a todos, sempre que possível, coisas como
"Deus o abençoe", ou "Deus o acompanhe", "Deus o
guarde" ou "Vá com Deus", inclusive ao zelador do prédio, à
recepcionista do médico, ao caixa do banco, ao funcionário do metrô ou cobrador
do ônibus, ao balconista da farmácia... São formas simples de testemunhar a sua
fé e trabalhar pelo Reino de Deus, para que se mantenha sempre vivo nas mentes
dos que lhe cercam, distribuindo e "fazendo circular" a Graça.
16. Nunca deixe de fazer o Sinal da
Cruz ao passar diante de uma igreja ou entrar num cemitério
Já percebeu que muitos católicos não o fazem mais?
17. Quando alguém compartilha um
problema com você, reaja como católico!
Além de aconselhar e encorajar, diga que vai rezar por ele, e faça-o realmente.
Ofereça e, se possível e se não for constranger essa pessoa, reze com ela ali
mesmo, na mesma hora e local.
† † †
Aí foi a lista dos que são alguns pequenos truques que eu tento usar na minha
vida, embora eu ainda falhe muito e continue trabalhando no meu auto controle,
no desapego das coisas deste mundo e amor cada vez mais incondicional a Deus
antes de todas as coisas. Eu realmente preciso
fazer
tudo isso um pouco mais e sem falhas, mas posso dizer, de boa consciência, que
todos esses são bons e salutares objetivos. E você leitor, tem algum pequeno
truque em sua vida de fé e piedade que gostaria de compartilhar com os seus
irmãos em Cristo? Se quiser compartilhar, nos faria muito felizes. Você pode
enviar para: ofielcatolico@gmail.com
Baseado em artigo de Patti Armstrong para o National Catholic Register
Publicado na revista O FIEL CATÓLICO n.23